São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2007

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A lição da Agropalma, contada em Harvard


A história de sucesso de uma ação onde entraram uma empresa, três governos e o andar de baixo

VEM DA UNIVERSIDADE Harvard um reconhecimento para alegrar o Carnaval do Nosso Guia. Escondido nas matas do Pará, há um projeto agroindustrial privado que emprega 750 pessoas com uma renda média de R$ 650, preserva a mata, produz biodiesel e dá lucro. Antes, esses trabalhadores viviam com R$ 60, vendendo farinha e carvão. Quem conta o caso são três pesquisadores da USP (Rosa Maria Fischer, Monica Bose e Paulo da Rocha Borba), ligados ao Ceats (Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor).
Eles publicaram um artigo intitulado "O projeto de agricultura familiar do óleo de dendê" na revista do Centro David Rockefeller para Assuntos Latino-Americanos. É a história de um empreendimento iniciado em 2001 no município de Moju, pela Agropalma, a maior produtora de óleo de dendê do país.
Formou-se um ciclo virtuoso onde entraram uma empresa do andar de cima, 150 famílias do de baixo e os governos federal, estadual e municipal.
Cada família conseguiu dez hectares de terra e, por meio do Pronaf, recebeu equipamentos agrícolas e um salário mínimo mensal durante três anos, enquanto as palmas do dendê cresciam.
A empresa investiu R$ 2,5 milhões na infra-estrutura do projeto. Para cada hectare plantado com palmas, são preservados quatro de mata.
Segundo a empresa, nos últimos 12 meses, a renda média dos trabalhadores de Moju ficou em R$ 800.
O artigo dos pesquisadores registra que a experiência pode ser expandida, desde que sejam removidos entraves de educação, transportes e, sobretudo, de titulação de terras.
O governo do Pará e a União têm áreas públicas suficientes para promover dezenas de empreendimentos semelhantes. A ver.
Os grandes adversários de iniciativas como essa são os madeireiros clandestinos. Com o cultivo da palma, eles perdem terras, árvores e mão-de-obra semi-escrava. Por incrível que pareça, há prefeitos que não querem nem ouvir falar em plantadores de dendê.
Em tempo: Lula visitou a usina de biodiesel da Agropalma em abril de 2005, mas deu-se pouca atenção ao seu entusiasmo. Se ele disser que o assunto só ganhou relevo porque apareceu numa revista de Harvard, estará coberto de razão.
O texto do artigo (infelizmente, em inglês) está na versão eletrônica da revista, no seguinte endereço: http://drclas.fas.harvard.edu/revista/

AEROSERRA
Lula tinha 78 dias de governo quando anunciou a primeira obra de seu governo. Era uma churrasqueira para o Palácio da Alvorada com desenho de Oscar Niemeyer. José Serra tinha 45 dias em campo, quando a repórter Monica Bergamo revelou o primeiro grande investimento de sua administração: o AeroSerra. Trata-se de um jatinho HS, modelo 1985, que Geraldo Alckmin usou e Cláudio Lembo vendeu por US$ 4 milhões. Foi recomprado ao novo dono, a pedido de Serra, pelo mesmo valor.

AN DO NADA
Ao longo dos quatro primeiros anos do reinado de Lula, as cinco cadeiras da diretoria da Agência Nacional de Petróleo só estiveram plenamente ocupadas por 13 dias. Hoje ela tem duas diretorias vagas. A ANP é um protetorado do PC do B.

FANTASMA
Durante sua viagem a Washington, Nosso Guia ficará hospedado em Camp David, a Granja do Torto dos presidentes americanos. Pede-se aos áulicos da diplomacia nacional que não insistam na tecla de que essa é uma grande homenagem devido à importância que Bush dá a Lula. A reciclagem de gentilezas do cerimonial em capital político é uma das formas mais ridículas de macaquice. Ele não será o primeiro presidente brasileiro a dormir em Camp David. Talvez deite na cama que foi ocupada pelo general Emílio Médici, em dezembro de 1971. A respeito da viagem de Médici, Nelson Rodrigues escreveu o seguinte: "Quando reconhece o milagre brasileiro, Richard Nixon ensina o Brasil a ver Emílio Garrastazu Médici como o nosso maior presidente".

MADAME NATASHA
Madame Natasha defende o idioma de ataques da empulhação. Ela concedeu uma de suas bolsas de estudo ao ministro da Previdência, Nelson Machado, que anunciou a criação de um "fator acidentário" para os trabalhadores.
O "fator acidentário previdenciário" é um índice que aponta doenças comuns a determinadas profissões, como a hipertensão para os motoristas de táxi.
Se uma empresa trabalha acima do indicador, é onerada. Se fica abaixo, é aliviada.
Natasha acredita que o doutor Machado quis dizer "fator de risco", mas preferiu recorrer ao dialeto empulhatório.

AMADORISMO
O chanceler Celso Amorim carimbou como "amadorismo" a insistência do presidente boliviano Evo Morales na negociação do preço do gás durante sua visita ao Brasil, na semana passada.
Evo veio, viu e venceu. Voltou com um aumento que, pelas suas contas, vai a US$ 100 milhões anuais. A descortesia de Amorim foi um surto de onipotência.
Amadorismo seria alguém se meter nos assuntos internos da Bolívia dizendo o seguinte:
"Imagine o que significa se o Evo Morales ganhar as eleições da Bolívia. São mudanças tão extraordinárias que nem mesmo os nossos melhores cientistas políticos poderiam escrever".
Quem disse isso foi Lula, em setembro do ano passado.
Lula é o cidadão que Celso Amorim, com seu profissionalismo, chamou de "Nosso Guia".

A Infraero voa alto nas suas compras

Não é de grandes reformas que a aviação brasileira precisa. Bastam água e sabão.
No ano passado, a Infraero decidiu comprar 79 ônibus para equipar alguns dos 66 aeroportos que administra. Dispunha-se a pagar R$ 49 milhões pelo lote. (O Brasil é o único país do mundo onde um passageiro foi atropelado e morto por um ônibus numa pista de aeroporto.)
A operação cumpriu seus trâmites e em dezembro foi submetida ao Conselho de Administração da empresa. Os conselheiros decidiram que a Infraero devia justificar a demanda e explicar porque não recorria à contratação dos serviços de uma empresa ou ao sistema de leasing.
Os aerotecas responderam antecipando para o dia 5 de fevereiro o leilão eletrônico marcado para 30 de março. Apareceu uma proposta oferecendo os ônibus por R$ 49 milhões mas, para surpresa geral, chegou outro concorrente, pedindo apenas R$ 28 milhões.
Três dias antes do leilão, um contribuinte entrou com uma ação popular no Tribunal de Contas, questionando a pressa dos aerotecas e o número mágico de R$ 49 milhões.
Ele não sabia que apareceria a segunda proposta, mas agora a Infraero poderá explicar a matemática usada.


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