São Paulo, sábado, 18 de julho de 2009

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Sarney se diz injustiçado e culpa imprensa pela crise

Em discurso para 5 dos 81 senadores, presidente admite problemas legais e éticos na Casa

Peemedebista lamentou ter perdido apoio do DEM, falou dos atos secretos sem citar familiares beneficiados e negou desvio ético ou moral


J. Freitas/Agência Salvador
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB - AP), ontem, durante discurso em que fez balanço do semestre no plenário da Casa

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao fazer ontem um balanço do último semestre, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), admitiu ter feito avaliações erradas, culpou a imprensa e afirmou que a crise administrativa da Casa ficou personalizada nele. Deixou claro que vai permanecer no cargo e combater "injustiças com o silêncio, a paciência e o tempo".
Sarney discursou da cadeira da presidência para um plenário com 5 dos 81 senadores. Falou por 22 minutos sem interrupção. Leu quase todo o discurso, que incluiu a lista de 40 medidas para combater a crise. "Assumi a presidência com o duplo desafio de renovar a sua estrutura administrativa e restaurar a sua atividade política.
Infelizmente, avaliei mal. As circunstâncias tornaram a reforma administrativa numa pretensa crise de desmoralização do Senado e inviabilizaram a discussão dos grandes temas", afirmou o senador.
Ao dizer que tomou medidas de modernização e saneadoras, Sarney admitiu a existência de "graves problemas de natureza ética e legal que foram revelados quando começamos a examinar as condições prevalecentes de funcionamento".
Ele assumiu a presidência em 2 de fevereiro deste ano, após derrotar Tião Viana (PT-AC). No dia 3 de março, ele teve de exonerar o então diretor-geral do Senado, Agaciel da Silva Maia, depois de a Folha revelar que o funcionário escondeu da Justiça uma casa avaliada em R$ 5 milhões. Sete dias depois, surge uma nova denúncia: o Senado havia pago, no período de férias, horas extras para 3.883 servidores.

Atos
Mais recentemente, a revelação feita pelo jornal "O Estado de S. Paulo" de que foram editados no Senado 663 atos secretos levou Sarney para o centro da crise. Os atos foram publicados quando Agaciel esteve na Direção Geral. Homem de confiança de Sarney, Agaciel ganhou o cargo há 14 anos por indicação do senador.
Sarney culpou a imprensa pelo agravamento da crise. ""O Estado de S. Paulo" iniciou uma campanha pessoal contra mim, obrigando os outros jornais e a televisão a repercuti-la."
No discurso, usou o termo ato secreto para referir-se ao que chamava, até então, de medidas administrativas sem publicação. Em nenhum momento, porém, ele reconheceu que teve parentes (duas sobrinhas e um neto) citados em atos secretos e fez questão de ressaltar que não teve nenhum desvio ético ou moral.
"Meu trabalho exige a sedimentação de uma profunda consciência moral de minhas responsabilidades, a obstinada decisão de não cometer erros e jamais aceitar qualquer arranhão nos procedimentos éticos que devem nortear minha conduta. Não são palavras. São 50 anos de assim proceder."
Sarney lamentou ter perdido o apoio do DEM, que o apoiou na eleição para presidente. "Disputas políticas se confundiram com a administração." O DEM foi o primeiro partido a pedir formalmente o seu afastamento da presidência. Isso ocorreu logo depois de a divulgação de que um neto de Sarney operou no milionário mercado de crédito consignado do Senado.
Em seguida, o PSDB, o PDT e, num primeiro momento, o PT também pediram para ele se licenciar. Depois, o PT recuou e adotou um discurso dúbio. No fim do discurso, Sarney citou o filósofo e escritor romano Lúcio Aneu Sêneca (morto em 65 d.C.): "As grandes injustiças só podem ser combatidas com três coisas: o silêncio, a paciência e o tempo". Geraldo Mesquita Jr.
(PMDB-AC), Cristovam Buarque (PDT-DF), Alvaro Dias (PSDB-PR) e Roberto Calvacanti (PRB-PB) assistiram à maior parte da fala. João Pedro (PT-AM) chegou quando os colegas faziam comentários. Alvaro Dias afirmou que há "uma convergência" da crise do Senado em cima de Sarney. "Isso é indiscutível, até pela sua história, pela sua importância política, pelo seu prestígio."

Leia a íntegra do discurso de José Sarney no plenário do Senado ontem

www.folha.com.br/091981

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