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SAÚDE PÚBLICA
Unicef apontou que problema é entre crianças com até 2 anos; 95% das cidades têm taxa de mortalidade infantil alta
Desnutrição atinge até 10% das crianças no semi-árido
ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um relatório inédito do Unicef
(Fundo das Nações Unidas para a
Infância), que analisou a situação
de crianças e adolescentes do semi-árido brasileiro, mostra que a
desnutrição e a mortalidade infantil são os principais empecilhos para o futuro da região.
Em 95% dos 1.444 municípios
analisados, a taxa de mortalidade
infantil é superior à média nacional (36,1 por mil habitantes) e a
desnutrição atinge 10% das crianças de até dois anos em um terço
das cidades.
O semi-árido se estende por
municípios no interior dos nove
Estados do Nordeste, norte de Minas Gerais e do Espírito Santo.
São áreas com chuvas irregulares
e que apresentam reservas insuficientes de água em seus mananciais. Vivem na região mais de 27
milhões de pessoas -11 milhões
delas entre zero e 17 anos.
O estudo do Unicef, lançado durante a 32ª Sessão do Comitê Permanente de Nutrição das Nações
Unidas, em Brasília, analisou dados do Ministério da Saúde e do
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2003.
Dois indicadores serviram de
base: a desnutrição em crianças
com menos de dois anos e a quantidade de recém-nascidos de gestantes que fizeram menos de quatro consultas pré-natal -o ideal
são seis consultas.
Os dados mostraram que, em
426 municípios, 75% das gestantes realizam menos de quatro
consultas pré-natal. Segundo especialistas, a falta de acesso da
mulher aos serviços de saúde durante a gravidez põe em risco a vida da criança.
Desigualdade
A fragilidade das crianças e adolescentes do semi-árido é agravado pelo fato de viverem em famílias de baixíssimos recursos: em
75% delas a renda per capita é inferior a meio salário mínimo.
Em conseqüência, uma a cada
seis crianças de dez a 15 anos trabalha e cerca de 350 mil crianças
entre dez e 14 anos estão fora da
escola. Do total de não-alfabetizados entre 12 e 17 anos no Brasil,
43% estão no semi-árido.
Para a representante do Unicef
no Brasil, Marie-Pierre Poirier, o
semi-árido é um dos exemplos
mais cruéis da desigualdade em
países como o Brasil.
Para ela, é preciso medidas
emergenciais na região.
"O semi-árido é um imenso desafio para o Brasil, mas é também
uma oportunidade que exige de
nós criatividade e políticas públicas consistentes", diz ela.
O Unicef diz ainda que seca e
acesso restrito à água não são os
únicos problemas da região. Políticas assistencialistas e a falta de
ações emergenciais corroboram
para índices insatisfatórios.
Governo
Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social, quase 1,6 milhão de famílias são atendidas pelo Bolsa-Família em 1.088 municípios. O número representaria
67% das famílias pobres do semi-árido, com repasse médio de
R$ 71 ao mês a cada uma.
Segundo a secretaria de Segurança Alimentar, o programa é
complementado por programas
específicos para a região, como a
construção de cisternas e a compra e distribuição de leite.
Para reverter a situação, a organização propôs um pacto nacional, que reúne os 11 Estados, órgãos do governo federal e entidades civis. Na iniciativa, os governadores se comprometeram a
criar comitês de mobilização estaduais para monitorar e reverter os
indicadores municipais.
O presidente do Conselho Nacional de Secretários Municipais
de Saúde e secretário municipal
de Fortaleza, Odorico Monteiro,
defendeu uma "intervenção" nas
cidades com piores indicadores.
Segundo ele, parte da responsabilidade pelos números é dos municípios, que recebem verbas federais e deveriam "pelo menos
garantir o número mínimo de
consultas pré-natal", diz.
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