São Paulo, sexta-feira, 18 de abril de 2008

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Garimpeiros fecham ferrovia da Vale com apoio de sem-terra

Após sete horas de bloqueio, manifestantes foram retirados da estrada pela PM sem tumulto; quatro pessoas foram detidas

Ato contraria liminar que proíbe protesto em áreas da empresa; forró, karaokê e culto marcaram horas que antecederam o bloqueio

EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A PARAUAPEBAS (PA)

O estouro de rojão às 6h58 de ontem, a 30 km do centro de Parauapebas (PA), foi a senha para que um grupo de 500 garimpeiros bloqueasse com paus e pedras a Ferrovia de Carajás e impedisse a passagem de um trem da Vale, após 13 minutos.
A ação do MTM (Movimento dos Trabalhadores e Garimpeiros na Mineração) teve apoio de integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra).
A barricada desrespeitou liminar da Justiça Federal obtida no mês passado pela Vale, segundo a qual movimentos sociais estavam proibidos de promover manifestações nas instalações da empresa.
A estrada de ferro da mineradora permaneceu bloqueada por sete horas. O desbloqueio ocorreu sem tumulto, às 14h.
Cerca de 200 PMs, com ajuda de federais e civis, não encontraram resistência de manifestantes e escoltaram técnicos da Vale, que voltaram com o trem a Carajás. Quatro garimpeiros foram detidos e prestaram depoimento em quartel da PM.
Os garimpeiros, a maioria com mais de 50 anos e oriundos de Serra Pelada (PA), permaneceram acampados às margens da ferrovia. Ameaçam outro bloqueio. "Tudo é possível", disse um dos coordenadores do MTM, Etevaldo Arantes. Esse foi o terceiro bloqueio da ferrovia desde outubro, em Parauapebas. Os outros dois aconteceram sob o comando do MST.

"É agora, companheiros"
A convocação para a barricada, presenciada pela Folha e escolhida por conta do aniversário de 12 anos do massacre de Eldorado do Carajás (quando 19 sem-terra foram assassinados pela PM), pegou de surpresa a maioria dos acampados. Alguns ainda dormiam, quando ouviram o rojão e saíram em disparada para uma área central do acampamento.
Reunidos, ouviram o recado dos líderes garimpeiros: "É agora, companheiros. Vamos ocupar a linha de ferro agora".
Garimpeiros correram até a ferrovia. Encheram trilhos com pedras e paus, e, um quilômetro antes, passaram a tremular bandeiras vermelhas para sinalizar o bloqueio.
O trem, com minério de ferro, apareceu menos de cinco minutos depois. Primeiro buzinou, mantendo a velocidade. Sem conseguir escapar do bloqueio, freou bruscamente e acabou preso a pedaços de pau.
Parado, o trem foi tomado pelos manifestantes, que pedem a retirada da Vale de parte de uma área de Serra Pelada, que o governo crie o Estatuto dos Garimpeiros e aposentadoria especial para a categoria.
Assustado, com o crachá o identificando como Nepomuceno, o maquinista foi cercado e colocado numa camionete branca, que o levou à estação ferroviária mais próxima.

Forró
Forró, jogo de futebol, culto evangélico, karaokê e concurso de dança marcaram as 12 horas que antecederam o bloqueio.
A Folha passou a noite no acampamento. Para manter a ordem, cachaça não entra. Arantes, um dos coordenadores, anda de um lado para o outro tomando chimarrão, usando camiseta de Che Guevara.


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