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Acordo aproxima Serra e Aécio para 2010
Coordenado pelo ex-presidente FHC, acerto de bastidores indica possibilidade de chapa única para a sucessão de Lula
Mineiro toparia ser vice em uma chapa só de tucanos; presidente do PSDB diz que acordo é possível, mas não vê disposição disso agora
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os dois potenciais candidatos do PSDB à Presidência fecharam um acordo informal
em que o governador de Minas
Gerais, Aécio Neves, aceitaria
ser vice do colega paulista José
Serra na eleição de 2010.
Por ora, haverá negativas ao
acerto, feito nos bastidores. A
intenção é anunciá-lo em agosto ou setembro deste ano, eliminando as prévias.
Na última semana, Aécio
manteve sua postulação pública à candidatura. Serra sempre
diz que está preocupado em governar São Paulo e não em antecipar o debate eleitoral.
Segundo a Folha apurou, o
principal articulador do entendimento foi o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso
(1995-2002), que almoçou com
Aécio em 13 de março, em São
Paulo. O ex-presidente disse
que uma divisão entre Serra e
Aécio poderia levar o PSDB a
ser derrotado pela provável
candidata do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, a ministra
Dilma Rousseff (Casa Civil).
FHC argumentou que Serra
não desistiria, que tinha mais
cacife nas pesquisas e que dificilmente isso mudaria até o início do ano que vem, quando a
chapa tem de ser formalizada.
Ponderou que Serra precisa
de Minas (segundo maior colégio eleitoral do país) para vencer. Também disse que, se Aécio fosse candidato sem entusiasmo de Serra, seria difícil
derrotar o PT. Foi direto: a
conta pela derrota seria debitada do mineiro.
O ex-presidente disse que
Serra era sincero ao propor
que, se vencesse, tentaria aprovar uma emenda constitucional no Congresso para enterrar
a reeleição e reinstituir o mandato presidencial de cinco
anos. Mais: daria a Aécio poder
de fato num eventual governo.
Aécio duvidou, mas houve
uma outra conversa importante. Serra foi a Belo Horizonte
em 27 de abril, dois dias após o
anúncio de que Dilma sofre de
câncer linfático, para reforçar a
proposta feita por FHC e acertar um ritual para tirar gás das
prévias, proposta defendida
pelo mineiro.
Serra disse a Aécio que uma
chapa com os dois seria muito
competitiva. Afirmou que o
DEM apoiaria e que seria possível tentar fechar uma aliança
com o PMDB nos três Estados
da região Sul. Isso, na visão de
Serra, equilibraria a vantagem
petista no Nordeste e poderia
decidir a sucessão presidencial
a favor da oposição.
O presidente do DEM, Rodrigo Maia (RJ), confirmou
que a sigla topa apoiar a chapa
"puro sangue". Naturalmente,
disse preferir ver um democrata como vice, mas não se opõe a
outro acerto. "A aliança com os
democratas ajuda muito na capilaridade de votos pelo país."
O tratamento de saúde de
Dilma, que extraiu um linfoma
e faz quimioterapia preventiva,
aumentou a incerteza política e
criou ambiente para o PSDB
tentar seduzir o PMDB, partido que tem hoje seis ministérios no governo Lula.
Aécio queria ser candidato
ao Palácio do Planalto com respaldo informal de Lula. Mas o
presidente deixou claro que o
projeto Dilma era para valer.
Em outubro de 2010, Serra
terá 68 anos -a idade é vista
como uma barreira a tentativas
futuras de chegar ao Planalto.
O governador paulista pretende oferecer gestos para dar a
Aécio uma saída honrosa da
pré-candidatura. O mineiro terá holofotes para pregar sua receita para o Brasil.
O presidente nacional do
PSDB, senador Sérgio Guerra
(PE), confirma que um acordo
é possível, e diz que o cenário
atual é o de ter os dois nomes
sendo expostos como presidenciáveis pelo Brasil. "O Aécio
não teria disposição de abrir
mão da vaga neste momento.
Mas acho que, pelo fim do segundo semestre, tem chances
de isso acontecer, esse seria o
cenário ideal, que os dois se entendessem", disse.
A opinião é a mesma do deputado federal Arnaldo Madeira (PSDB-SP). "Esse assunto
vai ficar mais para frente. Neste momento eu não vi e não
acredito [no acordo], mas tem
muita gente trabalhando para o
entendimento", disse.
Um dos principais interlocutores de Aécio, Rodrigo de Castro (MG), deputado federal e
secretário-geral do PSDB, diz
que o acordo neste momento
"não tem o menor cabimento".
"O afã dele [Aécio] é de correr o
Brasil todo", afirma ele.
Colaboraram MARIA CLARA CABRAL, da
Sucursal de Brasília, e GABRIELA GUERREIRO ,
da Folha Online, em Brasília
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