São Paulo, quarta-feira, 18 de maio de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lula promete negociar cargos abertamente

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Numa intervenção direta para tentar reorganizar sua base política na Câmara, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ontem prometeu em reunião com líderes aliados que negociará "cargos" e emendas abertamente. Afirmou discordar da "hegemonia do PT" no seu governo. E comparou os resultados de seus quase 29 meses de gestão aos "melhores anos" dos governos Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas.
Lula disse que Aldo Rebelo é seu ministro da Coordenação Política e que "vai continuar". No entanto, afirmou que troca de ministros era assunto seu, que faria mudanças quando desejasse, mas nunca por meio de "recados de jornal", segundo relato de presentes.
Alguns líderes interpretaram como sinal de manutenção de Aldo, que pediu demissão e aguardava decisão de Lula. Outros avaliaram que deixou brecha para trocá-lo. Lula emite sinais contraditórios. No domingo, reuniu-se em segredo na Granja do Torto com José Dirceu (Casa Civil), cotado para substituir Aldo. E discute com poucos auxiliares a reabertura de uma reforma ministerial.
O almoço no Palácio do Planalto, convocado por Lula para esvaziar um encontro dos líderes de partidos na Câmara que excluiria o PT, foi um gesto que pegou de surpresa as siglas que apóiam o governo. Com ela, Lula evitou a exposição de um racha explícito na sua base, que seria a realização de uma reunião sem o PT, aumentando a já crônica falta de controle do governo sobre seus aliados no Congresso.
O presidente chamou petistas para a reunião. Estavam lá o líder do partido na Câmara, Paulo Rocha (PA), e o líder do governo na Casa, Arlindo Chinaglia (SP). Os líderes aliados presentes foram: José Janene (PP-PR), José Borba (PMDB-PR), José Múcio (PTB-PE), Renato Casagrande (PSB-ES), Renildo Calheiros (PC do B-PE), Sandro Mabel (PL-GO) e Marcelon Ortiz (PV-SP).
A seguir, segundo relato dos presentes, as principais declarações do presidente.
"Colocar os cargos na mesa", essa foi a expressão de Lula para dizer aos aliados que vai tirar postos do PT e dar a eles. Afirmou que deseja fazê-lo abertamente.
"Não concordo com a hegemonia do PT no governo", declaração que surpreendeu os aliados, pois é o presidente quem nomeia os ministros (19 petistas) e os principais membros do segundo escalão.
Puxão de orelhas no líder do PT no governo: "Arlindo, você tem de ser mais líder do governo e menos líder do PT".
Apesar de o governo trabalhar para eleger José Pimentel (PT-CE) para ministro do TCU (Tribunal de Contas da União), Lula afirmou: "O governo não tem candidato ao TCU, como não teve nas escolhas para o órgão que funcionará como controle externo do Judiciário [eleição que acabou perdendo]".

JK e Vargas
Ao falar de resultados na economia, como geração recorde de empregos formais nos quatro primeiros meses do ano (558.317), o presidente Lula se colocou no mesmo patamar dos presidentes Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas, cujas gestões são vistas como as de maior impacto na história recente do país.
"Os nossos resultados até agora são iguais aos resultados dos melhores anos do Juscelino e do Getúlio", afirmou, sempre de acordo com o relato de líderes.
A respeito do veto ao reajuste de 15% para os funcionários do Congresso e do TCU, Lula rebateu a afirmação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que o governo quebrara acordo.
Disse que avisou no ano passado a João Paulo Cunha (PT-SP) e a José Sarney (PMDB-AP), então presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente, que não havia dinheiro para esse reajuste. Afirmou que só prometeu negociar plano de carreira para os servidores da Câmara (medida que eleva salários na prática).
(RANIER BRAGON, LUCIANA CONSTANTINO, ANA FLOR e KENNEDY ALENCAR)

Texto Anterior: Frase
Próximo Texto: Diplomacia: Lula volta a defender vaga ao país no Conselho de Segurança da ONU
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.