São Paulo, terça-feira, 18 de maio de 2004

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RETÓRICA OFICIAL

Ministro fez proposta a empresários; colegas viram tom pessimista

Pacto nacional de Dirceu gera mal-estar

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Causou mal-estar na equipe econômica e no Palácio do Planalto a proposta feita pelo ministro José Dirceu (Casa Civil) a empresários de instituir um pacto nacional para enfrentar a crise por conta da turbulência financeira internacional que atinge o Brasil.
Por sua assessoria, Dirceu confirmou que usou a expressão "pacto nacional" no jantar com empresários no sábado em São Paulo, mas negou ter dito que a política econômica não dá conta de enfrentar a crise.
"Falei no sentido de a política ajudar a economia a superar os problemas, aprovando, por exemplo, a nova Lei de Falências no Congresso e o projeto das PPPs [Parcerias Público-Privadas]. E disse aos empresários que deveriam acreditar no Brasil e investir", afirmou Dirceu, segundo a assessoria.
Evitando criticar diretamente o colega, o ministro Guido Mantega (Planejamento) e o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, saíram em defesa da atual política econômica. Nos bastidores, porém, a avaliação de membros da equipe econômica e do Planalto foi que Dirceu exagerou no pessimismo e gerou a percepção de que o governo temeria a atual turbulência internacional mais do que admite.
Mantega e Levy discordaram da afirmação de Dirceu de que haveria um excesso de ortodoxia na condução da economia. "Não há nenhum excesso de ortodoxia. Não estamos fazendo nem ortodoxia nem heterodoxia. Estamos colocando em prática uma boa estratégia para passarmos ilesos por essa crise", disse Mantega, antes da reunião da Camex (Câmara de Comércio Exterior).
Já Levy afirmou que a política econômica é "adequada" e que a idéia de travar um pacto nacional para enfrentar a crise não foi sequer discutida entre as pessoas do governo com quem convive.
Tanto Levy como Mantega se mostraram mais otimistas do que Dirceu, que usou a expressão "crise" para se referir à situação pela qual o país passa. "Não é exatamente uma crise. É uma turbulência no mercado financeiro internacional", disse Mantega, que enfatizou que o país está mais preparado do que no passado para enfrentar esse tipo de desafio.
Para Levy, as atuais turbulências são "passageiras". O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, também considera exagero. "Na minha opinião é um pouco incerto dizer [que é crise]", afirmou Amorim, que disse não ter visto as declarações de Dirceu.


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