|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
JANIO DE FREITAS
Defesa da reforma
Se alguma irregularidade envolvesse Jungmann, nada conviria mais a ele e menos às instituições que sua renúncia
PROMETER a renúncia ao mandato, se algo confirmar sua
presença no uso ilegal de R$
33 milhões do Ministério do Desenvolvimento Agrário, ao seu tempo
de ministro no governo Fernando
Henrique, não é a resposta mais
apropriada do deputado Raul Jungmann para a acusação que lhe caiu
em cima.
A resposta é inconveniente em
dois sentidos. O primeiro, no interesse do próprio Jungmann. Antes
de se transferir para a Procuradoria
da República em Brasília, onde encontrou oferta abundante para sua
disposição, a procuradora Raquel
Branquinho deu ao Rio, durante
anos, a comprovação de uma persistência incansável. Do seu colega no
caso só se pode presumir afinidade
com a procuradora. Logo, discursos
e entrevistas podem ter certos efeitos, mas, para a Procuradoria, tendem a soar mais como desafio e pouco ou nada como defesa. Aos documentos, deputado Raul Jungmann.
Também no interesse do eleitorado a oferta do mandato é inapropriada. Não que haja, a priori, inclinações a suspeitar da conduta do então
ministro. Até ao contrário, a denúncia foi surpreendente. Mas, se alguma irregularidade envolvesse Jungmann, nada conviria mais ao deputado e menos às instituições do que
sua renúncia ao mandato. Renunciante, já poderia concorrer nas eleições seguintes. Com a perda do
mandato por decisão da Câmara, seriam oito anos de impedimento a
cargos eletivos.
Já que a disputa pela presidência
da Câmara realça a discussão sobre a
reforma dos (maus) costumes parlamentares, vem em hora certa mais
uma evidência de que o fim das renúncias protetoras é indispensável.
O acaso faz com que a nova evidência venha do deputado Raul Jungmann, que se tem mostrado defensor ardoroso da reforma.
A tradição
Nem a cansativa extensão da nota do Banco Brasil ("Painel do Leitor", 16 jan.) foi suficiente para permitir-lhe negar, ainda que com ligeireza e indiretamente, o perdão
de mais de R$ 1 bilhão de dívidas de
um grupo de usineiros de cana. Esse é, com toda a certeza, um caso
merecer de CPI, que, no entanto,
dificilmente virá: diretos e indiretos, os interesses de parlamentares
nos financiamentos, renegociações
e "repactuações" do Banco do Brasil têm tornado muito raras as investigações dos fatos importantes
no Banco do Brasil. Fatos em quantidade inversamente proporcional
à sua investigação pelo Congresso.
O Banco do Brasil tem esta velha
tradição: as grandes dívidas são
proteladas, têm juros privilegiados,
e a vantagem final de que, se submetidas ao calote, não é raro transformarem-se em ganho líquido do
devedor. Doação do BB, que seus
devedores comuns, os industriais e
comerciantes às voltas com duplicatas, os acionistas e os cofres públicos cobrem sem saber. É que estão no outro extremo da tradição:
para eles, as tábuas da lei.
Texto Anterior: Privilégios: Collor garante gabinete mais nobre no Senado Próximo Texto: Líderes da Renascer são transferidos de prisão Índice
|