São Paulo, segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

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Formação é estratégica para venda de armas

DA SUCURSAL DO RIO

A prática de prover formação a militares estrangeiros tem ligação com o domínio geopolítico e com a venda de armas.
No caso da América do Sul, os maiores fornecedores de armamentos são, pela ordem, EUA, Holanda, Itália e França. O Brasil fica num distante 10º lugar, segundo o Sipri (Instituto Internacional de Pesquisas da Paz de Estocolmo).
A tradição foi quebrada recentemente pela Venezuela, que comprou armas russas depois que o governo dos EUA vetou-lhe a compra de aviões brasileiros e espanhóis com peças americanas.
As próprias Forças Armadas brasileiras, quando enviam seus quadros para cursos no exterior, o fazem sobretudo para os países desenvolvidos. Desde 2000, a Marinha enviou 1.278 homens, dos quais 405 para a América do Norte e 433 para a Europa. O Exército mandou 667, 251 à América do Norte e 225 à Europa.
O número de militares brasileiros que passaram por formação recente no exterior, porém, é pequeno se comparado, por exemplo, ao da Colômbia, que entre 2000 e 2008 enviou 68.452 homens a cursos patrocinados pelos EUA.
A Bolívia mandou 6.768 no mesmo período, mas reduziu sua participação depois da eleição de Evo Morales, em 2005. A Venezuela praticamente cortou a cooperação militar com Washington na área de formação depois da tentativa de golpe contra Hugo Chávez, em 2003.

Doutrina própria
A especialista na área militar Adriana Marques disse que a preocupação de criar doutrinas próprias, que no Brasil se tornou mais forte a partir dos anos 70, é recente nos vizinhos.
Adriana entrevistou oficiais dos oito países amazônicos para pesquisa de pós-doutorado na FGV (Fundação Getulio Vargas) do Rio. Muitas das primeiras unidades militares de selva dessa região foram treinadas na Escola das Américas, nos EUA, nos anos 60.
Hoje, países como Colômbia e Peru têm dependência doutrinária dos americanos, enquanto Equador e Venezuela almejam autonomia.
O governo brasileiro tem dito que pretende promover uma indústria de defesa sul-americana. "Não significa a busca de nenhuma perspectiva autóctone, mas um elemento de contenção para as chamadas corridas armamentistas, para governantes que se veem tentados a ir ao shopping internacional", disse Marco Aurélio Garcia, assessor internacional do Planalto, em seminário no Rio no ano passado.
Questionado se as compras de armas anunciadas pelo Brasil não poderiam estimular tal corrida, Garcia fez comparação com o modelo japonês de TV digital, adaptado pelo Brasil e depois adotado por Chile, Argentina, Peru e Venezuela.
"Quando negociamos com outros países, fizeram a mesma exigência de adaptar e produzir componentes, participando do processo produtivo. Podemos fazer a mesma coisa com a indústria de defesa, talvez não em todos os itens, mas em muitos deles", afirmou.
O professor de relações internacionais da UnB Alcides Vaz diz que, como indicador de doutrina, os exercícios militares são mais significativos do que os intercâmbios de formação. "Há mais investimento, mais relações com hipóteses de conflito", disse.


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