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Elio Gaspari
Uma grande semana para a boa pintura
Francis Bacon, Lucien Freud e suas inquietantes figuras arrasaram nos leilões de arte de Nova York
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QUANDO DISSERAM ao pintor inglês
Francis Bacon (1909-1992) que
ele era o maior pintor vivo, sua
resposta foi breve: "Considerando a concorrência, isso não é um elogio". Ao preço de US$ 86 milhões, um tríptico de Bacon, pintado em 1976, acaba de se tornar
o quadro mais caro de um artista contemporâneo vendido num leilão. Quem
viu o primeiro "Batman" haverá de lembrar. Bacon é o autor daquele quadro que
o Joker (Jack Nicholson) não deixa destruir durante seu ataque ao museu de
Gotham City.
Marginal e jogador, Bacon usava lingerie feminina, maquiava-se e retocava o
cabelo com graxa de sapato. Anticomunista radical, acordou numa ressaca certo de que os russos haviam invadido
Londres. Noutros porres, pintou algumas de suas obras-primas.
No mesmo leilão em que Bacon valeu
US$ 86 milhões, uma mulher gorda e tenebrosa, pintada por seu amigo Lucien
Freud (neto do criador da marca) conseguiu US$ 33,6 milhões, tornando-se a
obra mais cara de um artista vivo comprada num leilão. Freud tem 85 anos. Ele
e Bacon têm uma característica comum:
atravessaram a metade do século 20 sem
se aproximar da arte abstrata. Faz pouco
tempo foi reeditado no Brasil o livro do
crítico inglês David Sylvester intitulado
"Entrevistas com Francis Bacon". É uma
viagem ao processo de criatividade de
um grande artista.
Quem tiver meia hora de domingo para perder com Bacon e Freud pode visitá-los na internet. Melhor do que perder
tempo com mentiras sobre os dossiês do
Planalto. Ambos estão no sítio O Século
Prodigioso. Bacon tem uma excelente
página oficial mas, infelizmente, o texto
é em inglês: www.francis-bacon.com.
OS MINISTROS SÃO FREGUESES DOS TRIBUNAIS
O drible pareceu fácil. Lula
criou um plano de desenvolvimento da Amazônia e entregou-o ao ministro Roberto
Mangabeira Unger, que transita do nada ao futuro. Fez isso porque supunha que bastava chamar a ministra Marina de "mãe do PAS" e o ego da senhora estaria amaciado. Nosso Guia se esqueceu da tenacidade das pessoas alfabetizadas aos 16 anos ou que, como
Marinete, sua irmã, foram
empregadas domésticas. A
"metamorfose ambulante"
enganou-se. Dando a impressão de que o colonialismo pernóstico do jornal inglês "The
Independent" tem alguma razão: "[A Amazônia] é importante demais para ser deixada
aos brasileiros".
Não tendo perdido o juízo, a
ministra preferiu perder o
pescoço. Feito o estrago, as
patrulhas do Planalto espalharam que Marina Silva foi
indelicada, pois foi-se embora
sem pedir demissão. Faz tempo que Madame Natasha ensina: "Só em português que se
pede demissão".
Nos outros idiomas, demissão se dá. Marina Silva exonerou o governo e nisso não
houve indelicadeza.
Num sinal dos deuses, dona
Marina fechou a conta no
mesmo dia em que o ex-ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, foi denunciado
pelo Ministério Público por
gestão fraudulenta, corrupção passiva e formação de
quadrilha. Seria exagero concordar com o professor Mangabeira quando ele disse que
"o governo Lula é o mais corrupto da nossa história", mas
Rondeau é o sétimo ministro
de Lula levado à barra dos tribunais pelos procuradores da
República. Seu gabinete ultrapassou a taxa de 10% de
maganos acusados de malfeitorias. (O ministério de Lula
já teve 65 titulares.)
Estão nos tribunais Antonio Palocci, José Dirceu, Luiz
Gushiken, Humberto Costa,
Benedita da Silva e o doutor
Silas. Walfrido Mares Guia
está denunciado por conta
de práticas anteriores ao atual
governo. Essa é a turma que
saiu porque não podia ficar.
Marina Silva é de outro plantel, o dos que foram embora
porque não quiseram permanecer.
GRAMPO
No ano passado, a Polícia Federal grampeou 49 mil telefones. Como o total nacional ficou em 409 mil, de cada 100 grampos, 12 estão na jurisdição
do ministro Tarso Genro.
TELEPRIVATARIA
Os comissários Guilherme
Lacerda, presidente da Funcef,
e Wagner Pinheiro, da Petros,
não gostam que se mencione a
vulnerabilidade dos fundos de
pensão de empresas estatais
que se envolvem com a banda
empresarial da teleprivataria.
Louvam suas gestões e dizem o
seguinte: "Em 2003, os atuais
gestores dos fundos de pensão
encontraram uma situação extremamente desfavorável nos
investimentos relacionados à
privatização da telefonia. Não
havia perspectivas de saída dos
investimentos, já estava instaurado um contencioso dos quotistas com o gestor dos investimentos feitos por meio de uma
estrutura complexa de governança, e a avaliação era de que
eram remotas as chances de se
recuperar o que foi investido na
época da privatização".
Considerando-se que as teles
da Viúva foram leiloadas em
1998, os doutores avisam que,
durante cinco anos, seus antecessores na direção da Funcef
e da Petros meteram-se em
pepinos, conflitos e maus negócios. Os doutores, que hoje
apadrinham a fusão da Oi/Telemar com a Brasil Telecom,
acham que tudo mudou com a
chegada deles.
Lacerda e Pinheiro talvez
não tenham percebido, mas informaram que o índice de vulnerabilidade histórica da Funcef e da Petros está em 50%.
Resta esperar mais uns cinco
anos para se ouvir o que dirão
seus sucessores.
A BASE DE BUSH
Em dezembro passado, Thomas Shannon, secretário-adjunto para a América Latina do
Departamento de Estado, passou pelo Brasil e fez uma bonita
frase: "Base militar é coisa do
século passado".
Lorota. Diante da decisão do
governo equatoriano de não renovar o contrato da Base de
Manta, o embaixador americano em Bogotá, William Brownfield, sugeriu que a traquitana
seja transferida para a Colômbia. A base de Manta é um centro de vigilância aeronaval para
reprimir o tráfico de cocaína.
Seus navios já foram usados para capturar embarcações que
levavam imigrantes clandestinos para os Estados Unidos.
Os americanos de Manta têm
o privilégio da extraterritorialidade e não podem ser processados nem julgados de acordo
com as leis equatorianas.
CONTA PESADA
O projeto de política industrial de Nosso Guia inclui a
criação de um Fundo de Garantia para a Construção Naval.
Coisa de R$ 400 milhões, mais
a promessa de R$ 50 bilhões em
encomendas da Petrobras nos
próximos sete anos.
Tomara que dê certo, porque
esse é o terceiro programa do
gênero cacifado pela geração de
brasileiros que têm mais de 50
anos. O primeiro veio no governo de JK e o outro, no de Ernesto Geisel. Em nenhuma época,
em nenhum país, uma só geração carregou fardo semelhante.
No projeto dos anos 70, o governo se tornou avalista de sete
estaleiros. Os navios não foram
construídos e as dívidas viraram papéis podres. Mais tarde,
bombados pelos juros, tornaram-se moeda boa para a compra de estatais da privataria. E
assim o banqueiro Julio Bozano ficou com a Usiminas, o porto de Tubarão e a Cosipa.
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