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"MENSALÃO"/ CONEXÃO PEEMEDEBISTA
José Borba, que renunciou ao mandato de deputado, e ex-assessor do partido são suspeitos de interferir em licitação da Transpetro
Gravação da PF liga ex-líder do PMDB a tentativa de fraude
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA
Monitoramento telefônico feito
pela Polícia Federal -ao qual a
Folha teve acesso- traz conversas entre o ex-líder do PMDB na
Câmara José Borba e o ex-assessor do partido Roberto Bertholdo,
nas quais discutem como interferir em processo de licitação da
Transpetro, subsidiária da Petrobras, para aquisição de navios.
Borba renunciou ao mandato
em 17 de outubro de 2005, para
evitar ser cassado sob a acusação
de operar o "mensalão". Mesmo
assim, os dois continuaram a
atuar na base governista e no partido. As gravações das conversas
foram feitas até o dia em que Bertholdo foi preso, em 4 de novembro de 2005, quando a força-tarefa do Banestado -que investiga
crimes de lavagem de dinheiro e
contra o sistema financeiro - pediu a prisão do advogado.
A PF descobriu que ele viajaria
em 4 de novembro ao Paraguai.
Para evitar uma possível fuga,
Bertholdo foi preso nesse dia. Ele
é acusado de crimes de tráfico de
influência, interceptação telefônica clandestina, lavagem de dinheiro e venda de sentenças judiciais. Em outro processo, ele responde à acusação de tráfico de influência na CPI do Banestado.
Nos diálogos, Borba e Bertholdo
articulam uma maneira de conseguir R$ 16 milhões num processo
de licitação da Transpetro, empresa presidida pelo ex-senador
cearense Sérgio Machado, que foi
indicado para o cargo pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), na cota da ala
governista do partido.
A Transpetro abriu licitação para a construção de 42 navios para
transporte de petróleo e GLP (Gás
Liqüefeito de Petróleo). Em uma
primeira etapa, a previsão era de
construção de 26 navios. A escolha dos vencedores da licitação foi
adiada em razão do alto preço
apresentado pelos estaleiros.
Segundo as gravações, em 20 de
outubro, uma secretária de Machado na Transpetro ligou para
Bertholdo e marcou a reunião para o dia 25, na sede da empresa, no
Rio. A secretária pediu a Bertholdo se ele podia adiantar o assunto.
O advogado responde que Borba
já havia falado com Machado sobre o que seria tratado.
No dia 25, após a reunião, Bertholdo viaja a Brasília no mesmo
vôo de Machado. Mais tarde, no
mesmo dia, ele relata suas conversas com o executivo a Borba e afirma que o negócio é bom para todo mundo. "É bom para o Machado. Ele gostou muito. Agora, só
não faz se não quiser", diz Bertholdo num trecho das gravações.
A Folha apurou que a PF não
conseguiu -por questões técnicas- instalar uma escuta ambiental no gabinete de Machado
para acompanhar a reunião.
Em outro trecho da gravação,
numa conversa de Bertholdo com
outro interlocutor, o advogado
preso exemplifica como poderia
obter benefícios na licitação ao falar de um estaleiro de Santa Catarina, o Itajaí, que deveria ficar
com a construção de dois navios.
No lote 5 da licitação da Transpetro, o Itajaí aparece disputando
a construção de três navios, sendo
que o primeiro a ser construído
está orçado em R$ 51 milhões.
Congresso
As gravações mostram também
que Borba, mesmo após a sua renúncia, e Bertholdo continuaram
a comandar, extraoficialmente, a
liderança do PMDB governista.
Bertholdo e Borba articularam a
presença de deputados no depoimento do ex-presidente do Bamerindus e ex-senador José
Eduardo Andrade Vieira na Subcomissão de Liquidação de Bancos na Câmara em 19 de outubro.
Bertholdo articulou para que parlamentares fizessem perguntas
sobre um possível caixa dois na
campanha de Fernando Henrique
Cardoso à reeleição.
A Folha apurou que Bertholdo,
mesmo sem o cargo de assessor
formal, despachava da liderança
do PMDB até sua prisão. Borba
trabalhava na liderança, como um
assessor informal, após renunciar
ao mandato, até a última quarta,
quando Wilson Santiago (PMDB-PB), seu sucessor, foi destituído.
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