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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CONGRESSO SOB PRESSÃO
Projeto acaba com remuneração de R$ 25,6 mil a parlamentares; Senado precisa aprovar
Câmara aprova fim de salários extras durante as convocações
FÁBIO ZANINI
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Câmara dos Deputados aprovou ontem o projeto que acaba
com a remuneração adicional que
cada parlamentar recebe nas convocações extraordinárias do Congresso, de R$ 25.694,40, o equivalente a dois salários. A aprovação
do projeto foi simbólica, sem a
identificação da opinião de parlamentares no painel eletrônico.
Houve palmas do plenário após o
anúncio.
O projeto -que tem que ser
aprovado ainda pelo Senado-
revoga um decreto legislativo de
1995 e foi uma resposta direta dos
deputados ao lento e constante
processo de desgaste sofrido pela
Casa desde o ano passado. A gota
d'água foram as imagens de corredores e salas vazios em plena
convocação extraordinária, em
dezembro.
Em uma situação raríssima na
Câmara, o projeto teve apoio de
todos os partidos, depois de um
acordo ser costurado em duas
reuniões chamadas pelo presidente da Casa, Aldo Rebelo (PC
do B-SP). Mesmo o PFL, que chegou a defender que o vencimento
extra fosse mantido em alguns casos para casos de convocação pelo
Executivo, para desestimular tal
medida, acabou recuando.
A mudança não afeta a atual
convocação extraordinária, no
entanto, que já teve a primeira
parcela depositada e a segunda
prevista para o final de fevereiro.
O acordo dos líderes também
previa mais um item do pacote
"moralizador", uma emenda
constitucional reduzindo o tempo
de recesso pela metade, de 90 dias
para 45 dias. Passaria a ser de 30
dias em janeiro e 15 em julho.
Houve resistência de vários deputados, no entanto, e a votação
acabou ficando para hoje, para
que seja tentado novo acordo.
Muitos defenderam que a redução do recesso seja menor, para
60 dias, uma vez que parlamentares acabam usando esse período
para visitar suas bases eleitorais.
Sobrevivência
Entre parlamentares de vários
partidos, o sentimento era de que
aprovar as duas medidas era uma
questão de sobrevivência política.
"A crise está batendo às nossas
portas", disse o deputado Raul
Jungmann (PPS-PE), um dos autores do projeto para acabar com
a remuneração, ao lado de Renato
Casagrande (PSB-ES) e do deputado licenciado Aloysio Nunes
Ferreira (PSDB-SP).
Segundo a líder do PSOL, Luciana Genro (RS), a Câmara precisava responder a uma "verdadeira
pressão nacional". Para Henrique
Fontana (RS), líder do PT, a proximidade das eleições de outubro
convenceu muitos a desengavetar
os projetos, que dormiam havia
anos na Câmara. "A coisa estava
muito quente", afirmou.
A pressão da opinião pública e
da imprensa foi tema de praticamente todos os discursos. Único
deputado a se apresentar abertamente contra o fim da remuneração extra, Alberto Fraga (PFL-DF) afirmou que a Câmara estaria
sendo "subserviente" ao aprovar
o projeto sob pressão.
"Viramos os patinhos feios.
Contra as regalias do Judiciário eu
não li uma linha na imprensa",
declarou Fraga, que disse ser a favor do mérito da proposta, mas
contra a forma como foi colocada.
Seu discurso foi aplaudido por vários deputados.
João Fontes (PDT-SE), embora
dando apoio à matéria, criticou o
comportamento de alguns jornalistas, que não nominou. "Estão
dizendo que deputados são vagabundos. Não podemos aceitar isso", disse.
O fim da remuneração extra
não acaba totalmente com as regalias dos deputados. Eles ainda
receberão 15 salários por ano: os
12 mensais, mais o décimo terceiro e dois outros a título de "ajuda
de custo". Também continuam
tendo direito a apartamento funcional ou auxílio-moradia, verba
de gabinete e verba para suas estruturas nos Estados.
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