São Paulo, sábado, 18 de março de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI EM APUROS

Francenildo afirma ter se sentido um "zé-ninguém" com invasão bancária e que depósitos foram feitos por seu pai; advogado quer processar a Caixa

Caseiro protesta contra violação de sigilo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A divulgação de dados da movimentação bancária do caseiro Francenildo dos Santos Costa, 24, levou seu advogado a analisar uma possível ação judicial contra a Caixa Econômica Federal por vazamento de dados sigilosos.
O caseiro recebeu depósitos em sua conta pessoal na Caixa desde janeiro deste ano. O caseiro e seu advogado, Wlício Chaveiro Nascimento, afirmaram na noite de ontem, em entrevista coletiva, que a origem dos recursos é lícita, fruto de uma doação familiar.
O depositante é o empresário de ônibus Eurípedes Soares, de Teresina (PI). Segundo o caseiro, ele é seu pai legítimo, embora não tenha reconhecido a paternidade. O advogado de Francenildo disse que vai pedir o teste de DNA.
Em janeiro (dois meses antes de seu depoimento à CPI), Francenildo se encontrou com o empresário em Teresina. Soares decidiu dar a ele R$ 30 mil "para seguir sua vida". Ouvido pela revista "Época", que divulgou os dados de Francenildo, o empresário confirmou ter feito os depósitos, mas não assumiu a paternidade.
O caseiro disse se sentir inseguro com a invasão de seus dados. "Mexeram nas minhas contas. O que posso esperar mais?", disse. "Me sinto um zé-ninguém. Pode vir dinheiro e dinheiro, mas a minha honestidade não se compra."
Com documentos bancários originais, o advogado demonstrou que Francenildo recebeu cerca de R$ 25 mil, e não R$ 38 mil, como divulgou a revista. A diferença deve-se a retiradas que voltaram para a conta dias depois. O caseiro disse que tirou o dinheiro para comprar um carro ou um lote, mas depois desistiu e depositou de novo os valores.
Ao ser informada da divulgação de dados do caseiro protegidos pelo sigilo bancário, a assessoria de imprensa da Caixa Econômica Federal informou que se for constatado que houve quebra de sigilo de forma ilegal, já que não há decisão judicial nesse sentido, será aberto um procedimento de averiguação interna.
Conforme a legislação, depósitos em dinheiro superiores a R$ 10 mil devem ser informados pelos bancos ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras, ligado ao Ministério da Fazenda.
O advogado e Francenildo divulgaram a origem dos depósitos para afastar especulações de que o caseiro teria sido remunerado para fazer as revelações.
O caseiro disse que a divulgação de seus dados bancários não o fará mudar as declarações que mostraram as contradições do ministro Palocci. "Não volto atrás. Tenho orgulho do meu serviço [na casa do lobby, em Brasília]. Apesar de ser um dinheiro sujo, eu estava trabalhando", afirmou.
O caseiro, que ingressou no serviço de proteção da PF na tarde da quinta-feira, a pedido da CPI dos Bingos, dispensou a segurança na manhã de ontem, menos de 24 horas depois.
Segundo seu advogado, o caseiro tomou a decisão porque se sentia tolhido em sua liberdade por ser constantemente seguido por policiais federais. "Ele disse que não havia matado ninguém e que não podia viver como prisioneiro", disse Nascimento.
Segundo a PF, para se manter no serviço de proteção, a testemunha deve se enquadrar rigidamente nas condições previstas. Porém, diz, o caseiro não seguiu as recomendações. Francenildo dormiu anteontem numa das casas que a PF mantém em Brasília para preservar as testemunhas.
Ao ser informada da divulgação de dados do caseiro protegidos pelo sigilo bancário, a assessoria de imprensa da Caixa Econômica Federal informou que, se for constatado que houve quebra de sigilo de forma ilegal, já que não há decisão judicial nesse sentido, será aberto um procedimento de averiguação interna.


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