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Distribuição de renda deve marcar eleição
Melhora do poder aquisitivo retoma ritmo pré-crise; ganhos com o trabalho superam de longe os com benefícios sociais
País tem hoje 30 milhões de miseráveis; eles seriam mais de 50 milhões se a queda
na pobreza não tivesse se acelerado a partir de 2003
FERNANDO CANZIAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Neste ano eleitoral de 2010, o
aumento da renda dos brasileiros retomou os níveis pré-crise
de 2009 e o poder de compra
das famílias atingiu o maior patamar em uma década e meia.
A eleição também se dará em
um contexto onde a distribuição da renda é a melhor desde a
redemocratização. A proporção de brasileiros vivendo abaixo da linha da miséria caiu expressivos 43% desde 2003.
O Brasil tem hoje 30 milhões
de miseráveis sobrevivendo
com R$ 137 ao mês. Mas eles seriam mais de 50 milhões se a
velocidade da diminuição da
pobreza não tivesse se acelerado nos últimos anos.
"Foi uma "pequena grande
década'", diz Marcelo Neri,
chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV-Rio. "E a melhora
na renda hoje é muito mais sustentável, pois está apoiada mais
na renda do trabalho."
Na média da década, a renda
do trabalho explicaria 67% da
redução da desigualdade. O
Bolsa Família, cerca de 17%; os
gastos previdenciários, 15,7%.
Desde 2003 foram criados 12,2
milhões de empregos formais.
Neri estima em 5,3% ao ano o
aumento médio da renda per
capita no país. No Nordeste, o
ritmo é chinês, de 7,3%.
Não por acaso, é no Nordeste
que Lula tem a melhor avaliação: 83% de ótimo/bom, contra
70% no Sul e 67% no Sudeste.
Em cenário sem Ciro Gomes
(PSB) na eleição, a petista Dilma Rousseff também aparece à
frente de José Serra no Nordeste, única região em que o tucano perderia a disputa hoje.
"Trunfo" petista
Para o cientista político
Leôncio Martins Rodrigues,
"não há dúvida" de que a renda
em alta é "trunfo" para Dilma.
"Para enfrentá-la, a oposição
teria de convencer o eleitor que
a melhoria se deve, em larga
medida, a ações que vieram do
governo de FHC e que, num governo Serra, a orientação para o
social deve não apenas continuar, mas ser aprofundada."
O economista Ricardo Paes
de Barros, do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada),
diz ser "absolutamente fantástica" a melhora da distribuição
de renda e a queda na pobreza.
"Não acho que Lula tenha feito mágica. Apenas demonstrou
que com trabalho e continuidade de boas políticas é possível
progredir rapidamente."
Paes de Barros diz, porém,
que o atual ritmo de crescimento da renda é mais "pró-pobre".
E tende a gerar mais empregos
entre os menos escolarizados.
"Os que estão do meio para
cima na distribuição ficarão um
pouco prejudicados", afirma.
Enquanto a renda familiar
per capita como um todo cresce
em ritmo maior que 5% ao ano,
entre os 10% mais pobres ela
cresceu três vezes mais rápido
(15,4%). Entre os 10% mais ricos, mais lentamente (3,7%).
Essa é a realidade, tanto do
posto de vista do emprego
quanto da renda, por exemplo,
na construção civil, que emprega grandes contingentes, mas
com pouca qualificação.
Em fevereiro, o setor tinha
2,5 milhões de vagas formais, o
mais alto patamar da série, com
o Nordeste liderando, proporcionalmente, as admissões.
A política de aumentos acima
da inflação (50% a mais) para o
salário mínimo também deu
impulso à renda. Em 2003, um
salário mínimo comprava pouco mais de uma cesta básica.
Hoje, paga 2,2 cestas
O lado negativo da massificação de programas sociais e financiados pelo INSS (que foram o "estopim" para o início
da melhora na renda) foi o engessamento do gasto federal.
Cálculos do especialista em
contas públicas Raul Velloso
indicam que de cada R$ 1 para
despesas não financeiras da
União, R$ 0,62 vão para pagamento de benefícios assistenciais e previdenciários e a inativos e pensionistas.
Somados a salários do funcionalismo e a outras despesas
(como saúde), esses gastos limitam a União a investir em infraestrutura só R$ 0,06 para cada real desembolsado.
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