São Paulo, domingo, 18 de março de 2007

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Elio Gaspari

A prova de 2007 foi colada. Era de 2003


Vinte perguntas de biologia, todas idênticas, foram recicladas e mantidas na mesma seqüência

ALUNO COLANDO em prova é coisa velha. Professor de banca examinadora colando prova velha é novidade. Vinte perguntas de um dos exames do concurso público realizado no dia 11 pelo Ibam, Instituto Brasileiro de Administração Municipal, para a Fundação de Saúde de Niterói, foram grosseiramente copiadas de uma prova de 2003, dada em Campinas.
A cola foi descoberta por um candidato. Num exemplo de responsabilidade pública e individual, ao saber da denúncia, o Ibam confirmou a impropriedade, destituiu a banca e pediu explicações ao autor das questões. O professor Antonio Luiz Almada Horta, da UFRJ, admitiu o erro e externou seu arrependimento. Ele fora o autor das perguntas aplicadas na prova de Campinas e simplesmente reutilizou-as, apesar de ter sido contratado para formular questões inéditas. O caso foi esclarecido em apenas três dias.
As provas de Niterói tiveram 29 mil candidatos, quase todos jovens, disputando salários de R$ 488 a R$ 1.128. Gente que estudou para amarrar seu futuro a um trabalho, acreditando que está num mundo que os respeita. A primeira surpresa veio quando o exame foi anulado por suspeita de quebra do sigilo pela abertura indevida de envelopes.
A segunda veio para os 310 candidatos às vagas de técnico de laboratório.
No segmento de conhecimentos técnico-profissionais, perguntara-se em Campinas:
"Exame parasitológico baseado em centrífugo-flutuação em solução de sulfato de zinco com densidade 1.180 chama-se (...)".
Em Niterói perguntou-se:
"O exame parasitológico baseado em centrífugo-flutuação em solução de sulfato de zinco com densidade 1.180 chama-se (...)".
A cola seguiu religiosamente a seqüência das 20 perguntas originais, disponíveis na internet. Em todas, foi suprimida uma opção e alterada a ordem das demais. Isso indica que o professor foi movido muito mais pela ligeireza do que por qualquer interesse na violação do sigilo. Ninguém foi prejudicado.
Houve um malfeito e, num exemplo que bem poderia ser copiado em Brasília, cada parte assumiu rapidamente seu pedaço da encrenca. Um caso que começou mal e que, pelo menos, termina de forma honesta.

DE CARLOSLACERDA@EDU PARA JOSÉSERRA@GOV

Senhor governador de São Paulo,
Volto a lhe escrever, desta vez para pedir que dê atenção à qualidade do currículo de sua faculdade de jornalismo epistoleiro. No domingo passado, ponderei ao senhor que é insânia anunciar a remoção de 30 mil pessoas da orla da represa de Guarapiranga, sem revelar, desde logo, para onde irão os desalojados.
Seu aparelho de comunicação zangou-se. Pena. As informações vieram, formalmente, de seu dispositivo. Dele eu havia recebido o texto intitulado "Governo e prefeitura apresentam ações concretas para a Guarapiranga". Lá podia-se ler: "A estimativa é que a remoção vá atingir inicialmente cerca de 30 mil moradores". Na contradita, os doutores corrigem: são 5.000 famílias. Brincam de números.
Se o senhor e seus palafreneiros querem remover 30 mil pessoas da beira de uma represa para preservá-la, volto a louvar a iniciativa, mas insisto: diga para onde irão. A que distância ficarão do local em que vivem hoje?
Isso ainda não se fez. Um exemplo desse silêncio pode ser comprovado na leitura do texto "Governo e prefeitura vão ampliar convênio para fiscalização da Guarapiranga", disponível (na sexta-feira) na página da Secretaria do Meio Ambiente na internet.
Dizem que nesta semana o senhor participará de cerimônia para ampliar o convênio de fiscalização da represa. Será uma nova oportunidade para esclarecer a questão.
Saudações simples,
Carlos Lacerda

LEMBRAI-VOS DE 2005
O tucanato e o PFL tiveram uma recaída de oposicionismo policial. Defendem a política de ruína econômica do Banco Central na tribuna e jogam para a arquibancada sugerindo que o futuro do país depende da criação de CPIs. A da vez quer investigar o apagão aéreo y otras cositas más ocorridas na Infraero. Tudo bem, mas está viva a memória do festival aberto em 2005. Os grão-tucanos (ajudados pelas delinqüências petistas), criaram três CPIs de nitroglicerina. Quando o fogo chegou perto de sua cerca, fizeram um acordão, puseram orégano nas pizzas, e a patuléia ficou com o papelão da embalagem. Falta sinceridade ao surto policial. Até porque o tucanato voltou a conversar com um pedaço do governo.

FURO N'ÁGUA
O comissário Tarso Genro tentou obter dos partidos da base de apoio do governo uma condenação pública da abertura de CPIs que desagradam ao Planalto. Não conseguiu.

DI DE GLAUBER
No mês do 68º ano do nas- cimento de Glauber Rocha, o blogueiro Antonio Mello (blogdomello.blogspot.com) botou na internet o genial documentário de 20 minutos que o cineasta rodou no funeral do pintor Di Cavalcanti, em 1976.
A peça delirante e ególatra de Glauber foi censurada por iniciativa da família de Di. Muito provavelmente o desconforto deveu-se à filmagem do rosto macerado do pintor no caixão, cena realmente chocante.
A qualidade do vídeo não é grande coisa mas, mesmo assim, mostra uma das obras mais representativas da cabeça de Glauber. O cineasta baiano morreu em 1981, aos 43 anos.

EMPULHANDO
Lula e o PT fingem querer uma reforma política que feche o tráfico de cadeiras de senadores. O magano se elege e repassa alguns anos de mandato ao suplente desconhecido e poderoso. Nosso Guia quer nomear Carlos Lupi para o Ministério da Previdência. Em 1998, o doutor fez um acordo com Roberto Saturnino, pelo qual adquiriu metade do seu mandato de senador. Tornou-se suplente, em troca da renúncia do sócio. Saturnino elegeu-se, sem contar aos eleitores que prometera terceirizar o voto que lhes pedia. Lupi micou, pois Saturnino não cumpriu o trato.

VOZ DO PT
Deputado petista viu sondagem feita com as bases do partido mostrando que 75% dos militantes condenam a instituição do voto de lista. Está em 65% a oposição ao voto distrital.

LUÍS E MARIA
Quem for ver "Maria Antonieta" partilhará um mistério da história. Qual era o problema de Luís 16, que levou sete anos para consumar seu casamento com a princesa?
Há duas teorias: tinha uma fimose que tornava dolorosas as ereções, ou não sabia para que elas serviam. Seu cunhado, o imperador José da Áustria, conversou com o casal e contou que "na cama, ele tem fortes ereções, introduz o membro, fica parado por uns dois minutos e retira-se sem ejacular. (...) Ele diz que está bom assim, porque não faz aquilo por gosto, senão por dever". Dois meses após a conversa, Luís revelou que tinha gostado e lamentava não ter praticado mais cedo.
O rei pode ter operado a fimose, mas não há registro disso. José pode ter contado ao casal do que se tratava, eles aprenderam e viveram juntos até que a guilhotina os separou.


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