São Paulo, terça-feira, 18 de maio de 2004

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CAMPO MINADO

Movimento promoveu invasões a sete propriedades rurais no Estado

Líder do MST é baleado ao tentar invadir terra em PE

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Um dos líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em Pernambuco foi atingido por um tiro durante conflito ocorrido em uma nova onda de invasões promovida ontem pelo movimento no Estado.
Charles Afonso de Souza, 26, foi baleado na perna esquerda e teve fratura exposta. Ele integrava o grupo de 80 lavradores que tentou invadir durante a madrugada a fazenda Dependência, em Passira (100 km de Recife).
O MST, que comandou mais sete invasões de terra ontem no Estado, afirma que o tiro foi disparado por "pistoleiros" supostamente contratados pelo dono da fazenda. Souza foi operado em Recife e não corre risco de morte.
A Polícia Civil instaurou inquérito para apurar o caso. A delegada de Passira, Cláudia Suely Freire de Vasconcelos, enviou uma equipe à fazenda, mas não encontrou ninguém no local. A delegada disse que intimará o dono da área, conhecido como Gilberto, e o suposto administrador da propriedade, Ivan, que, segundo os sem-terra, integrava o grupo de "pistoleiros" que reagiu à invasão.
"Eram 18 homens montados em cavalos, todos armados", disse à Agência Folha, por telefone, o coordenador de acampamentos do MST João Rufino Gomes, 35. O lavrador participou da ação.
"Entramos na fazenda, e eles jogaram os cavalos em cima", contou. "Já estávamos do lado de fora, na estrada, quando atiraram em nós." Segundo Gomes, Charles estava em uma motocicleta quando foi atingido.
Levado no mesmo veículo ao hospital de Passira por um dos amigos, o coordenador do MST foi transferido para Vitória de Santo Antão e, depois, para Recife, onde foi operado.
Os invasores retornaram ao acampamento montado há um ano e três meses no distrito de Pedra Tapada e afirmaram que não desistirão da fazenda. Os sem-terra reivindicam a área, sob alegação de que é improdutiva.
O superintendente do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) em Recife, João Farias de Paula Jr., disse que desconhece o nome do dono e a situação da propriedade.
Segundo ele, a greve dos servidores do órgão impede o acesso aos cadastros dessa fazenda e das outras sete invadidas ontem pelo MST no interior do Estado.
Paula Jr. afirmou estar "muito preocupado" com as invasões, mas disse que pode apenas monitorar a situação, porque o Incra "não tem poder de polícia". A delegada de Passira disse que não sabe quem é o dono da área e se é ou não produtiva. Conhecidos, até ontem, eram só os lavradores que tentaram tomar a fazenda.
No dia 24 de setembro, o mesmo grupo participou de outra invasão na região, que deixou um ferido. Ao entrar na fazenda São Vicente, o sem-terra Reginaldo Bernardes da Silva foi atingido por dois tiros. O autor dos disparos ainda não foi identificado.


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