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Sarney se diz injustiçado e culpa imprensa pela crise
Em discurso para 5 dos 81 senadores, presidente admite problemas legais e éticos na Casa
Peemedebista lamentou ter perdido apoio do DEM, falou dos atos secretos sem citar familiares beneficiados e negou desvio ético ou moral
J. Freitas/Agência Salvador
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O presidente do Senado, José Sarney (PMDB - AP), ontem, durante discurso em que fez balanço do semestre no plenário da Casa
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao fazer ontem um balanço
do último semestre, o presidente do Senado, José Sarney
(PMDB-AP), admitiu ter feito
avaliações erradas, culpou a
imprensa e afirmou que a crise
administrativa da Casa ficou
personalizada nele. Deixou claro que vai permanecer no cargo
e combater "injustiças com o
silêncio, a paciência e o tempo".
Sarney discursou da cadeira
da presidência para um plenário com 5 dos 81 senadores. Falou por 22 minutos sem interrupção. Leu quase todo o discurso, que incluiu a lista de 40
medidas para combater a crise.
"Assumi a presidência com o
duplo desafio de renovar a sua
estrutura administrativa e restaurar a sua atividade política.
Infelizmente, avaliei mal. As
circunstâncias tornaram a reforma administrativa numa
pretensa crise de desmoralização do Senado e inviabilizaram
a discussão dos grandes temas",
afirmou o senador.
Ao dizer que tomou medidas
de modernização e saneadoras,
Sarney admitiu a existência de
"graves problemas de natureza
ética e legal que foram revelados quando começamos a examinar as condições prevalecentes de funcionamento".
Ele assumiu a presidência
em 2 de fevereiro deste ano,
após derrotar Tião Viana (PT-AC). No dia 3 de março, ele teve
de exonerar o então diretor-geral do Senado, Agaciel da Silva
Maia, depois de a Folha revelar
que o funcionário escondeu da
Justiça uma casa avaliada em
R$ 5 milhões. Sete dias depois,
surge uma nova denúncia: o Senado havia pago, no período de
férias, horas extras para 3.883
servidores.
Atos
Mais recentemente, a revelação feita pelo jornal "O Estado
de S. Paulo" de que foram editados no Senado 663 atos secretos levou Sarney para o centro
da crise.
Os atos foram publicados
quando Agaciel esteve na Direção Geral. Homem de confiança de Sarney, Agaciel ganhou o
cargo há 14 anos por indicação
do senador.
Sarney culpou a imprensa
pelo agravamento da crise. ""O
Estado de S. Paulo" iniciou uma
campanha pessoal contra mim,
obrigando os outros jornais e a
televisão a repercuti-la."
No discurso, usou o termo
ato secreto para referir-se ao
que chamava, até então, de medidas administrativas sem publicação. Em nenhum momento, porém, ele reconheceu que
teve parentes (duas sobrinhas e
um neto) citados em atos secretos e fez questão de ressaltar
que não teve nenhum desvio
ético ou moral.
"Meu trabalho exige a sedimentação de uma profunda
consciência moral de minhas
responsabilidades, a obstinada
decisão de não cometer erros e
jamais aceitar qualquer arranhão nos procedimentos éticos
que devem nortear minha conduta. Não são palavras. São 50
anos de assim proceder."
Sarney lamentou ter perdido
o apoio do DEM, que o apoiou
na eleição para presidente.
"Disputas políticas se confundiram com a administração."
O DEM foi o primeiro partido a pedir formalmente o seu
afastamento da presidência. Isso ocorreu logo depois de a divulgação de que um neto de
Sarney operou no milionário
mercado de crédito consignado
do Senado.
Em seguida, o PSDB, o PDT e,
num primeiro momento, o PT
também pediram para ele se licenciar. Depois, o PT recuou e
adotou um discurso dúbio.
No fim do discurso, Sarney
citou o filósofo e escritor romano Lúcio Aneu Sêneca (morto
em 65 d.C.): "As grandes injustiças só podem ser combatidas
com três coisas: o silêncio, a paciência e o tempo".
Geraldo Mesquita Jr.
(PMDB-AC), Cristovam Buarque (PDT-DF), Alvaro Dias
(PSDB-PR) e Roberto Calvacanti (PRB-PB) assistiram à
maior parte da fala. João Pedro
(PT-AM) chegou quando os colegas faziam comentários.
Alvaro Dias afirmou que há
"uma convergência" da crise do
Senado em cima de Sarney.
"Isso é indiscutível, até pela
sua história, pela sua importância política, pelo seu prestígio."
Leia a íntegra do discurso
de José Sarney no plenário
do Senado ontem
www.folha.com.br/091981
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