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FUNCIONALISMO
Em decisão polêmica, tribunal autoriza incorporação de gratificações a salários de servidores federais em cargos de confiança
Decisão do TCU pode ter impacto de R$ 2 bi
SILVANA DE FREITAS
RUBENS VALENTE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma polêmica decisão do TCU
(Tribunal de Contas da União)
abriu espaço para o pagamento
de mais de R$ 2 bilhões em vantagens salariais para servidores que
ocupam cargos em comissão, segundo estimativa do Ministério
Público que atua no tribunal.
A decisão, tomada na última
terça-feira e que serve como
orientação aos órgãos públicos,
foi duramente atacada pelo ministro-revisor do processo, Walton Alencar Rodrigues. "A adoção do entendimento do relator,
que considero absolutamente ilegal, causará imenso impacto orçamentário nos gastos públicos com
pessoal", escreveu o ministro, ao
contestar o parecer do relator,
Lincoln Magalhães da Rocha.
Por quatro votos a três, os ministros do TCU autorizaram a incorporação de gratificações a salários de servidores da gestão federal que ocupavam cargo de
confiança -direção, chefia ou assessoramento- entre janeiro de
1998 e setembro de 2001.
Em um exemplo hipotético, um
consultor legislativo da Câmara
que tenha ocupado cargo de confiança entre 1998 e 2001 e receba
R$ 16 mil passará a ter salário em
torno de R$ 20 mil mensais e ganhará uma bolada de mais de R$ 200 mil de parcelas atrasadas.
Sindicatos de servidores haviam
recorrido contra uma decisão anterior do tribunal que vedara a incorporação. As entidades alegam
que uma medida provisória de
2001 revalidou a incorporação,
extinta em 1998 por outra MP.
Impacto
O procurador-geral no TCU,
Lucas Furtado, contestou no tribunal a legalidade das incorporações, mas foi derrotado. Os R$ 2
bilhões estimados pelo Ministério
Público referem-se ao pagamento
das parcelas atrasadas dessa gratificação ao longo dos 45 meses.
O inteiro impacto da decisão na
folha de pagamento do funcionalismo da União ainda é desconhecido. Conforme estudo do Ministério do Planejamento a pedido
do procurador-geral no TCU, só o
Executivo gastará pelo menos
R$ 600 milhões com o pagamento
dos atrasados. Para Furtado, porém, o valor está subestimado.
A decisão do TCU representa o
estopim de uma nova farra salarial, principalmente nos Poderes
Legislativo e Judiciário, cujos gastos estão menos sujeitos ao controle da área econômica.
O governo ainda pode tentar
derrubar a medida no Supremo
Tribunal Federal com um recurso
da Advocacia Geral da União.
O pronunciamento do TCU estava sendo aguardado por tribunais que já tinham determinado a
incorporação, mas não tinham
iniciado o pagamento, e por outros órgãos, como a Câmara, que
queriam aval para conceder o benefício a seus assessores. O Ministério Público da União também
tem interesse nela.
A polêmica é em torno da interpretação de leis e medidas provisórias que tratam do fim da incorporação de gratificações chamadas "quintos" e supostas brechas
criadas pela legislação. Até 1997, o
servidor em cargo de confiança
podia incorporar a seu salário
20% da gratificação que recebia
por exercê-la. Eles conseguiram
prorrogar essas incorporações até
1998 e agora lutam para estendê-las a 2001. Cabe aos tribunais e ao
TCU interpretar a legislação.
Além da recente decisão do
TCU, tramita no Congresso um
projeto de lei de aumento salarial
do Judiciário que beneficia principalmente os comissionados e que
terá um impacto de R$ 4,6 bilhões
se concedido de uma só vez.
É prática comum nos tribunais
a nomeação de amigos e parentes
para cargos de confiança. Os tribunais têm até 13 de fevereiro para cumprir resolução do Conselho Nacional de Justiça que proibiu o nepotismo no Judiciário.
Batalha
A batalha dos assessores pela incorporação é antiga. Ela começou
na Justiça do Trabalho em 2002.
Na época, o Tribunal Superior do
Trabalho e alguns tribunais regionais autorizaram o aumento disfarçado. No TST, ela beneficiou
metade dos 1.800 funcionários.
O ato administrativo do TST liberando as incorporações foi contestado tanto no TCU como no
STF. O Supremo proibiu o pagamento, e o TCU inicialmente rejeitou a interpretação da legislação que o validava.
Há um ano, o Superior Tribunal
de Justiça seguiu o exemplo do
TST e liberou a incorporação das
gratificações a toda a Justiça Federal. Nunca foi informado à imprensa o impacto global na folha
de pagamento. Nesta semana, os
ministros do TCU aceitaram um
recurso de sindicatos contra a sua
decisão anterior e a reviram. A
Folha apurou que o recuo é resultado de forte pressão dos servidores interessados na verba. Muitos
são assessores das autoridades
que têm o poder de decisão, o que
facilita o convencimento.
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