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Juiz do caso Dantas anuncia férias e diz que "não dá para ter PF de faz-de-conta'
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Abatido e com os olhos marejados, o juiz federal Fausto
Martin De Sanctis, que mandou duas vezes o banqueiro Daniel Dantas para a prisão, afirmou ontem que não vai se intimidar diante de eventuais
ameaças ou tentativas de desacreditar o seu trabalho.
"Estou exaurido", disse em
tom de desabafo. O juiz revelou
que entrará em férias por 15
dias na próxima segunda-feira.
Segundo ele, já estavam programadas "há muito tempo".
De Sanctis tem sido criticado
pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro
Gilmar Mendes, e por advogados criminalistas. O ministro,
que determinou a soltura imediata de Dantas, enviou cópia
da decisão do juiz a órgãos que
investigam magistrados.
Ao mesmo tempo, defensores do banqueiro pediram formalmente ao próprio juiz que
se afaste do caso.
"Não sei o que está por trás
de tudo isso. As pessoas parecem que não querem que eu tome decisões. Não sei o porquê.
O importante é que vou continuar. A minha decisão pode estar certa ou errada, mas é a convicção de um juiz independente", disse De Sanctis.
Questionado sobre eventuais
ameaças, disse que isso "não é o
que mais importa". "O que importa é que eu não deixo de agir
por medo. Se um juiz é passível
de ameaças? É. Mas essas
ameaças não podem tolher o
exercício da função", afirmou.
Sobre eventual pedido de
proteção policial, repetiu: "Isso
não importa" -o juiz se encontrou ontem com o superintendente da PF em São Paulo,
Leandro Coimbra, que disse ter
tratado de outro assunto.
Durante a entrevista concedida ontem na sala de audiência da 6ª Vara Criminal de São
Paulo, De Sanctis se mostrou
nervoso. Reclamou dos repetidos flashs com uma fotógrafa.
Pelo menos por quatro vezes
teve lapsos de memória enquanto falava. Ressaltou que
não falaria do caso específico,
mas de forma genérica. Insistiu
ainda para que suas declarações não fossem deturpadas.
Somente quando começou a
discorrer sobre legislação criminal é que De Sanctis pareceu
recobrar a tranqüilidade, que o
acompanhou até o final da entrevista. Criticou duas novas
leis que, segundo ele, irão "inviabilizar a investigação criminal no Brasil".
"Que interesse está por trás
disso? Quem não quer que a
Polícia Federal trabalhe? Se for
assim, vamos fechar as portas
da PF. Não dá para ter um órgão de faz-de-conta", afirmou.
Quando declarou isso, o juiz
tratava especificamente das
leis recentemente aprovadas
no Congresso, a 11.689 e a
11.690, ambas de 2008, que modificam o Código de Processo
Penal. Ele afirmou não estar se
referindo ao caso do banqueiro
Daniel Dantas nem ao afastamento do delegado Protógenes
Queiroz da investigação.
"Por favor, que isso fique
bem claro, eu não quero falar
do caso concreto."
Polícia Federal
De Sanctis evitou comentar a
saída de Protógenes. Afirmou
que isso é uma questão interna
da Polícia Federal e que só espera que o novo delegado tenha
o espírito investigativo.
Sobre o pedido de afastamento formulado pelo advogado de Dantas, afirmou que analisará isso depois dos 15 dias de
férias. "Esse é um instrumento
legal. Vejo com serenidade. Já
sofri isso em outros processos,
como no caso do banco Santos e
do MSI-Corinthians. Em nenhum momento os pedidos foram acatados pelo tribunal."
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