São Paulo, sexta-feira, 18 de março de 2005

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CAMPO MINADO

IML diz que policial militar morreu com dois tiros na cabeça

PM morto em área do MST foi torturado, afirma laudo

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

O policial militar assassinado no dia 5 de fevereiro em um assentamento controlado pelo MST, em Quipapá (200 km de Recife), foi torturado e espancado antes de ser morto, possivelmente de joelhos, com dois tiros na cabeça.
A conclusão foi divulgada ontem pelo IML (Instituto Médico Legal) durante o primeiro dia da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Assembléia Legislativa que investiga a violência no campo e as suspeitas de desvio e má utilização de recursos públicos pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
O laudo do IML, baseado em exames no corpo exumado, diz que o soldado da Polícia Militar Luiz Pereira da Silva, 38, sofreu 19 ferimentos provocados por "objetos contundentes" na cabeça, tórax, abdome e membros. Dezesseis deles antes de ser assassinado.
O exame revelou ainda que o policial foi baleado provavelmente de joelhos, pois os tiros atingiram a cabeça de cima para baixo.
Os disparos partiram de uma pistola calibre 40, de uso exclusivo da PM. O soldado estava acompanhado de mais dois PMs, o sargento Cícero Jacinto da Silva e o soldado Adilson Alves Aroeira. O sargento foi espancado e feito refém. Aroeira conseguiu fugir.
Eles trabalhavam no serviço de inteligência da corporação. Vestiam roupas civis e estavam em um carro comum. Entraram no assentamento e foram cercados pelos lavradores quando perseguiam o ex-coordenador do MST José Ricardo de Oliveira Rodrigues, suspeito de assaltos e acusado em cinco inquéritos.
Rodrigues nega envolvimento na morte do soldado. Ontem, ele depôs na CPI e voltou a acusar o principal líder do movimento no Estado, Jaime Amorim, de participação em esquemas de desvio de dinheiro público. Afirmou também que sofreu ameaças do dirigente e disse que os três policiais pretendiam matá-lo.
Ainda segundo ele, Amorim concentrava obras em determinadas empresas e superfaturava preços. Preso, Rodrigues foi desligado do movimento. Amorim não foi encontrado para comentar.
À tarde, Ricardo voltou a depor, mas desta vez em acareação com o sargento torturado.
O policial negou as acusações, mas teve uma de suas declarações desmentida pela ex-promotora de Lagoa dos Gatos (170 km de Recife), Márcia Cordeiro.
Sobre uma ação policial feita por ele num assentamento em Belém de Maria (179 km de Recife), o sargento disse que atendia a pedido do Ministério Público Estadual. Cordeiro, que à época respondia pela região, estava na platéia e negou ter solicitado a ação.


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