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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ FIM DA LINHA
Comissão quer tentar prorrogação hoje; para Mesa do Senado, prazo expirou ontem
CPI do Mensalão termina sem relatório, mas busca sobrevida
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Terminou ontem em clima de
indefinição a CPI do Mensalão,
uma das três que investigam fatos
relacionados à atual crise política.
A Secretaria Geral da Mesa do Senado diz que a CPI está extinta
desde a meia-noite de ontem. Já a
direção da comissão afirma que
ainda vai funcionar hoje e tentar
uma prorrogação.
Após muita confusão e bate-boca, a sessão foi suspensa sem a leitura do relatório do deputado
Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG).
O presidente da comissão, senador Amir Lando (PMDB-RO),
anunciou que reabrirá a reunião
hoje às 10h. Ele tomou a decisão
sob o argumento de que o prazo
de encerramento da CPI, na verdade, seria hoje e não ontem, como entendem os órgãos técnicos
do Senado.
Segundo ele, o primeiro dia de
funcionamento da CPI tem de ser
contado 24 horas após a sua instalação. Nesse sentido, a CPI teria
começado oficialmente em 21 de
julho e, portanto, teria de ser encerrada em 17 de novembro (após
120 dias de funcionamento).
"Quem decide são os integrantes da Mesa e não apenas a Secretaria isoladamente", disse Lando.
O deputado Fernando Ferro (PT-PE) afirmou que iria recorrer da
decisão.
Com mais um possível dia de
trabalho, a oposição tentará reunir as 171 assinaturas de deputados necessárias para prorrogação
da CPI por, pelo menos, mais 30
dias. Ontem, a deputada Zulaiê
Cobra (PSDB-SP) havia reunido
137 assinaturas.
O senador Eduardo Suplicy
(PT-SP) ficou de tentar convencer
a bancada petista a assinar o requerimento. Durante o dia de ontem, os governistas defendiam a
prorrogação por apenas 10 dias.
Briga por assinaturas
Lando chegou a ir pessoalmente
ao plenário da Câmara para convencer os deputados a assinarem
a prorrogação."Se terminar desse
jeito, não dá nem para chamar de
pizza. É um aborto, um aborto cirúrgico", disse ele.
PSDB e PFL trabalharam a favor, mas a bancada do governo
boicotou. Enquanto Zulaiê Cobra
coletava assinaturas para a prorrogação por mais 30 dias, José Rocha (PFL-BA) tentava conquistar
o apoio para a extensão dos trabalhos por mais 120 dias.
"Estou ficando cansada. O PT
não assina. Está sendo um trabalho perdido", disse a deputada tucana, por volta das 17h de ontem,
quando tinha 66 assinaturas.
Do lado do governo, o deputado
Odair Cunha (PT-MG) ficou responsável por colher assinaturas,
mas para apresentá-las apenas
sob a condição de que o relatório
de Abi-Ackel fosse lido.
A Folha apurou que a bancada
do PT esteve dividida sobre a
prorrogação. Enquanto integrantes petistas da comissão pediam
que houvesse uma extensão dos
trabalhos por mais 30 dias, deputados envolvidos nas denúncias
do "mensalão" defendiam o fim
da CPI. Seis deputados petistas
enfrentam processo de cassação
no Conselho de Ética.
No PSDB, também não havia
posição unânime sobre o assunto.
Vice-líder da bancada tucana, o
deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) argumentou ser contra a prorrogação. "Essa CPI foi criada para
apurar a compra de votos na reeleição. O fim da CPI é a absolvição
do presidente Fernando Henrique Cardoso", disse Paes.
O vice-presidente da CPI do
Mensalão, deputado Paulo Baltazar (PSB-RJ), criticou duramente
o possível encerramento dos trabalhos da comissão. "É ridículo
terminar desse jeito. Teríamos de
investigar muita coisa ainda",
afirmou Baltazar.
Relatório e pizza
O deputado Ibrahim Abi-Ackel
insistiu ontem em não adiantar os
detalhes do relatório antes de fazer sua leitura no plenário da CPI
do Mensalão. "Não posso trair a
confiança dos membros da CPI",
disse. Ele adiantou, porém, que
não haverá uma nova lista de deputados cassáveis. "Essa etapa foi
encerrada", disse.
O congressista ratificou também as declarações feitas anteontem de que não foi comprovada a
tese do "mensalão"-repasses de
recursos mensais a integrantes do
Congresso. Ele também voltou a
dizer que não deverá pedir o indiciamento de nenhum dos envolvidos no esquema do "mensalão".
Abi-Ackel demonstrou irritação com a possibilidade de o relatório deixar de ser apreciado. "É
como se a investigação não tivesse
existido. Vira tudo pizza", disse o
deputado.
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