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Lula promete negociar cargos abertamente
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Numa intervenção direta para
tentar reorganizar sua base política na Câmara, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva ontem prometeu em reunião com líderes
aliados que negociará "cargos" e
emendas abertamente. Afirmou
discordar da "hegemonia do PT"
no seu governo. E comparou os
resultados de seus quase 29 meses
de gestão aos "melhores anos"
dos governos Juscelino Kubitschek e Getúlio Vargas.
Lula disse que Aldo Rebelo é seu
ministro da Coordenação Política
e que "vai continuar". No entanto,
afirmou que troca de ministros
era assunto seu, que faria mudanças quando desejasse, mas nunca
por meio de "recados de jornal",
segundo relato de presentes.
Alguns líderes interpretaram
como sinal de manutenção de Aldo, que pediu demissão e aguardava decisão de Lula. Outros avaliaram que deixou brecha para
trocá-lo. Lula emite sinais contraditórios. No domingo, reuniu-se
em segredo na Granja do Torto
com José Dirceu (Casa Civil), cotado para substituir Aldo. E discute com poucos auxiliares a reabertura de uma reforma ministerial.
O almoço no Palácio do Planalto, convocado por Lula para esvaziar um encontro dos líderes de
partidos na Câmara que excluiria
o PT, foi um gesto que pegou de
surpresa as siglas que apóiam o
governo. Com ela, Lula evitou a
exposição de um racha explícito
na sua base, que seria a realização
de uma reunião sem o PT, aumentando a já crônica falta de
controle do governo sobre seus
aliados no Congresso.
O presidente chamou petistas
para a reunião. Estavam lá o líder
do partido na Câmara, Paulo Rocha (PA), e o líder do governo na
Casa, Arlindo Chinaglia (SP). Os
líderes aliados presentes foram:
José Janene (PP-PR), José Borba
(PMDB-PR), José Múcio (PTB-PE), Renato Casagrande (PSB-ES), Renildo Calheiros (PC do B-PE), Sandro Mabel (PL-GO) e
Marcelon Ortiz (PV-SP).
A seguir, segundo relato dos
presentes, as principais declarações do presidente.
"Colocar os cargos na mesa",
essa foi a expressão de Lula para
dizer aos aliados que vai tirar postos do PT e dar a eles. Afirmou
que deseja fazê-lo abertamente.
"Não concordo com a hegemonia do PT no governo", declaração que surpreendeu os aliados,
pois é o presidente quem nomeia
os ministros (19 petistas) e os
principais membros do segundo
escalão.
Puxão de orelhas no líder do PT
no governo: "Arlindo, você tem
de ser mais líder do governo e menos líder do PT".
Apesar de o governo trabalhar
para eleger José Pimentel (PT-CE)
para ministro do TCU (Tribunal
de Contas da União), Lula afirmou: "O governo não tem candidato ao TCU, como não teve nas
escolhas para o órgão que funcionará como controle externo do
Judiciário [eleição que acabou
perdendo]".
JK e Vargas
Ao falar de resultados na economia, como geração recorde de
empregos formais nos quatro primeiros meses do ano (558.317), o
presidente Lula se colocou no
mesmo patamar dos presidentes
Juscelino Kubitschek e Getúlio
Vargas, cujas gestões são vistas
como as de maior impacto na história recente do país.
"Os nossos resultados até agora
são iguais aos resultados dos melhores anos do Juscelino e do Getúlio", afirmou, sempre de acordo
com o relato de líderes.
A respeito do veto ao reajuste de
15% para os funcionários do Congresso e do TCU, Lula rebateu a
afirmação do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL),
que o governo quebrara acordo.
Disse que avisou no ano passado a João Paulo Cunha (PT-SP) e
a José Sarney (PMDB-AP), então
presidentes da Câmara e do Senado, respectivamente, que não havia dinheiro para esse reajuste.
Afirmou que só prometeu negociar plano de carreira para os servidores da Câmara (medida que
eleva salários na prática).
(RANIER BRAGON, LUCIANA CONSTANTINO, ANA FLOR e KENNEDY ALENCAR)
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