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PF investiga se Dantas doou R$ 30,4 milhões "ao partido"
Documento de apreensão não cita a legenda; banqueiro diz que "não reconhece" papéis
PF fez apreensão durante a Satiagraha; em 2008 foi divulgado um documento que citava "contribuições ao clube" no valor de R$ 36 mi
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
A Operação Satiagraha
apreendeu, no apartamento do
banqueiro Daniel Dantas, no
Rio, dois papéis descritos como
"extratos" e intitulados "contribuições ao partido", num total de R$ 30,44 milhões, segundo o auto de apreensão assinado pelo delegado federal responsável pelas buscas.
O material é periciado pela
Polícia Federal e deverá constar do relatório final do inquérito. Dantas e o banco Opportunity não têm doações oficiais
para campanhas eleitorais desde 2002, diretamente em seus
nomes, embora um alto executivo do banco, Dório Ferman,
tenha feito doações que somam
R$ 14 mil aos deputados Marcelo Itagiba (PMDB-RJ) e Raul
Jungmann (PPS-PE).
Os papéis integram o inquérito aberto pela PF para apurar
supostas gestão fraudulenta e
lavagem de dinheiro por Dantas e Opportunity. Em 2008, à
época da segunda prisão de
Dantas, foi revelada a apreensão, no apartamento, do documento "contribuições ao clube", no valor de R$ 36 milhões.
A íntegra do auto de apreensão revela que havia três documentos sobre "contribuições":
"Ao partido" teriam sido destinados dois pagamentos, um de
R$ 36 mil e outro de R$ 30,4
milhões. O auto não esclarece a
sigla partidária e os detalhes
dos supostos pagamentos.
Os papéis foram encontrados
em 8 de julho passado pela
equipe do delegado da PF Carlos Eduardo Pellegrini, encarregado do cumprimento da ordem, emitida pelo juiz Fausto
De Sanctis, de busca e apreensão no endereço em que Dantas
reside, em Ipanema, no Rio.
O auto revela que a PF arrecadou 72 itens, dos quais 14
HDs (discos rígidos) externos,
dois internos, cinco notebooks,
dois pen drives, um palm top,
uma agenda eletrônica e sete
CDs. Os HDs externos estão
protegidos por complexa criptografia que a PF disse não poder decifrar, o que levou o juiz
De Sanctis a enviá-los aos EUA
para tentar desbloqueá-los.
Quatro notebooks, 11 HDs
externos e os dois internos estavam no quarto de Dantas, onde o delegado Protógenes Queiroz descreveu haver uma "parede falsa", embora Dantas tenha dito, em depoimento à CPI
dos Grampos, tratar-se de "armário com porta de correr".
A polícia apreendeu ainda
um saco plástico com 52 cartas
"a destinatários diversos", um
documento intitulado "operacione corriere" e outro saco
plástico contendo "22 manuscritos diversos". Numa bolsa
azul, o banqueiro guardava outros 13 "manuscritos diversos".
O auto cita ainda a apreensão
de uma "transcrição de uma
conversa" da qual teria participado uma ex-consultora contratada pela Brasil Telecom.
Com Dantas havia ainda uma
cópia de sua declaração de bens
e rendimentos do exercício de
2006 -de 201 páginas.
"Corrupção"
Os papéis de Dantas sobre
"contribuições" não foram descritos no relatório parcial de
242 páginas entregue em novembro à Justiça pelo delegado
Ricardo Saadi, que assumiu a
Satiagraha no lugar de Protógenes. Saadi promete no texto, de
forma genérica, que haverá novidades no trabalho final.
A formulação da denúncia é
de responsabilidade do procurador Rodrigo de Grandis. "A
análise preliminar em alguns
documentos apreendidos durante a deflagração da Operação Satiagraha trouxe indícios
de corrupção. Uma análise
mais aprofundada dos documentos encontrados constará
do relatório final", disse Saadi.
Em nota enviada ontem à
Folha, o Opportunity diz que
Dantas "não reconhece" os papéis: "No auto de apreensão foi
feita a ressalva que o delegado
não quis mostrar os documentos apreendidos". Segundo a assessoria, "não foi feita qualquer
contribuição a qualquer partido político" e, "em relação a
"Contribuições a Clube" ou
"Contribuições ao Partido", o
melhor é averiguar os beneficiados dessas "contribuições" e
não os perseguidos em duas
operações da Polícia Federal no
espaço de quatro anos".
O banco diz que "a criptografia de documentos se fez necessária porque havia a suspeita de
que arquivos e e-mails entre os
advogados brasileiros e norte-americanos do Opportunity estavam sendo "interceptados"
durante o processo que acontecia em Nova York. Ou seja, as
estratégias dos advogados do
Opportunity no caso estavam
sendo "desvendadas" pela outra
parte (no caso o Citigroup) envolvida na disputa societária".
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