São Paulo, domingo, 18 de março de 2001

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AMAZÔNIA

Objetivo do projeto é a ocupação de uma das regiões menos habitadas do país, com apenas 1,2% da população

Quintão quer elevar verba do Calha Norte

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Defesa, Geraldo Quintão, fará nesta semana uma visita a nove unidades militares na Amazônia. O objetivo é coletar informações para propor um aumento do orçamento do Projeto Calha Norte, que recebeu uma previsão de menos de R$ 6 milhões neste ano, conforme o projeto inicial do governo.
O Calha Norte foi criado em 1985, pelo então presidente José Sarney. Seu objetivo era ocupar uma das regiões menos habitadas do país (apenas 1,2% da população) e com uma extensão equivalente a duas vezes o território da França. Só de fronteira com outros países, a área do Calha Norte tem 5.993 km.
Até agora, o projeto consumiu o equivalente a US$ 168,5 milhões. Mas a grande parte dos investimentos se deu até 1990 (US$ 109 milhões de 86 a 90).
Durante o governo FHC, as verbas foram minguando. Em 99, o Calha Norte recebeu apenas US$ 676 mil. Os valores estão em dólares porque o Ministério da Defesa divulga os valores nessa moeda.
Agora, conforme aponta um documento anunciando a viagem de Quintão à Amazônia, há interesse do governo em "desfazer comentários sobre o abandono da região e a possibilidade de o tráfico de drogas e de produtos químicos terem ali trânsito fácil".
Já no ano passado, o Calha Norte recebeu o equivalente a US$ 13,9 milhões de investimento.

Inspeção
Na sua viagem, Quintão deve visitar as unidades do Calha Norte nos Estados do Amazonas e Roraima. Em Pari-Cachoeira, o ministro inspecionará os pelotões próximos à fronteira com a Colômbia. Ainda estão sendo realizadas obras de infra-estrutura, inclusive uma pequena central elétrica, ao preço de R$ 600 mil.
A central elétrica de Pari-Cachoeira deverá servir não apenas aos soldados do pelotão, mas também a cerca de 3.000 pessoas que vivem na região.
O Calha Norte tem o objetivo de promover a "vivificação" da região, conforme o jargão usado no meio militar. A idéia é que as 17 unidades já implantadas e as cinco em fase de implantação se transformem em núcleos urbanos no futuro.
Quintão também visitará o local da eventual instalação de um pelotão em Uiramutã, em Roraima, na fronteira com a Guiana. As obras de infra-estrutura foram embargadas por uma liminar (decisão provisória da Justiça), pois trata-se de território ocupado por índios.
O Ministério da Defesa tem procurado melhorar o relacionamento com os habitantes da região. Em Maturacá, no Amazonas, Quintão deve entregar aos índios ianomamis um trator, um caminhão, duas caixas d"água, com rede hidráulica e poço artesiano -tudo isso requisitado pelo cacique em outra visita que o ministro fez ao local, no ano passado.
Além das obras para os cinco novos pelotões, o Calha Norte tem convênios com 73 municípios da região para a construção de escolas, postos de saúde e usinas hidrelétricas.
Geraldo Quintão assumiu o cargo de ministro da Defesa em janeiro do ano passado. Essa é a sua segunda visita ao Projeto Calha Norte.
Quintão é o segundo ministro da Defesa (substituiu Elcio Alvares). A pasta foi criada em janeiro de 1999 pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, mas só foi aprovada pelo Congresso em junho do mesmo ano. Depois da criação do Ministério da Defesa, os ministros militares (Exército, Marinha e Aeronáutica) perderam o status de ministros e passaram apenas a comandantes de suas respectivas forças.



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