São Paulo, quinta-feira, 17 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA

Palocci atribui a Lula responsabilidade por política econômica, reitera que não é "insubstituível" e distribui elogios a ex-presidentes

Só fico com o projeto atual, diz ministro

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Como havia feito na entrevista coletiva concedida em agosto, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) aproveitou o depoimento de ontem no Senado para dizer que não é "insubstituível" e atribuir ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a responsabilidade pela política econômica. Sinalizou, porém, que não fica no governo se essa política mudar.
"Muitas medidas da política econômica são políticas: o presidente tem de adotar. E, sem o concurso do presidente, elas não têm o mínimo de eficácia, o mínimo de sucesso", disse. "Estou preparado para realizar esta política. Não acho que devemos mudá-la. Não há sinais do presidente de que ela deve mudar."
Em outro momento, Palocci deixou claro que sua permanência no governo está associada à preservação dos rumos adotados na economia: "É muito importante para que o governo possa conduzir sua política econômica que haja coesão e um rumo muito claro em relação a essa condução. A minha força é para realizar este projeto, e não outro."
O ministro utilizou a primeira metade de sua exposição inicial de 50 minutos para, como de praxe, louvar os resultados econômicos obtidos nos últimos anos: superávits comerciais recordes, inflação sob controle, a primeira redução da dívida pública em dez anos e o maior crescimento econômico no mesmo período.
Ao desenvolver a tese de que "ninguém é insubstituível", Palocci disse que a estabilidade e o crescimento são conquista de políticas e instituições, não de pessoas. "Não somos super-homens, heróis." E aproveitou para distribuir afagos à oposição.
O ministro dividiu com os governos anteriores, em especial o de Fernando Henrique Cardoso, os bons resultados econômicos que listou. "Os ganhos da política econômica são resultado de uma década de esforço", disse.
Da gestão tucano-pefelista, citou como méritos a adoção do câmbio flutuante, que permitiu a ampliação das exportações, da política de metas de inflação e a aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal. Itamar Franco foi lembrado em razão do Plano Real. José Sarney foi elogiado pela criação da Secretaria do Tesouro Nacional e a extinção da conta pela qual o governo emitia moeda por meio do Banco do Brasil.
Lula mereceu atenção especial. Palocci abordou indiretamente as críticas ao governo por ter abandonado o antigo ideário petista em favor da ortodoxia liberal até hoje rejeitada pelo PT. "Refiro-me aqui à coragem do presidente Lula, de ter contrariado inclusive orientações políticas anteriores, de ter se sujeitado a críticas importantes, para fazer aquilo que precisava ser feito."
Como oposição, o PT foi contra o Plano Real, a política de metas de inflação, as metas de superávit primário e questionou na Justiça a Lei de Responsabilidade Fiscal. Para Palocci, a conversão do PT às políticas que atacava valeu a pena. "Estamos entrando [...] em um dos mais importantes e longos ciclos de crescimento que a economia brasileira experimentou nas últimas décadas."


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