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Estudo eleva em 69 número de desaparecidos na ditadura
Segunda edição de levantamento da comissão de familiares elenca 426 casos
Avanço se deu em parceria com Embaixada do Brasil na Argentina; na estatística entraram casos de supostos suicídios cometidos em cela
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Um abrangente estudo sobre
assassinatos de opositores ao
governo e militantes da esquerda armada durante a ditadura
(1964-1985), elaborado pelos
próprios familiares e lançado
em forma de livro em abril último, acrescentou 69 novos casos aos já conhecidos e admitidos pelo governo federal. O número final ficou em 426 mortos
e desaparecidos políticos dentro e fora do país no período.
Há dois anos, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos
narrou 357 casos de mortos e
desaparecidos no livro "Direito
à Memória e à Verdade", segundo as contas feitas pelos familiares. O número era o mesmo
que constava do primeiro levantamento organizado pela
Comissão dos Familiares de
Mortos e Desaparecidos Políticos, divulgado em 1995.
Nos últimos 14 anos, a comissão coletou depoimentos e cartas de ex-presos políticos e teve
acesso a documentos que até
1995 estavam vetados ao público. O trabalho resultou em um
livro de 767 páginas, editado
pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.
Um dos principais avanços
foi a pesquisa realizada pela comissão em conjunto com a Embaixada do Brasil na Argentina
e o Arquivo Nacional de Memória da Argentina. Descobriu-se
que há cinco casos de desaparecidos na Argentina cujos pais
ou mães são brasileiros. O dossiê vinculou esses crimes à
Operação Condor, que mobilizou as ditaduras da América do
Sul no combate às organizações
de esquerda na década de 70.
Alguns dos casos "novos" são
exemplos de como o Estado militar atingiu pessoas com pouca
ou nenhuma atividade política.
José Sabino, por exemplo, foi
morto a tiros em uma manifestação em maio de 1966, no Rio.
Na estatística, entraram supostos suicídios cometidos em
celas do aparelho repressor
-reais, embora provocados por
uma situação de intensa pressão física e psicológica, ou fictícios, usados para ocultar um assassinato sob tortura.
Um dos suicídios supostamente montados pelo aparelho
repressor é o do espanhol Miguel Sabat Nuet, morto por enforcamento no Dops de São
Paulo. Seus familiares, finalmente localizados após 34
anos, deverão receber os restos
mortais exumados no decorrer
de investigação lançada pelo
Ministério Público Federal.
O dossiê relaciona mortes de
pessoas que passaram por intensa tortura e se mataram depois, como o estudante de engenharia Juan Antônio Forrastal, torturado no quartel de
Quitaúna (SP), em 1969. Três
anos depois, ele se matou num
hospital em Madri, na Espanha, segundo familiares.
"À medida que se abre a
questão da ditadura, que se discute mais e que o governo abre
seus arquivos, as famílias passam a se manifestar, a procurar
as reparações. Por isso, o número conhecido de vítimas
cresceu", disse Criméia Almeida, integrante da comissão dos
familiares. Criméia lutou na
guerrilha do Araguaia.
Além dela, o levantamento
foi organizado pela historiadora Janaina Teles, por Maria
Amélia Teles e por Suzana Lisbôa, que, durante a ditadura, foi
militante de organizações clandestinas de esquerda e, nos
anos 90, representou os familiares na comissão montada pelo governo para averiguar casos
e indenizar familiares.
A família Teles move ação
contra o coronel reformado do
Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra, apontado como
um dos principais torturadores
e comandante do DOI-Codi em
São Paulo, órgão da repressão
militar, por quatro anos. Em livros e declarações, Ustra nega
que tenha sido torturador ou
responsável por tortura e morte de oposicionistas.
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