São Paulo, sexta-feira, 18 de maio de 2007

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Painel

RENATA LO PRETE - painel@uol.com.br

Roupa suja

A primeira insinuação pública de que haveria mais do que amizade entre Renan Calheiros (PMDB-AL) e Zuleido Soares Veras, personagem central do esquema de fraudes em licitações revelado pela Operação Navalha, foi feita em 7 de março de 2001 no plenário do Senado por Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA). Em ríspido diálogo, ACM disparou: "Vossa Excelência tem amigos empreiteiros com quem tem muito mais intimidade do que eu com a OAS". Referia-se à construtora da qual seu genro é sócio. "Mais do que Vossa Excelência com a OAS? Ninguém tem", retrucou Renan. "Vossa Excelência tem. Vossa Excelência conhece o Zuleido, não conhece? Então, com isso, já está dito". Ontem, Renan passou o dia negando qualquer ligação com os negócios do dono da Gautama.

Do que se trata. Avaliação preliminar da Operação Navalha recolhida em Brasília: é confusão para fazer o Congresso, e em especial o Senado, sangrar por muito tempo. Outra: o esforço para abafá-la será extraordinário, pois ninguém sabe ao certo onde vai parar a lista de atingidos.

Próxima parada. Quem acompanha o trabalho da Polícia Federal aposta que os desdobramentos seguintes da operação vão causar estrago na Comissão Mista de Orçamento, onde os enviados da Gautama transitavam com grande desenvoltura.

Profecia. Em privado, parlamentares afirmam que as descobertas da Operação Navalha irão confirmar o que há muito se sabe no Congresso: a Comissão de Orçamento estaria emprenhada de vícios iguais ou piores do que os revelados no escândalo dos "anões", em 1993.

Velho conhecido. Parlamentares chamam Zuleido Soares Veras por apelidos como "Charles Bronson" e "Mexicano", graças ao vasto bigode que o empreiteiro ostenta.

Zen. As alcunhas de Zuleido não parecem combinar com sua religião: o empresário se declara budista. O nome de sua construtora vem do sobrenome de Sidarta Gautama, o Buda. Em sânscrito, a palavra significa "a melhor vaca".

De novo. Como em escândalos passados, o PP é o partido mais tenso com as investigações sobre a Gautama. Ernani Soares Gomes, preso na Operação Navalha, é assessor do deputado Márcio Reinaldo (PP-MG). O empreiteiro Zenildo Veras é amigo do líder da bancada do PP, Mário Negromonte, e de João Leão, ambos baianos e cardeais da Comissão de Orçamento.

Quem manda. Dois deputados da oposição na CPI do Apagão Aéreo que foram negociar com o presidente, Marcelo Castro (PMDB-PI), e com o relator, Marco Maia (PT-RS), a votação de seus requerimentos ouviram o mesmo conselho: quem decide, na verdade, é o vice-presidente, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Meu guri. A festa de aniversário de Aloizio Mercadante (PT-SP), na quarta, foi marcada pelo entusiasmo feminino com Chico Buarque. A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), a anfitriã, Roseana Sarney (PMDB-MA), e a líder da bancada do PT no Senado, Ideli Salvatti (SC), que na véspera haviam assistido ao show do cantor em Brasília, arriscaram até entoar canções.

Parque temático. Marta Suplicy teve anteontem sua primeira audiência com Lula após assumir o Turismo. A ministra propôs a criação, no ABC, da Cidade do Automóvel. O presidente se mostrou simpático à idéia e ainda sugeriu que o parque seja construído em São Bernardo do Campo, seu berço político.

Palmatória. Deputados tucanos, entre os quais o presidente da Assembléia, Vaz de Lima, saíram ontem de cabeça baixa do Palácio dos Bandeirantes, depois de ouvir poucas e boas de José Serra sobre a lentidão da base aliada para mudar o regimento da Casa e assim evitar a sistemática obstrução feita pelo PT.

Tiroteio

"A navalha cortou e expôs as entranhas de como é feito o Orçamento no Brasil. Agora precisamos fechar a ferida e mudar a forma de destinar os recursos públicos".
Do deputado FERNANDO GABEIRA (PV-RJ) sobre a Operação Navalha, que revelou um esquema de fraude em licitações de obras públicas.

Contraponto

A seu dispor

Um dia depois da aprovação do reajuste dos parlamentares, Chico Alencar (PSOL-RJ) explicava a um jornalista, no Salão Verde, as razões de seu voto contrário. Encerrada a entrevista, aproximou-se um senhor que tudo ouvira:
-Parabéns pela sua postura, deputado. Sempre concordo com o senhor. Mas tenho uma observação a fazer.
-Pois não?
-O senhor anda muito mal vestido.
-Ah, eu não ligo muito para roupa...
-Mas tem que ligar! Imagem é tudo. E, como deputado não ganha mais tão mal, aqui está o meu cartão.
No cartão do alfaiate se lia: "Ternos e camisas com atendimento VIP, tecidos nacionais e importados".


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