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Entrevista
Ex-ministra é contra alterar regra de licenças
Ricardo Marques/Folha Imagem
| Marina Silva, ex-ministra que deve voltar ao Senado, concede entrevista em sua casa, em Brasília |
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Diferentemente do futuro
ministro do Meio Ambiente,
Carlos Minc, a ex-ministra
Marina Silva se opõe a mudanças nas regras do licenciamento ambiental. Ela prevê grandes desafios para o
"amigo" Minc.
A senadora falou à Folha
na tarde de sexta.
(MS)
FOLHA - Há pressão contra o
combate ao desmatamento?
MARINA SILVA - Há uma pressão muito grande, principalmente para revogar a resolução do Conselho Monetário, que determina que bancos
públicos e privados só financiem investimentos que estejam de acordo com a legislação ambiental.
FOLHA - Quando Blairo Maggi e
Ivo Cassol (RO) atacaram as medidas de combate ao desmatamento, Lula as defendeu?
MARINA - No momento do
embate, o presidente não estava presente. Blairo fez depois uma síntese do olhar
dos governadores, na forma
de informe, dizendo que as
medidas eram muito fortes.
Lula falou que era muito
mais vantajoso termos uma
queda de desmatamento.
FOLHA - Maggi diz que poucos
produtores têm licença ambiental e que a produção na Amazônia poderá parar por falta de crédito. Como resolver isso?
MARINA - Um passo importante é recadastrar as propriedades. Cerca de 20% se
recadastraram; 80% precisam apresentar plano de recuperação da reserva legal,
recuperar a área de proteção
permanente.
FOLHA - Há espaço para recuo
em um dos pilares do plano de
combate ao desmatamento?
MARINA - Há um risco de retrocesso. Mas a sociedade
brasileira não quer isso.
Quando caía um ministro da
Fazenda, era um reboliço.
Com a mudança no Meio
Ambiente, a opinião pública
ficou preocupada.
FOLHA - Quais foram os sinais
de que Lula poderá recuar?
MARINA - Ele vinha fazendo a
mediação entre os diferentes
olhares. Devido ao tensionamento em vários setores,
houve uma espécie de acomodação no avanço da agenda. Acho que Lula e o meu
amigo Carlos Minc têm o
respaldo da opinião pública
para o seguinte termo: queremos que proteja a Amazônia e que o Brasil cresça e se
desenvolva, mas queremos
as duas coisas.
FOLHA - Minc defendeu o uso de
áreas degradadas na Amazônia
para o cultivo de cana-de-açúcar.
Sua posição é outra, não?
MARINA - Na minha avaliação, não pode haver cultivo
de cana-de-açúcar nem nas
áreas já degradadas. Na
Amazônia, temos cinco projetos de cana-de-açúcar, da
década de 80, que devem ser
senis, não pode ampliar. Senão vai inviabilizar o biocombustível no país inteiro.
FOLHA - Minc defendeu mudanças na lei de licenciamento ambiental. A sra. diz que a lei é boa.
Ele está mal informado?
MARINA - Eu não sei exatamente o que o ministro Minc
está falando, ainda vamos
conversar. A minha tese é
que a lei é muito boa, não devemos mexer nessa legislação para flexibilizar, mas garantir a estrutura necessária para o licenciamento. Não é
justo dizer que a situação não
está andando.
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