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QUESTÃO AGRÁRIA
Portaria do ministro Raul Jungmann (Política Fundiária) atinge áreas sob suspeita de grilagem
Incra cancela cadastro de 3.065 imóveis
ABNOR GONDIM
da Sucursal de Brasília
VERA MAGALHÃES
Coordenadora de Política da Sucursal de Brasília
O ministro Raul Jungmann
(Política Fundiária) divulgou ontem portaria cancelando o cadastro no Incra de 93,6 milhões de
hectares que teriam sido grilados,
com títulos de propriedade fraudulentos. A área corresponde a
11% do território nacional ou a
3,8 vezes o Estado de São Paulo.
Pela portaria, os pretensos proprietários de 3.065 imóveis atingidos pela medida terão 120 dias
para comprovar a legalidade dos
títulos. Do contrário, as terras poderão ser transferidas para o patrimônio da União e dos Estados
por meio de ação judicial.
Segundo o ministro, o efeito
imediato da medida é impedir a
venda dos imóveis ou a oferta das
supostas propriedades como garantia para a obtenção de empréstimos bancários ou financiamentos públicos.
Essas transações não podem ser
feitas sem o documento do registro do imóvel no cadastro de terras do Incra, órgão executor da
política de reforma agrária.
"Trata-se do mais duro golpe já
desferido contra o latifúndio",
disse Jungmann no lançamento
do "Livro Branco sobre a Grilagem de Terras no Brasil".
O livro foi resultado de pesquisa
feita pelo Incra nos últimos três
anos com base em imagens de satélite sobre as propriedades rurais
com áreas superiores a 100 mil
hectares. A partir das imagens, os
registros das propriedades foram
checados nos cartórios responsáveis pela emissão dos títulos. As
informações foram cruzadas com
cadastros do patrimônio da
União e da Receita Federal.
Mais da metade da área dos títulos cancelados está nos Estados
de Mato Grosso (22 milhões de
hectares), do Pará (21 milhões de
hectares) e do Amazonas (13 milhões de hectares). Em alguns casos, as áreas nem sequer existem,
mas foram usadas como garantia
de empréstimos bancários.
O Incra requereu a anulação
dos títulos na Justiça de 24 Estados em que as fraudes foram
apontadas. Ações judiciais tentarão anular títulos de terra que incidam sobre áreas federais. Os
governos estaduais devem adotar
medidas semelhantes.
As terras retomadas poderão
servir para o assentamento de
sem-terra ou para a criação de
unidades de preservação ambiental. Jungmann disse que o governo tem estoque de imóveis para
atender os sem-terra. Além disso,
segundo ele, "a grande demanda
da reforma agrária, hoje, não é
por terras, mas por auxílio técnico e acesso a crédito".
Cartórios
Jungmann irá entregar ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, a relação de mais
de 50 cartórios supostamente envolvidos para que os funcionários
responsáveis pelas fraudes sejam
processados com os falsos proprietários.
"Existe uma anarquia no registro de terras no Brasil. Estamos
acabando com a fraude e com a
malandragem", disse Jungmann
em conversa com jornalistas.
Para manter os imóveis, os pretensos proprietários terão de
apresentar ao Incra documentos
que apontem quando e de que
forma a área foi transferida do domínio público para o particular e
todas as sucessivas transferências
de propriedade.
Terão de apresentar também
atestados de órgãos federais e estaduais sobre a regularidade do título de propriedade e quanto à
inexistência de infração ambiental no imóvel. O proprietário precisa de atestado da Funai para
provar que a propriedade não incide sobre área indígena.
Clique aqui para ver a tabela com as principais áreas de grilagem divulgada pelo Incra.
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