São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 2008

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PF libera trechos de reunião e insiste que delegado quis sair

Divulgação de conversa sobre saída de Protógenes ocorreu após determinação de Lula

Delegado se ofereceu para concluir investigação da Satiagraha durante os finais de semana, mas cúpula da polícia não concordou


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A direção da Polícia Federal em Brasília divulgou ontem três minutos e 55 segundos da gravação de quase três horas da reunião realizada na Superintendência da PF em São Paulo, na segunda-feira, em que ficou acertada a saída do delegado Protógenes Queiroz da condução da Operação Satiagraha.
A intenção da PF é comprovar que Queiroz deixou o caso por iniciativa própria, contestando a versão de que ele foi afastado por ordem do comando da corporação. No entanto, os trechos divulgados ontem não deixam isso claro.
Segundo a PF, não foi possível abrir toda a gravação porque teriam sido abordados na conversa diversos aspectos sigilosos da investigação.
A decisão de divulgar oficialmente os trechos da gravação foi tomada depois de reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o ministro Tarso Genro (Justiça) e o diretor-geral interino da PF, Romero Menezes, ontem de manhã, no Planalto. Na reunião, Lula optou pela divulgação dos trechos para, segundo relato de presentes, evitar que continuassem a ser divulgadas versões "mentirosas" sobre a saída de Queiroz.
Participaram do encontro de segunda Queiroz e sua equipe, o superintendente da PF de São Paulo, Leandro Coimbra, e dois membros da cúpula da PF em Brasília, o diretor de Combate ao Crime Organizado, Roberto Ciciliati Troncon Filho, e o chefe da Divisão de Repressão a Crimes Financeiros, Paulo Teixeira. Ao todo, foram 12 pessoas. A conversa foi gravada por decisão de Troncon.
Na próxima semana, Queiroz inicia a parte presencial do Curso Superior da PF, condição necessária para ser promovido após dez anos na função de delegado. Para não abrir mão do curso, ele se ofereceu para continuar com a investigação nos finais de semana, o que não foi aceito pela cúpula da PF.
Nos trechos divulgados ontem, após sua sugestão não ter sido aceita, ele, então, se prontifica a concluir até hoje o principal inquérito da investigação e diz que não pretende voltar a presidir o caso após o curso.
"E até mesmo depois da Academia eu não pretendo [reassumir os inquéritos]. A minha proposta é que eu fico até o final da operação. A minha proposta é essa. Permanecer minha vinculação até o final desse trabalho, para não ficar aquela pecha de que Brasília vem fazer operação nos Estados e deixa no meio do caminho", disse ele. "As minhas nunca ficaram no meio do caminho, as minhas nunca ficaram. E, a exemplo dessa, não vai ficar, só que com um diferencial: eu não pretendo presidir nenhuma investigação, ficarei no apoio do trabalho", completou.
Troncon, seu chefe imediato, disse em seguida: "Se eventualmente, dentro do desdobramento natural desse inquérito que se instaurou, você conseguir concluir antes do período da Academia, sem nenhum problema. Agora, se não conseguir, dentro da melhor técnica, você falar "não, requer mais tempo, maior análise", aí a gente passa para um dos colegas".
No começo, Queiroz elogiou Troncon de forma enfática, falando bem também do diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa. Ele admitiu que houve erros na execução da operação. "Aqui é uma avaliação de erros, para nós nos corrigirmos e nos policiarmos. Então houve a presença da imprensa aqui em São Paulo? Houve. Falhou? Falhou. Quem falhou? Queiroz falhou, porque doutor Troncon me depositou e eu firmei compromisso com ele, mas falhou ao meu controle."
A amigos, segundo a Folha apurou, Queiroz passou a difundir na terça-feira a versão de que ele tinha sido obrigado a se afastar por ter contrariado ordens de seus superiores.


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