|
Texto Anterior | Índice
A lição da Agropalma, contada em Harvard
A história de sucesso de
uma ação onde entraram uma empresa, três governos
e o andar de baixo
|
VEM DA UNIVERSIDADE Harvard um
reconhecimento para alegrar o
Carnaval do Nosso Guia. Escondido nas matas do Pará, há um projeto
agroindustrial privado que emprega 750
pessoas com uma renda média de
R$ 650, preserva a mata, produz biodiesel e dá lucro. Antes, esses trabalhadores
viviam com R$ 60, vendendo farinha e
carvão. Quem conta o caso são três pesquisadores da USP (Rosa Maria Fischer,
Monica Bose e Paulo da Rocha Borba), ligados ao Ceats (Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor).
Eles publicaram um artigo intitulado
"O projeto de agricultura familiar do
óleo de dendê" na revista do Centro
David Rockefeller para Assuntos Latino-Americanos. É a história de um
empreendimento iniciado em 2001
no município de Moju, pela Agropalma,
a maior produtora de óleo de dendê
do país.
Formou-se um ciclo virtuoso onde entraram uma empresa do andar de cima,
150 famílias do de baixo e os governos federal, estadual e municipal.
Cada família conseguiu dez hectares
de terra e, por meio do Pronaf, recebeu
equipamentos agrícolas e um salário mínimo mensal durante três anos, enquanto as palmas do dendê cresciam.
A empresa investiu R$ 2,5 milhões na
infra-estrutura do projeto. Para cada
hectare plantado com palmas, são preservados quatro de mata.
Segundo a empresa, nos últimos 12
meses, a renda média dos trabalhadores
de Moju ficou em R$ 800.
O artigo dos pesquisadores registra
que a experiência pode ser expandida,
desde que sejam removidos entraves de
educação, transportes e, sobretudo, de
titulação de terras.
O governo do Pará e a União têm áreas
públicas suficientes para promover dezenas de empreendimentos semelhantes. A ver.
Os grandes adversários de iniciativas
como essa são os madeireiros clandestinos. Com o cultivo da palma, eles perdem terras, árvores e mão-de-obra semi-escrava. Por incrível que pareça, há prefeitos que não querem nem ouvir falar
em plantadores de dendê.
Em tempo: Lula visitou a usina de
biodiesel da Agropalma em abril de
2005, mas deu-se pouca atenção ao
seu entusiasmo. Se ele disser que o
assunto só ganhou relevo porque apareceu numa revista de Harvard, estará coberto de razão.
O texto do artigo (infelizmente, em inglês) está na
versão eletrônica da revista, no seguinte endereço:
http://drclas.fas.harvard.edu/revista/
AEROSERRA
Lula tinha 78 dias de governo
quando anunciou a primeira
obra de seu governo. Era uma
churrasqueira para o Palácio da
Alvorada com desenho de Oscar Niemeyer. José Serra tinha
45 dias em campo, quando a repórter Monica Bergamo revelou o primeiro grande investimento de sua administração: o
AeroSerra. Trata-se de um jatinho HS, modelo 1985, que Geraldo Alckmin usou e Cláudio
Lembo vendeu por US$ 4 milhões. Foi recomprado ao novo
dono, a pedido de Serra, pelo
mesmo valor.
AN DO NADA
Ao longo dos quatro primeiros anos do reinado de Lula, as
cinco cadeiras da diretoria da
Agência Nacional de Petróleo
só estiveram plenamente ocupadas por 13 dias. Hoje ela tem
duas diretorias vagas. A ANP é
um protetorado do PC do B.
FANTASMA
Durante sua viagem a Washington, Nosso Guia ficará hospedado em Camp David, a
Granja do Torto dos presidentes americanos. Pede-se aos áulicos da diplomacia nacional
que não insistam na tecla de
que essa é uma grande homenagem devido à importância
que Bush dá a Lula. A reciclagem de gentilezas do cerimonial em capital político é uma
das formas mais ridículas de
macaquice. Ele não será o primeiro presidente brasileiro a
dormir em Camp David. Talvez
deite na cama que foi ocupada
pelo general Emílio Médici, em
dezembro de 1971. A respeito
da viagem de Médici, Nelson
Rodrigues escreveu o seguinte:
"Quando reconhece o milagre
brasileiro, Richard Nixon ensina o Brasil a ver Emílio Garrastazu Médici como o nosso
maior presidente".
MADAME NATASHA
Madame Natasha defende o
idioma de ataques da
empulhação. Ela concedeu
uma de suas bolsas de estudo ao
ministro da Previdência,
Nelson Machado, que
anunciou a criação de um
"fator acidentário" para os
trabalhadores.
O "fator acidentário
previdenciário" é um índice
que aponta doenças comuns a
determinadas profissões, como
a hipertensão para os
motoristas de táxi.
Se uma empresa trabalha
acima do indicador, é onerada.
Se fica abaixo, é aliviada.
Natasha acredita que o
doutor Machado quis dizer
"fator de risco", mas preferiu
recorrer ao dialeto
empulhatório.
AMADORISMO
O chanceler Celso Amorim
carimbou como "amadorismo"
a insistência do presidente
boliviano Evo Morales na
negociação do preço do gás
durante sua visita ao Brasil, na
semana passada.
Evo veio, viu e venceu.
Voltou com um aumento que,
pelas suas contas, vai a US$ 100
milhões anuais. A descortesia
de Amorim foi um surto de
onipotência.
Amadorismo seria alguém se
meter nos assuntos internos da
Bolívia dizendo o seguinte:
"Imagine o que significa se
o Evo Morales ganhar as
eleições da Bolívia. São
mudanças tão extraordinárias
que nem mesmo os nossos
melhores cientistas políticos
poderiam escrever".
Quem disse isso foi Lula, em
setembro do ano passado.
Lula é o cidadão que Celso
Amorim, com seu
profissionalismo, chamou de
"Nosso Guia".
A Infraero voa alto nas suas compras
Não é de grandes reformas
que a aviação brasileira precisa. Bastam água e sabão.
No ano passado, a Infraero
decidiu comprar 79 ônibus
para equipar alguns dos 66 aeroportos que administra. Dispunha-se a pagar R$ 49 milhões pelo lote. (O Brasil é o
único país do mundo onde um
passageiro foi atropelado e
morto por um ônibus numa
pista de aeroporto.)
A operação cumpriu seus
trâmites e em dezembro foi
submetida ao Conselho de
Administração da empresa.
Os conselheiros decidiram
que a Infraero devia justificar
a demanda e explicar porque
não recorria à contratação
dos serviços de uma empresa
ou ao sistema de leasing.
Os aerotecas responderam
antecipando para o dia 5 de
fevereiro o leilão eletrônico
marcado para 30 de março.
Apareceu uma proposta oferecendo os ônibus por R$ 49
milhões mas, para surpresa
geral, chegou outro concorrente, pedindo apenas R$ 28
milhões.
Três dias antes do leilão,
um contribuinte entrou com
uma ação popular no Tribunal de Contas, questionando a
pressa dos aerotecas e o número mágico de R$ 49 milhões.
Ele não sabia que apareceria a segunda proposta, mas
agora a Infraero poderá explicar a matemática usada.
Texto Anterior: Petista afirma que já sabia das restrições Índice
|