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RUMO A 2002
Partido adota opção Alckmin-Roseana para embaralhar sucessão
PFL lança "casal 20" para
abalar aliança Serra-PMDB
FERNANDO DE BARROS E SILVA
EDITOR DE BRASIL
THOMAS TRAUMANN
DA REPORTAGEM LOCAL
No comando do Estado de São
Paulo em caráter definitivo desde
a morte de Mário Covas, no último dia 6, Geraldo Alckmin se
transformou em menos de duas
semanas numa espécie de curinga
no baralho da sucessão presidencial. À sua revelia, o novo governador começa a ser lembrado por
setores da aliança governista como uma carta na manga capaz de
alterar o jogo de 2002.
Por razões diversas, o objetivo
dos aliados de Fernando Henrique Cardoso que passaram a fazer
circular a alternativa Alckmin à
Presidência é um só, ao menos
por ora: fragilizar a candidatura
do ministro José Serra (Saúde),
que vem assumindo a dianteira
da disputa tendo como parceiro
preferencial o PMDB.
A "opção Alckmin" foi ventilada discretamente dentro do Palácio do Planalto dias após a morte
de Covas e ecoou a seguir entre
tucanos ligados ao governador do
Ceará, Tasso Jereissati.
A última novidade, porém, tem
origem no "PFL do B", a ala governista do partido, sob o comando de seu presidente nacional, o
senador Jorge Bornhausen (SC).
Sem fazer alarde, Bornhausen e
seus aliados começam a espalhar
no meio político que Geraldo
Alckmin e a governadora Roseana Sarney (PFL-MA) formariam
um par ideal para desfilar no altar
da sucessão de FHC.
O herdeiro natural do espólio
político de Covas, que morreu como símbolo da ética na vida pública, e a "musa" do PFL fariam
frente à chapa que hoje desponta
como favorita na aliança governista -José Serra tendo como vice o governador de pernambuco,
Jarbas Vasconcelos (PMDB).
Alckmin e Roseana já receberam até apelido no mundo do poder: "casal 20". Como Serra e Vasconcelos, a dupla formaria uma
chapa com um nome da região
Sudeste e outro da Norte/Nordeste, como fez FHC em 94 e 98 com
Marco Maciel (PFL-PE) e, em tese, convém às candidaturas presidenciais num país tão grande e
desequilibrado regionalmente.
Alckmin, evidentemente, foge
do assunto. De olho na sua própria sucessão, disse em entrevista
recente que não dá "passo maior
que a perna". Lança dúvidas, porém, sobre sua suposta modéstia,
ao afirmar também em entrevistas que os tucanos precisam
"amassar mais barro". A declaração sugere que o governador, à
frente do principal Estado da Federação, começa a se sentir à vontade para enviar recados políticos
ao alto tucanato.
Há outro dado importante. A
possibilidade de Alckmin se candidatar ao governo paulista ainda
depende de decisão da Justiça. A
emenda constitucional que permitiu a recondução de FHC à Presidência é ambígua em relação a
casos como o de Alckmin e vem
dividindo o meio jurídico.
No quadro atual, a um ano e
meio da sucessão, é certo que o
"casal 20" não passa de um balão
de ensaio. Hoje visa sobretudo desestabilizar o vôo precoce de Serra. Outros balões decerto surgirão
no caminho de 2002, mas esse
tem, pelo menos aos olhos do PFL
de Bornhausen, fôlego para alçar
vôo e seguir viagem.
Cardápio para FHC
O presidente do PFL falou da
dobradinha Alckmin-Roseana
pela primeira vez com FHC durante um jantar em Brasília, na última semana. Defendeu que Alckmin, além de herdeiro de Covas,
poderia ser uma alternativa de
consenso a Serra e Tasso no
PSDB. Disse ainda que teria o
apoio do PFL, incluindo a ala do
senador Antonio Carlos Magalhães (BA), que se desgarrou da
base governista e passou a ser o
maior incômodo para o Planalto.
Pelo lado de Roseana, Bornhausen destacou as vantagens de se
ter uma mulher na chapa presidencial e lembrou seus índices de
popularidade nas pesquisas de
opinião sobre 2002. Em junho do
ano passado, a governadora atingiu 9% das preferências do eleitorado em sondagem do Datafolha.
Serra, pelo contrário, lembram
Bornhausen e seus comandados,
jamais ultrapassou os 6% nas pesquisas, apesar de sua hiperexposição na mídia e das medidas de impacto que vem adotando à frente
do Ministério da Saúde (remédios
genéricos, cruzada antitabagista
e, mais recentemente, papel de
destaque no pacote de programas
sociais do governo, entre outras).
FHC teria ouvido as colocações
de Bornhausen sem fazer comentários conclusivos. Por um lado,
interessa ao presidente adiar ou
esfriar ao máximo o debate sucessório para que seu mandato não
morra prematuramente.
FHC deixou isso claro ao reunir
a cúpula do PSDB na última quarta-feira e recomendar uma trégua
entre Serra e Tasso para ajudar a
contornar a crise política em que
está mergulhado seu governo. Ao
mesmo tempo, sinalizou pela primeira vez depois da morte de Covas que está disposto a assumir o
comando pleno de sua sucessão.
Por outro lado -e contraditoriamente-, há evidências de que,
hoje, o nome preferido de FHC
para sucedê-lo é o de Serra. A última delas é o fato de ter levado o
ministro a tiracolo anteontem a
Aracaju (SE) e Recife (PE) para
assinar os primeiros convênios do
Projeto Alvorada, maior plano de
ação social de seu governo.
Recebido como candidato em
Pernambuco, Serra elogiou e foi
elogiado por Jarbas Vasconcelos.
Estão jogando casados. Remanescente do chamado grupo histórico do PMDB, ligado a Ulysses
Guimarães, Jarbas não tem a imagem desgastada por denúncias de
corrupção, como é o caso do presidente do Senado, Jader Barbalho (PA), do seu líder na Câmara,
Geddel Vieira Lima (BA), e do ministro dos Transportes, Eliseu Padilha (RS) -trinca que, ao lado
de Michel Temer (SP), forma hoje
a cúpula do partido.
O quarteto-de-ferro peemedebista vê na chapa Serra-Jarbas sua
maior chance de chegar ao poder
em situação privilegiada em 2002.
Mas, ao mesmo tempo, mantém
Itamar Franco (MG) como seu
exército de reserva.
Recém-filiado de volta ao
PMDB, o governador mineiro
funciona tanto como trunfo do
partido para negociar em melhores condições com o Planalto contra as pretensões do PFL de fazer o
vice, como pode, em última instância, ser lançado como candidato de oposição a FHC caso o
PMDB se veja alijado da condição
de noiva no altar governista em
2002.
É com essa última hipótese que
o PFL de Bornhausen trabalha.
Sua aposta é a de que o PMDB não
se sustenta como parceiro preferencial dos tucanos porque a situação de Jader Barbalho, em particular, enroscado no escândalo
do Banpará, é extremamente vulnerável.
Pedras no caminho
Uma eventual candidatura
Alckmin teria obstáculos óbvios
para se viabilizar. O maior deles
chama-se José Serra. Com a morte de Covas e o rompimento de
ACM com FHC, Tasso, que era
apoiado pelo governador e é o nome preferido do senador baiano,
sofreu um revés que muitos julgam difícil de contornar. A pista
de 2002 se abriu para Serra, que
ainda impôs mais uma derrota ao
cearense com a eleição de Jader à
presidência do Congresso.
Uma geração mais jovem e liderança que desponta ainda apenas
regionalmente, Alckmin viria
atropelar o nome "natural" do
partido, que há anos trabalha obstinadamente para ocupar a cadeira de FHC. Além disso, o governador tem hoje na segurança pública um problema mal-resolvido
que pode comprometer a imagem
de seu curto mandato.
Antes mesmo que o PFL começasse a enviar sinais na direção de
Alckmin ou que o grupo de Tasso
passasse a colocar seu nome no
baralho da sucessão, Serra já vinha costurando uma aliança com
o governador. Tê-lo como parceiro na condição de candidato ao
governo do Estado é algo que
convém a Serra e Alckmin. O problema do ministro talvez seja o fato de que tenha ocupado o centro
do palco cedo demais.
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