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Irritado, Lula cobra militares por crítica à política indígena
Em meio a crise em RR, comandante militar definiu ação do governo como "caótica"
Presidente antecipa reunião com Jobim, exige explicação da cúpula militar e pode suspender o anúncio de aumento de salários hoje
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva exigiu explicações do
Ministério da Defesa para as
posições do comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno, que anteontem
acusou a política indigenista de
"lamentável e caótica".
O general tem feito críticas
públicas à sanção presidencial
da demarcação da reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima.
Contrariado com a reação do
militar, Lula mandou sua assessoria ligar para o ministro da
Defesa, Nelson Jobim, antecipando em meia hora a reunião
que teriam para discutir soldos
militares e exigindo a presença
do comandante do Exército,
general Enzo Martins Peri.
O encontro foi às 16h30, mas
Lula cortou a discussão sobre o
aumento, previsto para ser
anunciado hoje, Dia do Exército, e exigiu que os dois cobrassem explicações de Heleno.
O general já vinha reclamando da demarcação da reserva e
foi incisivo em palestra proferida na quarta passada no Clube
Militar, no Rio, dizendo que a
política indigenista brasileira
está completamente dissociada
do processo histórico de colonização do país e que "precisa
ser revista com urgência".
Nesse encontro, que teve a
presença dos generais da reserva Leônidas Pires Gonçalves e
Zenildo Lucena, ministros do
Exército antes da criação do
Ministério da Defesa, o militar
não se referiu especificamente
ao conflito envolvendo a reserva Raposa/Serra do Sol, embora tenha criticado a separação
de índios e não-índios.
"Pela primeira vez estamos
escutando coisas que nunca escutamos na história do Brasil.
Negócio de índio e não-índio?
No bairro da Liberdade, em São
Paulo, vai ter japonês e não-japonês? Só entra quem é japonês? Como um brasileiro não
pode entrar numa terra porque
é terra indígena?", disse.
Cerca de 18 mil índios vivem
na reserva, de onde deveriam
estar sendo retirados os não-indígenas, principalmente os
produtores de arroz que exploram a área há décadas. Essa retirada, porém, foi suspensa recentemente por ordem do STF
(Supremo Tribunal Federal).
O advogado-geral da União,
José Antonio Dias Toffoli, afirmou ontem que o general Heleno não expressa a opinião do
governo: "Ele não é o comandante do Exército nem o ministro da Defesa, mas um general
falando individualmente". O
próprio general já havia feito a
ressalva de que não tinha autoridade para falar pelo governo.
O futuro presidente do Supremo, ministro Gilmar Mendes, disse que as declarações do
general não "pressionam" nenhuma decisão do STF.
Hoje, às 10h, em Brasília, Lula deverá participar da comemoração ao Dia do Exército,
mas, com a crise entre o Planalto e a Força Terrestre, começou
uma discussão no governo para
saber se será ou não mantido o
anúncio do reajuste.
Segundo nota divulgada pelo
deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), militar da reserva, serão
concedidas três parcelas de aumento, a primeira de 8% retroativos a janeiro e mais duas
de 4%. Jobim estava ontem à
noite reunido com técnicos da
Defesa discutindo os índices e
mandou cancelar a sua ida para
o Rio Grande do Sul, ao meio-dia de hoje, para visitar fábricas
de equipamentos militares.
Colaborou FELIPE SELIGMAN ,
da Sucursal de Brasília
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