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JANIO DE FREITAS
Ciranda de crimes
A ferocidade mortífera
da reação policial e a cobertura que lhe dão as autoridades governamentais de São Paulo põem a população paulista
sob o risco que mais conviria
evitar: os revides dos revides,
uma ciranda em que a retração
de um lado leva à ofensiva do
outro, que se exaure e passa a
ser o atacado até chegar sua nova ocasião. É a mecânica própria dos conflitos em que os choques não levam à eliminação de
uma das partes. Mecanismo cujo estudo foi fundamental na
formulação da doutrina autêntica da guerrilha.
Um componente comum, nos
comentários de colunistas e
de muitos dos entrevistados, foi
de que as autoridades governamentais e a polícia deviam uma
reação rigorosa e dura porque o
PCC investiu contra o Estado.
Duvido muito de que alguém no
PCC, como nas associações
do gênero, tenha idéia do que é
Estado, quanto mais de que o
combata. Mas vá lá: o cerne
da gravidade está na ação contra o Estado.
No mesmo caso, então, ficam
as chamadas autoridades que
permitem ou praticam as mortes a granel, com dezenas de vítimas qualificadas, oficialmente, apenas como suspeitas. Ou o
governador e seus secretários
não têm autoridade para proibir e reprimir o morticínio não
provocado pelo direito de defesa
ou estão comprometidos com o
desregramento policial.
Será útil por muito tempo este
trecho de resposta franca do
major-PM-SP Sergio Olímpio
Gomes em entrevista a Germano Oliveira, do "Globo": "Prefiro acreditar que as autoridades
não tenham acordo com os bandidos. Se fizeram, não vão poder
cumprir, porque os 90 mil PMs e
os 40 mil policiais civis nas ruas
não vão respeitar. Ainda não esquecemos as 29 mortes. (...) Vai
morrer uma média de dez a 15
bandidos por dia em São Paulo
a partir de agora".
Ninguém deve esquecer as 29
mortes, muito menos os policiais. Mas também não deve esquecer casos exemplares como o
do cabeleireiro Lindomar da
Silva, que fechou o seu salão para dispensar os colegas apreensivos, e foi morto na calçada por
três tiros que testemunhas atribuem a PMs. Ou a morte de
Aparecida da Silva, morta dentro de sua casa invadida por ser
ela a mãe de um preso do PCC.
As autoridades paulistas saíram do aturdimento para outra
maneira de continuarem à
margem do que lhes cabe. E, por
ora, não há motivo para crer
que a nova atitude seja menos
imprópria que a anterior.
O alheio
José Serra continua em Nova
York. Em quatro para cinco dias
de aflições no Estado que quer
governar, não teve nem ao menos uma palavra de solidariedade aos paulistas. Parece inexplicável, mas talvez não seja.
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