São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 2005

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NOVA DIREÇÃO

Projetos e atos aprovados pelo presidente da Câmara elevaram gastos do Legislativo e preocupam deputados

Trator Severino atropela governo e oposição

Alan Marques/Folha Imagem
O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), durante reunião realizada ontem com a Mesa Diretora da Casa

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após um início atribulado, com a derrota na tentativa de aprovação do aumento do salário dos parlamentares, o reino do baixo clero na Câmara dos Deputados, inaugurado com a eleição de Severino Cavalcanti à presidência da Casa, começa a assustar os governistas e setores da oposição.
O motivo é a sucessão de aprovações de projetos e atos que geram aumento dos gastos públicos e polêmicas que podem, na avaliação desses setores, prejudicar a imagem da Casa. Do lado do baixo clero, o que está acontecendo é meramente uma mostra de independência, e as críticas, choradeira dos líderes mais tradicionais.
Os reveses levaram os governistas a pedir a Severino que mude seu estilo de administrar e passe a ouvi-los com mais freqüência.
Só nesta semana, o governo sofreu derrotas na proposta de emenda constitucional "paralela" da Previdência e teve de fazer concessões para evitar que ela fosse completamente desfigurada.
Governistas e líderes da oposição também foram surpreendidos pela instalação de uma CPI para investigar o setor elétrico. Além disso, por um ato da Mesa, Severino decidiu aumentar em 25% as verbas de gabinete -de R$ 35.350 para R$ 44.187.
O apelo dos líderes governistas, feito anteontem à noite em jantar na casa do deputado Vicente Cascione (PTB-SP), foi motivado pelo fato de Severino levar mais em conta a opinião dos deputados do baixo clero, principais responsáveis por sua eleição na Casa.
Os líderes partidários se sentem incomodados com o estilo Severino. Seu gabinete está sempre aberto a qualquer deputado, e sua intenção é imprimir ritmo de votação para o qual governistas não estavam preparados. Contrastando com a ampla comunicação com o baixo clero, os contatos com líderes são esporádicos: só duas reuniões foram realizadas.
"Pedimos ao presidente que as reuniões do colégio de líderes sejam semanais, e não realizadas de vez em quando", afirmou o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS).
Logo após assumir, Severino prometeu acabar com a "igrejinha", em referência a uma suposta elite parlamentar na Casa. Alguns deputados próximos ao Planalto sentem que Severino levou isso longe demais: muitas das votações e decisões são tomadas à revelia do que pensam os aliados.
Os problemas na PEC "paralela" são decorrência disso. O tema foi levado a voto mesmo em um momento de desorganização da base aliada. Igualmente com relação à reforma tributária, que Severino, unilateralmente, marcou para 29 de março a votação.
"Não existe uma rotina organizada ainda pelo presidente Severino, que vive cercado de parlamentares. A intermediação do relacionamento precisa ser feita pelos líderes", afirma o líder do PSB, Renato Casagrande (ES).
Outro exemplo foi a indicação de Wladimir Costa (PMDB-PA), ferrenho opositor do governo, para relatar a CPI do setor elétrico. O líder do governo na Câmara, Professor Luizinho (PT-SP), soube da indicação pela Folha. Pressionado, ontem Wladimir renunciou.

O jantar
Participaram do jantar praticamente todos os líderes da base. O único ausente foi José Janene, do PP, partido de Severino. Apesar de pedirem que sejam mais consultados, os líderes elogiaram o fato de um grande número de matérias estar sendo votado.
Já o presidente foi acompanhado apenas de seu filho e assessor, José Maurício Cavalcanti Ferreira. Segundo alguns dos presentes, ele concordou que sua rotina ainda está um tanto confusa e comprometeu-se em ouvir os líderes. Mas afirmou que sua política de "portas abertas" não tem volta. "É o meu jeito de governar", disse ele.
"Creio que a derrota na Mesa [de Luiz Eduardo Greenhalgh, do PT] e as derrotas subseqüentes exigem da base aliada e do próprio governo uma readequação", disse o deputado Arlindo Chinaglia (SP), ex-líder da bancada do PT. (FÁBIO ZANINI E RANIER BRAGON)


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