Ex-senadora elogia "isenção" da Justiça, e governador cassado chama decisão de "golpe"

Após ter recurso negado no STF, defesa do pedetista entra com novo pedido de suspensão da decisão; Lago deve deixar o palácio hoje

Honório Moreira

O governador cassado Jackson Lago (PDT-MA) durante entrevista em gabinete do palácio

JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO LUÍS

Roseana Sarney (PMDB), 55, tomou posse ontem como governadora do Maranhão, enquanto Jackson Lago (PDT), 74, cuja cassação do cargo foi confirmada anteontem pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), recusava-se a abandonar o palácio do governo e dizia que só sairia de lá "arrastado".
Pela manhã, Lago afirmava que poderia deixar o Palácio dos Leões, sede do governo, se o STF (Supremo Tribunal Federal) julgasse recurso que pedia a suspensão da decisão do TSE ou outras três ações que podem beneficiá-lo. O recurso foi julgado ontem, e foi negado.
Depois disso, Lago manteve a decisão de não sair, mas disse que se reuniria com aliados para decidir se continuaria no local. Aliados políticos de Lago ouvidos pela Folha dizem que a tendência é que ele saia hoje.
Ontem, sua defesa entrou com novo recurso no STF, pedindo que outro ministro avalie o pedido de suspensão do julgamento. Isso porque a primeira ação foi arquivada por Ricardo Lewandowski, que também é ministro do TSE e participou da sessão que levou à cassação. Até o fechamento desta edição, não havia decisão.
Anteontem, o TSE rejeitou recursos interpostos pela defesa de Lago, acusado de abuso de poder político, e ordenou a posse imediata de Roseana. O tribunal havia condenado o pedetista no início de março.
Lago disse ontem que a decisão do TSE foi um "golpe". Já Roseana, em seu discurso de posse, pela manhã, disse que tem o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e elogiou a "isenção" da Justiça, que a recoloca na função para a qual já foi eleita em 1994 e 1998.
Antes de assumir, Roseana renunciou ao cargo de senadora. Foi diplomada pela manhã no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Maranhão e empossada na Assembleia. Nas duas solenidades, foi recebida por uma claque acompanhada de faixas, carro de som e banda.
No palácio, alguns aliados de Lago disseram temer que ele seja retirado à força do local. Mas, segundo João Alberto Souza (PMDB), vice de Roseana e também empossado ontem, o governo pode até determinar que ninguém entre, mas não deve mandar tropas prenderem ou forçarem a saída do rival. "É o que ele [Lago] quer: mídia, ser a vítima. Não faremos sua vontade", disse Souza.
Roseana resolveu despachar de sua casa, onde também definiu os novos secretários.

Acampamento
Além do governador cassado, no palácio também estão deputados federais, estaduais, funcionários de sua gestão, militantes dos partidos de sua base, quilombolas, índios e membros do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). São cerca de 1.500 pessoas.
Os que não faziam parte do governo estão espalhados por uma espécie de jardim interno do palácio, onde uma tenda foi armada -há outra fora da sede. Comem marmitas e dormem em colchões improvisados. Apesar de não estarem com bandeiras de movimentos sociais, boa parte deles porta broches e camisetas com os dizeres: "Xô, Sarney".
No prédio, servidores usam os serviços de copa para se alimentar, mas, segundo um deles, os mantimentos estão acabando. Quase todos os pertences de Lago já foram retirados.


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