São Paulo, quarta-feira, 18 de março de 2009

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Sarney determina que todos os 136 diretores do Senado se afastem

Desde que assumiu o cargo, no início do mês passado, senador foi obrigado a afastar dois diretores envolvidos em suspeitas

Aliados de Sarney, que deve anunciar hoje uma reforma na Casa, creditam denúncias ao PT, que perdeu a disputa pelo comando do Senado

ANDREZA MATAIS
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pressionado por uma série de denúncias contra a Casa, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), determinou ontem que todos diretores coloquem o cargo a disposição.
O Senado tem 136 diretores, parte deles indicados pelo próprio Sarney, que pela terceira vez preside a Casa. Sarney prometeu anunciar hoje uma reforma administrativa na tentativa de estancar as acusações.
A Folha apurou que a gota d'água foi a denúncia de que a senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) usou sua cota de passagem paga pelo Senado para trazer a Brasília amigos e assessores e hospedou parte do grupo na residência oficial da presidência do Senado.
Aliados de Sarney creditam a onda de denúncias ao PT, que perdeu a disputa pelo comando da da Casa para o peemedebista, e a briga por poder entre os servidores do Senado. Além da derrota do senador Tião Viana (PT-AC), que era até janeiro primeiro vice-presidente do Senado, o PT também perdeu a presidência da Comissão de Infraestrutura do Senado para Fernando Collor (PTB-AL).
Desde que assumiu o cargo, no dia 2 de fevereiro, Sarney já se viu forçado a afastar dois diretores envolvidos em irregularidades e a responder sobre pagamento de horas extras em pleno recesso parlamentar.
O primeiro escândalo derrubou Agaciel Maia, que estava há 15 anos no cargo por indicação de Sarney. A Folha revelou que Agaciel não registrou no cartório uma casa de R$ 5 milhões. Na semana passada, João Carlos Zoghbi foi afastado da diretoria de Recursos Humanos depois de revelado que seu filho morava num apartamento funcional do Senado. Ele também é ligado a Sarney.
Outro desgaste foi a revelação da Folha de que o Senado pagou R$ 6,2 milhões de hora extra para 3.883 servidores pelo mês de janeiro. Sarney classificou o pagamento como "absurdo" e mandou 15 servidores do seu gabinete devolverem o dinheiro, mas somente nove senadores acompanharam sua decisão. Ontem o Senado informou que 145 servidores terão o valor estornado a pedido dos senadores, mas não disse o valor desta conta.

Investigação
Sarney terá que responder ao Ministério Público Federal sobre o pagamento de horas extras. A partir de ontem, ele terá dez dias para informar à Procuradoria quem são os funcionários que fizeram hora extra e sobre qual justificativa.
O caso envolvendo Roseana Sarney também será investigado pela Procuradoria. A senadora disse que pagou passagens para três pessoas com a sua cota, mas se negou a dizer os nomes: "Para mim não tem problema [investigar]. Tanta coisa acontecendo e vocês preocupados com isso". Ela negou que tenha hospedado o grupo na residência oficial, embora anteontem tenha confirmado à Folha a informação. "São hóspedes do Sarney, ele é que tem que explicar." Sarney disse ontem que não irá comentar assuntos administrativos.
O senador deve anunciar hoje assinatura de convênio com a FGV (Fundação Getúlio Vargas), que deve elaborar proposta para uma reforma administrativa da Casa. O Senado tem 6.500 servidores, entre comissionados e concursados, para atender a 81 senadores.
Desses, pelo menos 4.000 são terceirizados, cargos que estariam sendo usados para acomodar parentes de diretores da Casa numa burla a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que proibiu o nepotismo nos três poderes.


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