São Paulo, domingo, 18 de julho de 2004

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TODA MÍDIA

Mudou a maré

NELSON DE SÁ

Do Jornal da Globo:
- O mercado não faz passeatas em favor da política econômica, mas emite sinais claros de que adora Antonio Palocci.
Foi o que aconteceu no fechamento da semana, depois que o ministro defendeu no "Financial Times" a autonomia do Banco Central. A Bolsa subiu, o dólar caiu e o risco Brasil "ficou bem abaixo dos 600 pontos".
O "clima de quase euforia" não foi efeito só da entrevista, mas dos "indicadores positivos". Que o diga Paulo Leme, economista-chefe na Goldman, Sachs & Co., ontem na Bloomberg:
- O crescimento se alastra, o consumo está renascendo, a renda está se recuperando, os investimentos privados entraram em fase de retomada.
E agora ele também aposta em 4% de crescimento no ano.
Em "quase euforia", no entanto, Leme ainda perde para o "New York Times", que abriu assim uma reportagem:
- As exportações explodem. A produção industrial cresce há nove meses. As vendas no comércio estão se recuperando. E o desemprego começa a cair.
São "todos sinais" de que o país "está se reerguendo com mais força do que se esperava". Título do "International Herald Tribune" para a mesma reportagem:
- A maré mudou no Brasil.
Mas, em "quase euforia", todos perdem para o ministro Luiz Furlan. Segundo a "Época", ele "já fala em crescimento de 5%".

 

E Palocci nem havia falado ainda, o que fez ontem na Globo, em "reduzir os impostos".
 

Para além do mercado, a maré mudou nas ruas.
Os jornais da Band e da Record destacaram na sexta a passeata da CUT "contra a política econômica". A rádio Band notou que era Dia Nacional de Luta por Mudança na Política Econômica.
Contra Palocci. A passeata parou até "na frente da sede do Banco Central", em São Paulo.
 

Mas não foi a manifestação da CUT que assustou o ministro, anteontem. Da "Veja":
- Um Learjet da FAB no qual viajava Palocci teve de fazer uma manobra arriscada para se desviar de um urubu.
O ministro teve "um susto monumental", nada mais:
- E assim o risco Brasil manteve a sua rota de queda.

ARDE ARGENTINA

"La Nación" e "Clarín" (à dir.) deram manchete, mas foi o "Ámbito Financiero" o mais assustador: "O dia mais violento desde a queda de Fernando de la Rúa". A sombra persegue o presidente Néstor Kirchner até no "Le Monde", que deu reportagem sublinhando a ameaça feita por um dos líderes dos manifestantes:
- A cada dia, Kirchner está mais parecido com De la Rúa. Como ele, não terminará seu mandato.
Não é à toa que Kirchner anda atrás de inimigo externo.

ARDE BOLÍVIA

Em sua seção "Arde Bolívia", o site "Rebelión" brada contra a Petrobras e os "governos do Brasil e dos EUA". Na radicalização boliviana, nem o líder indígena Evo Morales escapa, tachado de "direita" por se opor à nacionalização do gás a ser decidida hoje.
Falando ao "Valor", o presidenciável Morales modera o discurso, como Lula: "Somos aliados dos empresários".

Libertadores
Mais que nos outros, ecoou nos jornais da Venezuela, como "El Universal", a notícia de que a Petrobras deve levar o Brasil à auto-suficiência em petróleo no meio do ano que vem.
Hugo Chávez, segundo o "Valor", quer a união das estatais de petróleo latino-americanas.

Beterraba
O "Wall Street Journal" elogiou a proposta da União Européia de cortar os subsídios ao açúcar -citando o ministro Roberto Rodrigues, segundo o qual parte do mercado vai para o Brasil.
Mas o "Le Monde" já noticiava, anteontem, que os produtores de beterraba da França apelaram ao presidente Jacques Chirac, contra a proposta "severa demais".

Português x inglês
A agência Reuters deu que o fascínio dos brasileiros pelo Orkut começa a incomodar:
- O Brasil tem trombado com os EUA nos subsídios agrícolas, no Iraque, mas nenhum conflito é tão pessoal como o que está sendo travado na internet.
Os brasileiros invadem o Orkut com mensagens em português, que americano nenhum entende.

"NYT" humilde
O "New York Times" voltou a pedir desculpas, agora em editorial, por ter aceito sem questionar as justificativas de George W. Bush para a invasão do Iraque. Do texto, anteontem:
- Estávamos errados sobre as armas de destruição em massa.
E sobre a própria invasão:
- Nós não podemos fingir que foi uma boa idéia.

Bucaneiros
Outro editorial do "NYT", este na quinta, mencionou os riscos, mas elogiou com bom humor, até citando o lendário jornalista independente H.L. Mencken, a entrada dos blogs "bucaneiros" na cobertura das convenções partidárias -os maiores eventos das campanhas presidenciais.

Sensibilidades
O canal árabe Al Jazira, às voltas com os vídeos da Al Qaeda com ameaças de assassinato, soltou na semana um código de ética. Defendeu seu direito de mostrar "o lado feio da guerra", mas incluiu, nas novas normas:
- Levar em consideração as sensibilidades ocidentais e árabes antes de transmitir imagens sangrentas de violência.


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