São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CRISE DOS CORREIOS

Presidente do PTB faz sua defesa na Câmara, nega ser padrinho político de Maurício Marinho e assina pedido de abertura de comissão mista

Jefferson se diz vítima de extorsão e apóia CPI

FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Acusado de comandar um esquema de corrupção na Empresa de Correios e Telégrafos, o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), defendeu-se ontem no plenário da Câmara. Alegou ter sido vítima de extorsão, apresentou um álibi, fez ameaças veladas a partidos governistas e defendeu uma CPI para o caso.
Depois de 41 minutos de discurso, Jefferson assinou o requerimento da oposição para que seja instalada uma CPI mista. Transferiu para o governo o ônus de barrar ou não a comissão.
O deputado também negou que seja padrinho político de Maurício Marinho, o funcionário dos Correios acusado de cobrar propinas de empresários, segundo gravação de vídeo divulgada no fim de semana pela revista "Veja".
Jefferson atacou jornalistas e procurou envolver o PMDB no episódio ao dizer que, a pedido do senador Ney Suassuna, peemedebista da Paraíba, recebeu um certo "comandante Molina" -que teria tentado extorqui-lo.
Na gravação divulgada pela "Veja", o presidente do PTB foi apontado por Marinho como sendo chefe de um esquema de cobrança de propina de empresários, para que fossem usadas na distribuição de "mesadas" para deputados. Ele negou ser amigo íntimo do funcionário.
O pronunciamento foi acompanhado com atenção por um plenário lotado e mudo. Na platéia, estava o ministro de Coordenação Política, Aldo Rebelo.
Jefferson qualificou a reportagem de "equivocada". Citou o autor do texto, Policarpo Junior, 14 vezes. Classificou-o como um profissional sério, mas apontou o que considera "falhas" na reportagem ao citar cargos que não seriam do partido.
O deputado disse que as acusações não são uma questão política, mas vingança de empresários que tiveram um contrato com os Correios cancelado.
Da tribuna, o deputado dirigiu-se à sala de imprensa da Câmara, onde, diante de dezenas de câmeras e máquinas fotográficas, assinou o requerimento da CPI.
Também distribuiu aos jornalistas dois CDs com a íntegra da gravação de Marinho. O objetivo seria mostrar como o funcionário diz coisas inverossímeis. Na realidade, constrangeu o PT, pois ficam claros detalhes de como é administrada uma das mais importantes estatais federais.

 

CONSULTORIA - Jefferson afirmou que na fita Marinho recebe R$ 3.000 de um interlocutor pelo que seria uma consultoria, não propina. "Ele não vendia nem comprava nada. Ele estava sendo contratado como consultor".

RELACIONAMENTO - "Durante toda a conversa, o sr. Maurício Marinho fez, por erro absolutamente irresponsável, afirmações ufanistas. [...] Chamou para si a responsabilidade de decisões que creio que não tem, a importância de relações que tenho certeza de que não possui. [...] Estive com ele três ou quatro vezes. Ele esteve uma vez no meu aniversário. Outra vez, no aeroporto. Esteve uma vez na liderança do partido. Mas nunca integrou nossos quadros e nunca recebeu delegação para pedir recursos a qualquer pessoa."

EXTORSÃO - Jefferson contou que foi procurado por uma pessoa identificada como "comandante Molina" em Belém, em março. "Esse senhor era muito falante e se apresentou como consultor da Prefeitura de Belém. Pediu a mim para intermediar algo com Osório [Antônio Osório Batista, diretor de Administração dos Correios] e eu lhe disse que não podia, porque eu não era um homem de negócios. Ele, então, passou a me telefonar e eu não atendia. No dia 28 de abril, me liga o senador Ney Suassuna dizendo que tinha um companheiro de farda, ex-oficial de Marinha, querendo ser recebido por mim. Disse ao senador que iria receber a seu pedido. Foi a meu gabinete no dia 3 de maio. Voltou com a mesma conversa. E disse que tinha uma fita que um grupo de empresários fez, em que Marinho fala pessoalmente do recebimento de propinas para mim e para o meu partido. E que esses empresários queriam negociar a fita. Eu disse: não faço negócio."

LICITAÇÃO - O deputado disse ainda que um dos empresários citados por Molina seria um "coronel Fortuna", que teria tido um contrato de R$ 35 milhões com os Correios cancelado. "O dr. Osório revogou uma licitação por interesse público de empresas representadas pelo coronel Fortuna, no valor de R$ 35 milhões. O coronel Fortuna foi ao Maurício Marinho." A Folha apurou que os militares seriam um coronel da Aeronáutica (Fortuna) e um comandante da Marinha (Molina).

CARGOS - Jefferson afirmou que o PTB não indicou a direção da Transpetro nem da Infraero. Também não teria 2.000 cargos no governo federal. "Se tem não me contaram. Temos diretorias na Eletronorte, Eletronuclear, BR Distribuidora, Caixa Econômica Federal, Embratur e algumas delegacias nos Estados."

CPI - "O PTB não tem preocupação com CPI. O PTB não é um partido fisiológico, todos os nossos cargos estão à disposição."

PT - "Houve uma conversa entre mim e o Genoino. Iríamos apoiar o PT em alguns Estados, e o PT, que, segundo os jornais, possuía um caixa de mais de R$ 120 milhões, iria transferir recursos para o PTB. Isso acabou não se concretizando. Genoino não pôde, disse que não dava para sustentar as suas campanhas, quanto mais as minhas. Não foi algo que ferisse a moral, a ética ou a boa relação republicana entre partidos."


Texto Anterior: Para Severino, denúncias não têm fundamento
Próximo Texto: Deputado diz que não é mais um "troglodita"
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.