São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2004

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CASO SANTO ANDRÉ

Vítimas tinham algum tipo de vínculo com o crime; Promotoria vai apurar se foi apenas coincidência

Seis ligados ao caso Daniel foram mortos

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Pelo menos seis pessoas que tiveram algum tipo de vínculo com os acontecimentos que cercaram a morte do prefeito de Santo André Celso Daniel (PT) foram assassinadas a tiros nos últimos dois anos. A polícia não elucidou nenhum dos homicídios.
Foram mortos o garçom que serviu o prefeito na noite do seu seqüestro, a testemunha da morte dele, o agente funerário que reconheceu o corpo de Daniel e chamou a polícia, um homem que teria participado do seqüestro e duas outras pessoas ligadas a ele, incluindo um policial civil.
Inicialmente considerados crimes isolados, os homicídios serão apurados pelo Ministério Público a partir da semana que vem. A Promotoria quer saber se as mortes estão relacionadas ao caso de Daniel ou se não passam de uma sucessão de coincidências.
O garçom do restaurante Rubayat Antonio Palácio de Oliveira serviu o prefeito no último jantar dele antes do seqüestro -há exatamente dois anos. O prefeito dividiu a mesa com o empresário Sérgio Gomes da Silva, acusado em ação judicial de ser o mandante da morte, o que ele nega.
Em fevereiro de 2003, Oliveira foi perseguido por dois homens quando dirigia uma moto. Foi agredido com um chute, perdeu o controle e colidiu com um poste na altura do nš 2.000 da avenida Águia de Haia (zona leste de SP). Embora nada tenha sido levado, a polícia registrou o caso como "roubo seguido de morte".
A única testemunha que declarou à polícia ter assistido à morte do garçom foi assassinada no mesmo local, 20 dias depois, com um tiro nas costas.
Quando foi morto, o garçom portava documentos falsos e um novo nome. Familiares e amigos afirmaram à Folha que Oliveira recebeu R$ 60 mil num depósito em conta corrente, cuja origem e data precisa não sabem informar -alguns dizem se tratar de um seguro de vida. Oliveira recebia cerca de R$ 400 por mês.
Ainda segundo relato de amigos, o garçom teria escutado trechos da conversa de Daniel e de Gomes da Silva. Detalhes do que ouviu, entretanto, deveriam ser silenciados -a orientação é creditada a chefes do trabalho. Dias após a morte de Daniel, Oliveira disse à polícia não ter ouvido nada. Afirmou que Gomes da Silva freqüentava o restaurante "vez por outra" e que, naquela noite, ele e Daniel pareciam tranqüilos.
Em um diálogo gravado pela Polícia Federal entre Gomes da Silva e o vereador Klinger Luiz de Souza (PT), ex-secretário de Serviços Municipais de Santo André, os dois falam sobre um garçom do restaurante. A conversa ocorreu oito dias após o corpo de Daniel ser encontrado.

Klinger - Você se lembra se o garçom que te serviu lá no dia do jantar é o que sempre te servia ou era um cara diferente?

Sérgio - Era o cara de costume.

Klinger - Você estava naquela mesa lá de canto?

Sérgio - Era.
Procurado na última quinta-feira para falar se conhecia o garçom morto, a assessoria de Klinger informou que ele estava em viagem.
No último dia 23, foi assassinado com dois tiros o agente funerário Iran Moraes Redua, 25. Ele foi o primeiro a identificar o corpo de Daniel, abandonado em uma estrada de terra em Juquitiba. À polícia, Redua disse ter reconhecido o prefeito por meio de um jornal que trazia estampada a foto de Daniel e estava ao lado do corpo.
Outras três mortes estão relacionadas a Dionízio Severo, apontado como o elo entre Gomes da Silva e a quadrilha da favela Pantanal, contratada para matar o prefeito. Severo foi morto numa cadeia de Guarulhos. Sérgio "Orelha", que abrigou Severo em sua casa nos dias subseqüentes à morte de Daniel, também morreu.
Outra morte é a de um investigador de polícia. A quebra do sigilo telefônico revelou ligações do celular do policial para Severo na véspera do seqüestro.


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