São Paulo, quinta-feira, 18 de junho de 2009

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Lula defende Sarney e critica o "denuncismo" da imprensa

Presidente questiona série de acusações e diz que senador não é "pessoa comum"

Presidente diz que série de denúncias é perigosa para as instituições e que seria muito pior ter um Congresso "desmoralizado e fechado"


Ricardo Stuckert/Presidência da República
Ao lado do presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, Lula passa tropas em revista

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL A ASTANA (CAZAQUISTÃO)

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rechaçou o que chamou de "denuncismo" em torno dos escândalos no Senado e saiu em defesa do presidente da Casa, José Sarney, que na véspera havia afirmado que não era responsável pela crise.
Lula questionou a veracidade das revelações de irregularidades no Senado, mas pediu uma "investigação séria". O presidente também fez um alerta à imprensa, afirmando que, ao questionar as práticas do Congresso, sua própria credibilidade poderá ser abalada.
As declarações foram feitas pouco antes de Lula embarcar de volta ao Brasil de Astana, capital do Cazaquistão, onde encerrou uma viagem que incluiu passagens por Suíça e Rússia.
"Eu sempre fico preocupado quando começa no Brasil esse processo de denúncias, porque ele não tem fim, e depois não acontece nada", disse Lula.
Em seguida, defendeu um tratamento diferenciado para o presidente do Senado: "Sarney tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum", argumentou, sem explicar o tipo de tratamento diferenciado a que se referia. Na terça, Sarney usou a tribuna para se defender das acusações de conivência com atos secretos e de empregar parentes na Casa.
Lula pôs em dúvida a série de irregularidades: "É importante investigar para ver o que houve. Mas o que ganharia o Senado em ter uma contratação secreta se tem mais de 5.000 funcionários transitando por aqueles corredores? Por que haveria de ter alguém secreto?", indagou, indicando que há interesses por trás das denúncias".
"Eu acho que essa história precisa ser melhor explicada. Eu não sei a quem interessa enfraquecer o Poder Legislativo no Brasil, mas eu penso o seguinte: a democracia, quando teve o Congresso Nacional desmoralizado e fechado, foi muito pior para o Brasil", disse.
Lula já havia saído em defesa do Congresso no início de maio, após a revelação da farra das passagens aéreas. Na época, ele classificou as críticas de hipócritas ("Faça um levantamento da história da Câmara e veja se algum dia foi diferente? Sempre foi assim") e revelou que ele mesmo usou a cota de seu gabinete para levar sindicalistas para Brasília, quando era deputado: "Não acho correto, mas não acho um crime um deputado dar uma passagem para um dirigente sindical ir a Brasília".
Ontem, Lula disse que as denúncias trazem riscos para as instituições. "É importante que a gente comece a fazer a preservação das instituições, separar o joio do trigo e, se tiver alguma coisa errada, que haja uma investigação correta", disse.
A esta altura da entrevista a jornalistas brasileiros num hotel de Astana, ele voltou seus ataques contra a imprensa: "O que não pode é todo dia arrumar uma vírgula a mais ou repetir a mesma matéria. Vai desmoralizando todo mundo, e inclusive a imprensa corre risco de ser desacreditada".
Lula não quis citar que medidas devem ser tomadas para moralizar o Senado, mas disse que apoia uma investigação para colocar o assunto em pratos limpos: "É importante a gente não ficar na política do denuncismo, porque o resultado final não é bom. Se tem uma coisa equivocada, a melhor coisa é uma investigação séria, pegar o resultado e tomar as decisões que tem que tomar", afirmou.
Lula disse não temer que os respingos de escândalo em aliados do governo atinjam seu governo, que, segundo a última pesquisa Datafolha, era aprovado por 69% do eleitorado. A mesma pesquisa indicou um recuo na taxa de desaprovação ao Congresso (de 37%, em março, para 34%) e um aumento na aprovação (de 16% para 19%).
Também afirmou esperar que o episódio tenha um desfecho em breve: "Todos os senadores, a começar por Sarney, tem responsabilidade de dirigir bem os destinos do país, do Congresso. Vamos esperar que as coisas se resolvam rápido".


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