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Painel
RENATA LO PRETE - painel@uol.com.br
Roupa suja
A primeira insinuação pública de que haveria mais
do que amizade entre Renan Calheiros (PMDB-AL) e
Zuleido Soares Veras, personagem central do esquema de fraudes em licitações revelado pela Operação
Navalha, foi feita em 7 de março de 2001 no plenário
do Senado por Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA).
Em ríspido diálogo, ACM disparou: "Vossa Excelência tem amigos empreiteiros com quem tem muito
mais intimidade do que eu com a OAS". Referia-se à
construtora da qual seu genro é sócio. "Mais do que
Vossa Excelência com a OAS? Ninguém tem", retrucou Renan. "Vossa Excelência tem. Vossa Excelência
conhece o Zuleido, não conhece? Então, com isso, já
está dito". Ontem, Renan passou o dia negando qualquer ligação com os negócios do dono da Gautama.
Do que se trata. Avaliação preliminar da Operação
Navalha recolhida em Brasília: é confusão para fazer o
Congresso, e em especial o Senado, sangrar por muito tempo. Outra: o esforço para abafá-la será extraordinário, pois
ninguém sabe ao certo onde
vai parar a lista de atingidos.
Próxima parada. Quem
acompanha o trabalho da Polícia Federal aposta que os
desdobramentos seguintes da
operação vão causar estrago
na Comissão Mista de Orçamento, onde os enviados da
Gautama transitavam com
grande desenvoltura.
Profecia. Em privado, parlamentares afirmam que as
descobertas da Operação Navalha irão confirmar o que há
muito se sabe no Congresso: a
Comissão de Orçamento estaria emprenhada de vícios
iguais ou piores do que os revelados no escândalo dos
"anões", em 1993.
Velho conhecido. Parlamentares chamam Zuleido
Soares Veras por apelidos como "Charles Bronson" e "Mexicano", graças ao vasto bigode que o empreiteiro ostenta.
Zen. As alcunhas de Zuleido
não parecem combinar com
sua religião: o empresário se
declara budista. O nome de
sua construtora vem do sobrenome de Sidarta Gautama,
o Buda. Em sânscrito, a palavra significa "a melhor vaca".
De novo. Como em escândalos passados, o PP é o partido mais tenso com as investigações sobre a Gautama. Ernani Soares Gomes, preso na
Operação Navalha, é assessor
do deputado Márcio Reinaldo
(PP-MG). O empreiteiro Zenildo Veras é amigo do líder
da bancada do PP, Mário Negromonte, e de João Leão,
ambos baianos e cardeais da
Comissão de Orçamento.
Quem manda. Dois deputados da oposição na CPI
do Apagão Aéreo que foram
negociar com o presidente,
Marcelo Castro (PMDB-PI), e
com o relator, Marco Maia
(PT-RS), a votação de seus requerimentos ouviram o mesmo conselho: quem decide, na
verdade, é o vice-presidente,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Meu guri. A festa de aniversário de Aloizio Mercadante (PT-SP), na quarta, foi
marcada pelo entusiasmo feminino com Chico Buarque. A
ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), a anfitriã, Roseana
Sarney (PMDB-MA), e a líder
da bancada do PT no Senado,
Ideli Salvatti (SC), que na véspera haviam assistido ao show
do cantor em Brasília, arriscaram até entoar canções.
Parque temático. Marta
Suplicy teve anteontem sua
primeira audiência com Lula
após assumir o Turismo. A
ministra propôs a criação, no
ABC, da Cidade do Automóvel. O presidente se mostrou
simpático à idéia e ainda sugeriu que o parque seja construído em São Bernardo do
Campo, seu berço político.
Palmatória. Deputados tucanos, entre os quais o presidente da Assembléia, Vaz de
Lima, saíram ontem de cabeça baixa do Palácio dos Bandeirantes, depois de ouvir
poucas e boas de José Serra
sobre a lentidão da base aliada
para mudar o regimento da
Casa e assim evitar a sistemática obstrução feita pelo PT.
Tiroteio
"A navalha cortou e expôs as entranhas de
como é feito o Orçamento no Brasil. Agora
precisamos fechar a ferida e mudar a
forma de destinar os recursos públicos".
Do deputado FERNANDO GABEIRA (PV-RJ) sobre a Operação Navalha,
que revelou um esquema de fraude em licitações de obras públicas.
Contraponto
A seu dispor
Um dia depois da aprovação do reajuste dos parlamentares, Chico Alencar (PSOL-RJ) explicava a um jornalista,
no Salão Verde, as razões de seu voto contrário. Encerrada a entrevista, aproximou-se um senhor que tudo ouvira:
-Parabéns pela sua postura, deputado. Sempre concordo com o senhor. Mas tenho uma observação a fazer.
-Pois não?
-O senhor anda muito mal vestido.
-Ah, eu não ligo muito para roupa...
-Mas tem que ligar! Imagem é tudo. E, como deputado
não ganha mais tão mal, aqui está o meu cartão.
No cartão do alfaiate se lia: "Ternos e camisas com
atendimento VIP, tecidos nacionais e importados".
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