São Paulo, quinta-feira, 18 de maio de 2006

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ELEIÇÕES 2006

Ministro diz que Alckmin "preferiu negociar com criminosos" a aceitar ajuda federal

Tarso critica negociação com crime; PSDB exige retratação

SILVIO NAVARRO
PEDRO DIAS LEITE

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O coordenador político do governo, ministro Tarso Genro (Relações Institucionais), disse ontem que o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB) "preferiu negociar com criminosos do que aceitar ajuda do governo", o que fez a oposição pedir sua demissão e a bloquear as votações no Senado.
À noite, o ministro ensaiou um recuo e disse que a oposição aproveitou sua entrevista para fomentar uma crise: "Não ofendi ninguém e não atribuí a qualquer pessoa qualquer tipo de relação espúria com a criminalidade". Mas manteve o tom de desafio. "O governo não admite receber qualquer imputação de responsabilidade do que aconteceu lá [em SP] ou compartilhar qualquer responsabilidade" na crise.
No início da tarde, em visita ao Congresso, Tarso responsabilizou Alckmin pela onda de violência ocorrida no Estado. "O governo federal ofereceu toda a ajuda necessária e, segundo vocês [jornalistas] mesmos estão informando, o governo paulista, o governo do senhor Alckmin, preferiu negociar com os criminosos do que aceitar ajuda do governo. Não é correto o que ele está fazendo", referindo-se ao suposto acordo.
"As pessoas têm que assumir em momentos mais graves a responsabilidade política pelo que fizeram enquanto estiveram no governo", o que, segundo ele, não estava ocorrendo com Alckmin.

Reação
Em retaliação, a oposição anunciou que iria obstruir todas as votações no Senado até que Tarso se retratasse. Isso impossibilitou a votação das MPs que trancam a pauta e a indicação de Carmen Lúcia Antunes para ministra do Supremo Tribunal Federal.
Irritado, o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), chamou o ministro de "irresponsável e leviano" e disse que a ordem é cortar o diálogo da oposição com o governo: "Esse homem é um irresponsável, devemos cortar o diálogo da oposição com o governo, com um homem que fala uma bobagem desse tamanho. Peço que o presidente da República que o desminta ou o demita".
Em seguida, o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), anunciou, com o aval do PFL, obstrução de todas as votações no Senado.
Os governistas tentaram acalmar os ânimos. O vice-líder do governo, Romero Jucá (PMDB-RR), disse que as declarações de Tarso "estavam truncadas" e que o ministro fora "instado pela imprensa" a falar. A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), disse que "se a gente quiser repercutir declarações, os jornais estão cheios. Está cheio de declarações do senhor Alckmin".
Em São Paulo, o senador Aloizio Mercadante culpou Alckmin: "Quem administra o sistema prisional e quem coordena todo o trabalho das polícias civil e militar é o governador do Estado. O governo federal deve colaborar e contribuir, mas a responsabilidade pelo colapso da política prisional no Estado de São Paulo, que permitiu esse avanço do crime organizado, é do governo de São Paulo". Ele disse que "o crime organizado está se infiltrando na Febem" e, de 2001 até agora, as ações do PCC só têm aumentado: "Jamais a cidade viveu uma barbárie como essa, por três dias". E acrescentou: "Em cada acordo que se faz, ele [PCC] submerge para em seguida voltar mais forte".


Colaborou MALU DELGADO, da Reportagem Local


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