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MOVIMENTO SEM TERRA, 25 ANOS
MST perde adeptos e recursos e procura identidade sob Lula
Para especialistas, expansão do Bolsa Família ajudou a esvaziar o movimento, já que a principal razão para adesão é econômica
ONGs ligadas aos sem-terra, que tiveram R$ 39,9 mi de 2003 até 2006, perderam verba em 2008; acadêmicos veem importância histórica
Sérgio Lima
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Mãos de Agenor Vieira, apelidado de parafuso, personagem do livro "Pioneiros do MST"
DA REPORTAGEM LOCAL
Após a chegada do PT ao poder em 2002, o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem
Terra) mantém sua importância histórica, mas perdeu adeptos, receitas e, ao comemorar
seu aniversário de 25 anos neste mês, busca novas formas de
se adaptar ao Brasil da era Lula.
É o que apontam dados levantados pela Folha que coincidem com a opiniões de especialistas sobre o tema da reforma agrária no país e no mundo.
O número de famílias invasoras caiu de 65.552, em 2003
-primeiro ano do governo Lula-, para 49.158, em 2007. O de
novas famílias acampadas foi
de 59.082 para 6.299-menos
89,34%. No período, a ocorrência de invasões oscilou de 391
para 364, afirma a CPT (Comissão da Pastoral da Terra).
"O pessoal, tendo pequenas
ajudas, como a do Bolsa Família, não vai se inscrever nos batalhões de luta pela terra", diz
dom Tomás Balduino, bispo de
Goiás e conselheiro da CPT. De
2003 a 2008, o número de inscrições no Bolsa Família saltou
de 3,5 milhões para 11 milhões.
Uma pesquisa feita pelo Datafolha com membros do MST
em 1996 já demonstrava que a
principal razão para a entrada
no movimento era econômica.
Para 62% dos entrevistados,
a vantagem atribuída ao assentamento era "independência financeira", sendo citados como
exemplos "deixar de ser empregado", "poder negociar a
própria produção" e "lucros
com a venda da produção". Os
principais problemas sobre os
assentamentos eram "falta de
infraestrutura" (22%), "falta de
ajuda do governo" (19%) e "falta de recursos" (10%).
A despeito do momento de
transição, o geógrafo da USP
Ariovaldo Umbelino diz que o
MST ainda é importante. "Com
ele, a luta pela reforma agrária
ganhou sua dimensão política e
passou a se fazer nos fóruns políticos do país. A história dos
primeiros anos mostrou a setores da sociedade que só através
da luta é que se conseguiria a
reforma agrária no Brasil", diz.
Umbelino também vê uma
retração do MST e diz que ele
passa por uma mudança de discurso, ao colocar a "luta contra
o agronegócio" como principal
bandeira. "Lula não cumpriu
todas as metas [da reforma
agrária], menos de 30% da meta foi atingida. O que fica demonstrado nos primeiros anos
do governo Lula é que ele fez a
opção pelo agronegócio."
O professor da Unesp Bernardo Fernandes afirma que "o
papel atual [do MST] é seguir
lutando para o desenvolvimento a partir dos paradigmas que
defendem o campo como lugar
de vida, onde as pessoas possam produzir alimentos saudáveis, recuperando ambientes
degradados pela produção monocultora de grande escala."
Para frei Sérgio Görgen, militante desde a criação do MST, o
foco do movimento no agronegócio resulta de uma mudança
no perfil de seus participantes.
"Hoje o MST mexe com um número significativo de produtores agrícolas e as questões dessa cadeia produtiva estão no
movimento". Görgen diz que
isso traz a preocupação com
empresas transnacionais, como as que "controlam as sementes e insumos", e com
questões produtivas mundiais.
Apesar das novas bandeiras
do MST, o apoio popular não é
expressivo no Brasil. Uma pesquisa feita em 2008 pelo Ibope
a pedido da mineradora Vale
do Rio Doce, um dos alvos dos
sem-terra, mostrou que apenas
31% dos entrevistados diziam
confiar no movimento, contra
65% que diziam não confiar.
A desconfiança aumentava
quanto maior a escolaridade.
Entre os que tinham estudado
até a quarta série do ensino
fundamental, a confiança era
de 35%, e a desconfiança, de
60%. Entre aqueles com ensino
superior, a confiança era de
19%, e a desconfiança, de 75%.
Zander Navarro, da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul diz que o MST "perdeu a
razão de ser". "Seria inevitável
que a industrialização e a urbanização reduzissem, fortemente, a demanda social por terra
em nosso país. É o que ocorre
atualmente. Mas há o lado político, ou seja, o formato organizacional autoritário."
O professor, no entanto, diz
que as invasões são um "instrumento de pressão histórico de
trabalhadores rurais sem terra,
em todo o mundo" e que as realizadas pelo MST são, em geral,
pacíficas e não produzem danos materiais consideráveis.
Financiamento
O governo Lula repassou
apenas R$ 1,4 milhão às principais entidades ligadas ao MST
em 2008, segundo dados do
Siafi. O número é muito diferente daquele registrado no
primeiro mandato do petista.
Entre 2003 e 2006, foram R$
39,9 milhões repassados às três
principais ONGs ligadas ao
MST. No segundo mandato de
Fernando Henrique Cardoso
(PSDB), foram R$ 9,6 milhões.
Historicamente, as ONGs
Anca (Associação Nacional de
Cooperação Agrícola), Concrab
(Confederação das Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil) e Iterra (Instituto Técnico
de Capacitação e Pesquisa da
Reforma Agrária) são apontadas como as que têm maiores ligações com o MST.
O movimento, porém, diz
que nunca recebeu dinheiro de
nenhum governo e que se sustenta com "a ajuda dos próprios
trabalhadores acampados e assentados, com a solidariedade
da sociedade brasileira e com o
apoio solidário de entidades e
comitês de amigos no exterior,
que acreditam nas experiências
do MST".
(FERNANDO BARROS DE MELLO, JOSÉ ALBERTO BOMBIG e ANA FLOR)
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