São Paulo, sexta-feira, 18 de maio de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Apuração prejudica segurança aérea, diz coronel na CPI

Militar da Aeronáutica afirma que país terá "um total decréscimo das condições de segurança de vôo" e que americanos não ajudam

Integrantes da Aeronáutica que investigam acidente da Gol declaram que não há problemas com os radares e as comunicações brasileiras


Lula Marques/Folha Imagem
O coronel da Aeronáutica Rufino Ferreira fala à CPI, na primeira vez que militares depuseram


LEILA SUWWAN
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em sessão da CPI do Apagão Aéreo que acabou em discussão e acusações de "blindagem" governista, os militares ligados à investigação do acidente do vôo 1907 deram poucas informações novas e aproveitaram para defender a Aeronáutica, pedir verbas e criticar a "busca de culpados" pela colisão do jato Legacy e do Boeing da Gol, que deixou 154 mortos.
Com participação limitada da minoria da oposição, o brigadeiro Jorge Kersul Filho e o coronel Rufino Antonio da Silva Ferreira, ambos do Cenipa (Centro Nacional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), defenderam o sistema militar de controle de tráfego aéreo, mas não falaram sobre providências que devem ser tomadas para melhorar a segurança de vôo no país.
De novidade, Rufino afirmou que as partes americanas envolvidas recusaram cooperação com a investigação aeronáutica. A ExcelAire (dona do Legacy), Joe Lepore e Jan Paladino (os pilotos americanos) e a FlightSafety (academia que treinou os pilotos) disseram que não prestarão informações.
O motivo é o uso das informações -como por exemplo os dados das caixas pretas- no inquérito da Polícia Federal, que já indiciou os pilotos.
"Não é necessário mais explicar o dano que isso faz. A comunidade internacional está bastante atenta a isso. Vamos ter um total decréscimo das condições de segurança de vôo", disse o coronel Rufino.
Ambos militares afirmaram que não existem problemas com os radares e as comunicações brasileiras, ambas questões que ainda estão sob investigação do Cenipa.

Primeira vez
Essa foi a primeira vez que militares depuseram em uma CPI. A transmissão ao vivo pela TV Câmara chegou a ser interrompida pela manhã, o que gerou mais reclamações da oposição. Com o suporte de pelo menos uma dúzia de militares à paisana no plenário, não enfrentaram constrangimentos.
O relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS), usou boa parte do tempo para falar de aviões a álcool ou debater a possibilidade de visualização dos pilotos de um avião em rota direta de colisão. A oposição acusou Maia de "gastar" o tempo para evitar perguntas que constrangessem os militares. "A oposição tem que chorar menos e trabalhar mais", disse.
"As pessoas que têm perguntas que incomodam a Aeronáutica não conseguem perguntar. A pizza já está forno", reclamou Luciana Genro (PSOL-RS).
"Os governistas querem abafar as investigações", disse Vanderlei Macris (PSDB-SP).
O clima ainda se agravou no final da sessão quando o presidente da CPI, Marcelo Castro (PMDB-PI), encerrou o depoimento do brigadeiro Kersul argumentando que a Ordem do Dia começara. "Não vou descumprir o regimento", disse.
Sobre as críticas de que o software brasileiro de controle aéreo induz ao erro, Rufino foi categórico: "Isso é uma característica, não um defeito".
Ambos militares se esquivaram de falar das recomendações de segurança feitas à Aeronáutica para dar aulas aos controladores e modificar o software, conforme revelou a Folha. Comentaram apenas que essas questões "levam tempo". Rufino confirmou que os procedimentos do manual não foram seguidos pelos controladores, mas disse que o sargento "não tinha consciência situacional de que a aeronave estava em rota de colisão".


Texto Anterior: Campanha: TRE desaprova as contas de Marta nas eleições de 2004
Próximo Texto: Senado instala CPI com farpas sobre Infraero
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.