São Paulo, domingo, 18 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DATAFOLHA

Entre eleitores de Ciro, 47% defendem acerto com o Fundo; percentual só é maior no eleitorado de Serra: 48%

40% apóiam o acordo do Brasil com FMI

ELIANE CANTANHÊDE
EM SÃO PAULO

Se os candidatos de oposição criticam o acordo do Brasil com o FMI (Fundo Monetário Internacional) para agradar os eleitores, podem estar cometendo um erro: 40% dos entrevistados pelo Datafolha em pesquisa realizada na quinta e na sexta são a favor do acordo. Dos demais, 35% declararam-se contra, 17% não souberam responder, e 7% se disseram indiferentes.
O "recado" do eleitorado vale sobretudo para Ciro Gomes, candidato da Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB), um dos mais reticentes no apoio ao acordo: 47% entre os seus potenciais eleitores defendem o acerto com o Fundo.
Esse percentual só é maior, e em apenas um ponto percentual, entre os que manifestam a intenção de votar no candidato do próprio governo, José Serra (PSDB). Destes, 48% são favoráveis às negociações.
No caso dos eleitores potenciais do petista Luiz Inácio Lula da Silva, há um empate: 39% são a favor, 39% são contra, enquanto 6% são indiferentes, e 15% não sabem. Entre quem disse que pretende votar em Anthony Garotinho (PSB), 35% são a favor do acordo, e 36%, contra.
A informação é relevante e oportuna, sobretudo porque os candidatos terão encontros isolados amanhã com o presidente Fernando Henrique Cardoso, no Palácio do Planalto, justamente para discutir o apoio ao acordo com o FMI e aos compromissos assumidos em contrapartida pelo Brasil. A maior parte deles deverá ser cumprida pelo próximo governo.
Por esse acordo, o país vai receber um total de US$ 30 bilhões do Fundo. Serão US$ 6 bilhões neste ano, ainda no governo FHC, e os restantes US$ 24 bilhões em 2003, primeiro ano do futuro governo.
FHC quer o compromisso de seus eventuais sucessores de que vão manter os termos do acordo, que incluem um superávit primário (receitas menos despesas, descontados os juros) de 3,75% do PIB (Produto Interno Bruto) no ano que vem.

Prejuízos e benefícios
Apesar de 40% dos entrevistados pelo Datafolha serem favoráveis ao acordo, 44% do total acham que ele trará mais prejuízos do que benefícios, 36% acham o contrário, 19% não sabem, e 2% deram "outras respostas".
Entre os eleitores dos candidatos de oposição, a maioria acha que o acerto trará mais prejuízos: 48% no caso do petista Lula, 46% no de Garotinho, e 44% no de Ciro Gomes.
É difícil identificar a origem da contradição, mas uma das suposições é a de que a maioria considera que o acordo tinha de ser feito, mesmo sabendo que poderá acarretar mais prejuízos do que benefícios ao país. Algo como "o mal necessário".
Só entre os eleitores de Serra a maioria (47%) considera que haverá mais benefícios do que prejuízos, o que é coerente com o discurso do candidato governista -ele foi o primeiro e é até agora o mais incisivo a defender a negociação do Brasil com o FMI. Dos seus eleitores, apenas 33% acham que haverá mais prejuízos.
Como resultado, a percepção da maioria dos eleitores é de que Serra será o maior beneficiado politicamente pelo acordo do FMI. Foi o que responderam 31% dos entrevistados, enquanto 9% acham que será Lula, outros 9%, Ciro, e apenas 4%, Garotinho.
Entre os que consideram Serra o maior beneficiário, destacam-se sobretudo os próprios eleitores do PSDB: 50% deles acham que é esse o caso, enquanto 7% disseram, curiosamente, que seria o petista Lula.
No PT, 40% acham que Serra é o beneficiado, enquanto 13% acham que seria o próprio Lula -o que é igualmente curioso, porque o partido é de esquerda e tem mantido ao longo dos anos um discurso de crítica, pelo menos, ao FMI e às suas receitas de ajuste fiscal.
No PDT, partido de cunho nacionalista que apóia Ciro, 46% apontaram Serra como o principal beneficiado. Já no PFL, partido liberal que está dividido entre Serra e Ciro, 37%, também citaram o tucano. No PMDB, foi o caso de 29%.
Na pergunta inversa ("E qual destes candidatos à Presidência foi o maior prejudicado politicamente?"), o resultado também foi inverso: 24% apontaram Lula; 7%, Garotinho; 6%, Ciro Gomes; 4%, José Serra.

São Paulo
Dos três principais Estados, o que mais apóia o acordo é São Paulo, onde 44% dos entrevistados -mais do que a média nacional de 40%- declararam-se a favor, e 36%, contra. Em Minas, foram 38% a favor, e 33%, contra. No Rio, 30% são a favor, e 39%, contra.
Quanto maior a escolaridade, maior o índice de apoio ao acerto com o FMI: 50% entre os que têm nível superior, 42% entre quem tem segundo grau e 38% entre quem tem até o primeiro grau.
A pesquisa começa com uma revelação curiosa: um número grande de entrevistados, 48%, tomou conhecimento do acordo, e 29% se declararam "mais ou menos informados". Do total dos que sabiam do acordo, 85% têm curso superior, 57% têm segundo grau, e 37%, primeiro grau.


Texto Anterior: Só 14% sabem o número certo para votar
Próximo Texto: Plano Real tem sua avaliação mais baixa no ano
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.