São Paulo, quinta-feira, 18 de março de 2004

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GOVERNO EM DISPUTA

Sete dos oito maiores partidos aliados pedem mudanças

Base governista cobra novo rumo na política econômica

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Sete dos oito maiores partidos que dão sustentação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva são críticos do atual estágio da política econômica federal e cobram mudança de rumo na pasta comandada pelo ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
A Folha procurou nos últimos dias o comando dos oito principais partidos governistas e só não ouviu reivindicação de alteração de rota do PTB de Roberto Jefferson, para quem todas as críticas têm motivação eleitoral.
No início da semana, a crítica mais contundente partiu de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, que chegou a pedir a saída de Palocci e de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central.
"Ele [o presidente Luiz Inácio Lula da Silva] tem de trocar o ministro Palocci por alguém que tenha competência para o cargo. O Palocci tem competência para ser prefeito de Ribeirão Preto [SP], não para ser ministro da Fazenda", disse Costa Neto.
"A área econômica não pode ficar pagando R$ 145 bilhões de juros de dívida externa e não fazer nenhum investimento no Brasil. Ou a área econômica se dispõe a negociar essa dívida externa ou nós vamos para o caos", afirmou o presidente do PP, Pedro Corrêa, que dirige a quarta maior bancada de deputados federais. Na verdade, os R$ 145 bilhões de juros pagos no ano passado se referem ao endividamento total (interno e externo) do setor público (União, Estados, municípios e estatais).
"Vamos controlar a inflação, mas não vamos fazer do controle da inflação o impedimento do crescimento econômico do país", reforçou o presidente do PMDB, Michel Temer, que comanda a maior bancada de senadores e a segunda maior na Câmara.
A constatação da oposição dos aliados à política econômica de Palocci (quase 90% da base aliada) surge no momento em que o presidente Lula cobra dos principais ministros e aliados apoio ao titular da Fazenda.
Essa preocupação palaciana ficou explícita nas palavras do ministro José Dirceu (Casa Civil), que repetiu por duas vezes na noite de anteontem que "não haverá mudança na política econômica contra Palocci".
São três as principais alterações defendidas pelos sete partidos governistas: redução da taxa de juros básica da economia (16,25% após a reunião de ontem do Comitê de Política Monetária do BC) e do superávit primário (4,25% do Produto Interno Bruto), usado para o pagamento de juros da dívida, e aumento na meta de inflação para este ano, hoje em 5,5%.
O presidente do PPS, Roberto Freire, lembra que o partido cobra essas mudanças desde maio do ano passado. "É preciso que o governo exerça o poder concreto em um pacto de renegociação para que o país volte a respirar algum crescimento", disse.
Para o presidente do PC do B, Renato Rabelo, é urgente destravar os investimentos. Segundo ele, o governo corrigirá o rumo.
"Avaliamos que o governo está no rumo certo, mas falta um pouco mais de velocidade", disse o secretário-geral do PSB, Renato Casagrande, líder da bancada na Câmara. Ele defende queda mais rápida dos juros, além da diminuição do superávit para investir em setores estruturantes.
O PL do deputado Valdemar Costa Neto (SP), presidente da legenda, protagonizou nos últimos dias um embate com o governo depois das declarações do deputado pedindo a cabeça de Palocci. O partido se retratou do pedido de demissão, mas manteve a crítica à política de juros.
Liberais dizem ter seguido a onda aberta pelo PT, que no último dia 5 divulgou nota pedindo mudanças na economia. "Algumas das mudanças já estão sendo executadas, outras virão com a prioridade do crescimento econômico", afirmou José Genoino, presidente do PT.
Só Roberto Jefferson, presidente do PTB, defendeu a política econômica: "Chegam as eleições e todos querem bater no ministro da Fazenda. Acabou a eleição, todos vão gritar "viva Palocci" por mais um ano".


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