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Casa de Sarney serviu para reunião de lobby
Encontro entre grupo empresarial Abyara e vice-presidente da Caixa, em março de 2008, foi intermediado por Fernando Sarney
Empresa queria empréstimo de R$ 750 milhões do banco e até assinou um protocolo de intenções, mas operação foi abortada pela crise financeira
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
A casa do senador José Sarney, em Brasília, serviu de ponto de encontro para aproximar
o grupo empresarial Abyara, de
São Paulo, com Fábio Lenza, vice-presidente da Caixa Econômica Federal, em março do ano
passado.
A empresa queria um empréstimo de R$ 750 milhões da
CEF para financiar empreendimentos imobiliários e pediu
ajuda de Fernando Sarney, filho do senador, para contato direto com a direção da Caixa.
A Abyara chegou a assinar
um protocolo de intenções para o empréstimo, mas a operação não se realizou, em razão da
crise do mercado financeiro.
Fábio Lenza foi nomeado para a vice-presidência da Caixa
por influência de Sarney. A irmã dele, Olga Lenza, é chefe de
gabinete da governadora Roseana Sarney, no Maranhão.
O local para o encontro foi indicado por Fernando Sarney,
segundo telefonemas gravados
pela Polícia Federal no dia 5 de
março de 2008, durante a Operação Boi Barrica, que investigou o filho do senador.
O encontro ocorreu no início
da noite. Às 18h46, Fernando
Sarney falou pelo celular com
Paulo Nagem -um empresário
de São Luís, de quem é amigo-,
que acompanhou o pessoal da
Abyara na viagem a Brasília e
passou o endereço da reunião.
Depois, ele ligou para o celular de Fábio Lenza, informando
que o pessoal estava a caminho
da casa de seu pai. Lenza disse
que seguiria para lá.
Alguns telefonemas foram
resumidos e outros transcritos
em relatório da PF de 2008 no
qual Fernando é acusado de
tráfico de influência em órgãos
públicos e estatais para favorecer negócios privados. Na quarta-feira, a PF indiciou o empresário sob acusação de quatro
crimes. O relatório cita o episódio da Abyara como exemplo de
tráfico de influência.
Personagens
A PF não identifica quem da
Abyara participou da reunião,
mas Paulo Nagem, em outros
telefonemas, refere-se ao japonês. Na ocasião, a empresa era
presidida por Celso Minoro Tokuda, que vendeu sua participação na companhia.
Três semanas antes do encontro na casa de Sarney, Nagem, identificado no relatório
da PF como Paulinho, pediu a
Fernando Sarney a recomendação para a Abyara na CEF.
A conversa, gravada pela PF,
dá a entender que Roseana estava a par do assunto:
Paulinho: "Me desculpa tá te
ligando aí, mas me ligaram lá de
São Paulo apavorados lá da Abyara porque amanhã (...) o vice-presidente da CEF vai lá na Abyara com eles amanhã à tarde.
Eles acharam que era segunda".
Fernando: "Sim, onde? Aqui
em São Paulo? Estou em SP".
Paulinho: "Aí em São Paulo.
Eu não quis dizer nada que você
tava aí porque senão ele podia
quer te ligar ou alguma coisa".
Fernando: "Eu estou indo
embora daqui a pouquinho. Eu
falo com o Fábio [Lenza]. Não
tem problema nenhum".
Paulinho: "Eu só queria uma
recomendação porque naquele
almoço daqui de casa, eles conversando com a Roseana, a Roseana disse que..."
Fernando: "Na hora, mas
quem tá indo lá? É ele que tá indo lá?"
Paulinho: "É o Jorge Hereda".
Fernando: "Esse que é o vice-presidente?"
Paulinho: "Esse que é o vice-presidente da CEF".
Fernando: "Porque o Fábio
também é vice-presidente".
Paulinho: "Ah é?"
Fernando: "São cinco ou
seis".
Paulinho: "Ah".
Fernando: "Muito bem, esse
cara vai amanhã".
Paulinho: "Lá na Abyara falar
com o japonês e se tiver uma recomendação..."
Fernando: "Como é o nome
do japonês?"
Paulinho: "Humm"
Fernando: "Deixa pra lá. Mas
que tipo de recomendação eles
querem?"
Paulinho: "Rapaz, ele só falou
recomendação. Assim algum
negócio de financiamento
grande com a CEF. Acho que é
alguma coisa muito grande".
Fernando: "Certo".
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