São Paulo, domingo, 18 de maio de 2008

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Entrevista

Ex-ministra é contra alterar regra de licenças

Ricardo Marques/Folha Imagem
Marina Silva, ex-ministra que deve voltar ao Senado, concede entrevista em sua casa, em Brasília


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Diferentemente do futuro ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, a ex-ministra Marina Silva se opõe a mudanças nas regras do licenciamento ambiental. Ela prevê grandes desafios para o "amigo" Minc.
A senadora falou à Folha na tarde de sexta. (MS)  

FOLHA - Há pressão contra o combate ao desmatamento?
MARINA SILVA
- Há uma pressão muito grande, principalmente para revogar a resolução do Conselho Monetário, que determina que bancos públicos e privados só financiem investimentos que estejam de acordo com a legislação ambiental.

FOLHA - Quando Blairo Maggi e Ivo Cassol (RO) atacaram as medidas de combate ao desmatamento, Lula as defendeu?
MARINA
- No momento do embate, o presidente não estava presente. Blairo fez depois uma síntese do olhar dos governadores, na forma de informe, dizendo que as medidas eram muito fortes. Lula falou que era muito mais vantajoso termos uma queda de desmatamento.

FOLHA - Maggi diz que poucos produtores têm licença ambiental e que a produção na Amazônia poderá parar por falta de crédito. Como resolver isso?
MARINA
- Um passo importante é recadastrar as propriedades. Cerca de 20% se recadastraram; 80% precisam apresentar plano de recuperação da reserva legal, recuperar a área de proteção permanente.

FOLHA - Há espaço para recuo em um dos pilares do plano de combate ao desmatamento?
MARINA
- Há um risco de retrocesso. Mas a sociedade brasileira não quer isso. Quando caía um ministro da Fazenda, era um reboliço. Com a mudança no Meio Ambiente, a opinião pública ficou preocupada.

FOLHA - Quais foram os sinais de que Lula poderá recuar?
MARINA
- Ele vinha fazendo a mediação entre os diferentes olhares. Devido ao tensionamento em vários setores, houve uma espécie de acomodação no avanço da agenda. Acho que Lula e o meu amigo Carlos Minc têm o respaldo da opinião pública para o seguinte termo: queremos que proteja a Amazônia e que o Brasil cresça e se desenvolva, mas queremos as duas coisas.

FOLHA - Minc defendeu o uso de áreas degradadas na Amazônia para o cultivo de cana-de-açúcar. Sua posição é outra, não?
MARINA
- Na minha avaliação, não pode haver cultivo de cana-de-açúcar nem nas áreas já degradadas. Na Amazônia, temos cinco projetos de cana-de-açúcar, da década de 80, que devem ser senis, não pode ampliar. Senão vai inviabilizar o biocombustível no país inteiro.

FOLHA - Minc defendeu mudanças na lei de licenciamento ambiental. A sra. diz que a lei é boa. Ele está mal informado?
MARINA
- Eu não sei exatamente o que o ministro Minc está falando, ainda vamos conversar. A minha tese é que a lei é muito boa, não devemos mexer nessa legislação para flexibilizar, mas garantir a estrutura necessária para o licenciamento. Não é justo dizer que a situação não está andando.


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