São Paulo, sábado, 18 de julho de 2009

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Casa de Sarney serviu para reunião de lobby

Encontro entre grupo empresarial Abyara e vice-presidente da Caixa, em março de 2008, foi intermediado por Fernando Sarney

Empresa queria empréstimo de R$ 750 milhões do banco e até assinou um protocolo de intenções, mas operação foi abortada pela crise financeira


ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

A casa do senador José Sarney, em Brasília, serviu de ponto de encontro para aproximar o grupo empresarial Abyara, de São Paulo, com Fábio Lenza, vice-presidente da Caixa Econômica Federal, em março do ano passado.
A empresa queria um empréstimo de R$ 750 milhões da CEF para financiar empreendimentos imobiliários e pediu ajuda de Fernando Sarney, filho do senador, para contato direto com a direção da Caixa.
A Abyara chegou a assinar um protocolo de intenções para o empréstimo, mas a operação não se realizou, em razão da crise do mercado financeiro.
Fábio Lenza foi nomeado para a vice-presidência da Caixa por influência de Sarney. A irmã dele, Olga Lenza, é chefe de gabinete da governadora Roseana Sarney, no Maranhão.
O local para o encontro foi indicado por Fernando Sarney, segundo telefonemas gravados pela Polícia Federal no dia 5 de março de 2008, durante a Operação Boi Barrica, que investigou o filho do senador.
O encontro ocorreu no início da noite. Às 18h46, Fernando Sarney falou pelo celular com Paulo Nagem -um empresário de São Luís, de quem é amigo-, que acompanhou o pessoal da Abyara na viagem a Brasília e passou o endereço da reunião.
Depois, ele ligou para o celular de Fábio Lenza, informando que o pessoal estava a caminho da casa de seu pai. Lenza disse que seguiria para lá.
Alguns telefonemas foram resumidos e outros transcritos em relatório da PF de 2008 no qual Fernando é acusado de tráfico de influência em órgãos públicos e estatais para favorecer negócios privados. Na quarta-feira, a PF indiciou o empresário sob acusação de quatro crimes. O relatório cita o episódio da Abyara como exemplo de tráfico de influência.

Personagens
A PF não identifica quem da Abyara participou da reunião, mas Paulo Nagem, em outros telefonemas, refere-se ao japonês. Na ocasião, a empresa era presidida por Celso Minoro Tokuda, que vendeu sua participação na companhia.
Três semanas antes do encontro na casa de Sarney, Nagem, identificado no relatório da PF como Paulinho, pediu a Fernando Sarney a recomendação para a Abyara na CEF.
A conversa, gravada pela PF, dá a entender que Roseana estava a par do assunto:
Paulinho: "Me desculpa tá te ligando aí, mas me ligaram lá de São Paulo apavorados lá da Abyara porque amanhã (...) o vice-presidente da CEF vai lá na Abyara com eles amanhã à tarde. Eles acharam que era segunda".
Fernando: "Sim, onde? Aqui em São Paulo? Estou em SP".
Paulinho: "Aí em São Paulo. Eu não quis dizer nada que você tava aí porque senão ele podia quer te ligar ou alguma coisa".
Fernando: "Eu estou indo embora daqui a pouquinho. Eu falo com o Fábio [Lenza]. Não tem problema nenhum".
Paulinho: "Eu só queria uma recomendação porque naquele almoço daqui de casa, eles conversando com a Roseana, a Roseana disse que..."
Fernando: "Na hora, mas quem tá indo lá? É ele que tá indo lá?"
Paulinho: "É o Jorge Hereda".
Fernando: "Esse que é o vice-presidente?"
Paulinho: "Esse que é o vice-presidente da CEF".
Fernando: "Porque o Fábio também é vice-presidente".
Paulinho: "Ah é?"
Fernando: "São cinco ou seis".
Paulinho: "Ah".
Fernando: "Muito bem, esse cara vai amanhã".
Paulinho: "Lá na Abyara falar com o japonês e se tiver uma recomendação..."
Fernando: "Como é o nome do japonês?"
Paulinho: "Humm"
Fernando: "Deixa pra lá. Mas que tipo de recomendação eles querem?"
Paulinho: "Rapaz, ele só falou recomendação. Assim algum negócio de financiamento grande com a CEF. Acho que é alguma coisa muito grande".
Fernando: "Certo".


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