São Paulo, domingo, 18 de abril de 2010

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Escolha de Plínio provoca racha no PSOL

Disputa interna pelo Palácio do Planalto abre crise no partido e esvazia poder de Heloísa Helena, que apoia Marina (PV)

Aliado diz que ex-senadora deve boicotar campanha nacional; grupo derrotado "sequestra" site e promete retomar controle da sigla

Marcelo Justo/Folha Imagem
Plínio de Arruda Sampaio, eleito, na semana passada, pré-candidato à Presidência pelo PSOL em meio ao racha interno da sigla

BERNARDO MELLO FRANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Menos de quatro anos após disputar sua primeira eleição, o PSOL já vive um racha nacional, com direito a acusações de fraude, troca de insultos entre dirigentes e até ao "sequestro" de seu site oficial na internet.
O partido se dividiu no fim do ano passado, quando sua principal estrela, Heloísa Helena, desistiu da corrida presidencial para tentar voltar ao Senado por Alagoas e pregou o apoio a Marina Silva, do PV. A decisão acendeu o pavio da crise, que explodiu semana passada com a indicação do ex-deputado Plínio de Arruda Sampaio, 79, para concorrer ao Planalto.
"Houve um acordo espúrio e oportunista", esbraveja Martiniano Cavalcante, que disputou a vaga com apoio de Heloísa. "A luta está aberta. Se for preciso, vamos à Justiça para afastar os burocratas que se apossaram do nosso partido."
Plínio foi eleito por "unanimidade", mas só 89 dos 166 delegados participaram da votação. O grupo da ex-senadora não compareceu, em protesto contra a exclusão de 12 aliados acusados de fraude nas prévias estaduais. O ex-deputado Babá, que concorria com menos chances, desistiu na última hora para apoiar o vencedor.
"O PSOL não é da Heloísa. Queremos mostrar que o partido não tem dono nem dona", desafia o radical. "O problema é que ela age com o fígado, leva o confronto político para o lado pessoal. Outro dia, uma senhora me reconheceu e pediu que desse um beijo nela. Se eu tentasse cumprir a tarefa, ia levar um safanão!"
A briga entre as correntes internas da sigla, que somam mais de uma dezena, ultrapassou os limites da disputa presidencial. O grupo de Plínio tirou de Heloísa, presidente do partido, o monopólio do registro de candidaturas. A manobra foi interpretada como esvaziamento da ex-senadora, que teve 6,8% dos válidos na campanha presidencial de 2006.
"É triste. Você constrói a casa e chega alguém, que não fez nada pela construção, e quer tomar essa casa", reclamou ela, em entrevista a uma rádio alagoana na última quarta-feira.
Ao insistir em elogiar Marina, amiga do tempo de militância no PT, a ex-senadora deu margem ao entendimento de que cruzaria os braços na campanha de Plínio. Ela negou, mas o aliado Martiniano diz acreditar no boicote: "Heloísa não é cínica nem dissimulada. Não costuma manifestar afeto por quem a trata como inimiga".
O grupo derrotado ameaça convocar um congresso extraordinário para "ouvir as bases" do PSOL e mantém "sequestrado" o site da sigla. Até sexta-feira, o eleitor que acessava a página não encontrava nenhum registro sobre a indicação de Plínio.
Em meio ao clima de guerra, um grupo tenta apaziguar os ânimos. O esforço une os deputados Luciana Genro (RS), que apoiava Martiniano, e Chico Alencar (RJ), aliado de Plínio.
"É próprio da esquerda, desde os primórdios, exacerbar divergências internas. Mas Heloísa e Plínio são cristãos e sabem, como diz a Bíblia, que casa dividida sobre si mesma não subsiste", apela Chico.
Procurada pela Folha, Heloísa não quis falar. Na noite de sexta, enviou torpedo de celular dizendo não haver "força humana nem ameaça partidária" que a obrigue a falar mal de Marina. Concluiu ao seu estilo: "Para mim, são dias tristes e sombrios, tempestade em alto mar. Mas, como dizia o Velho Monge, isso também passa!"


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