São Paulo, domingo, 18 de agosto de 2002

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TRANSIÇÃO

Presidente acredita em debandada e novos problemas na economia de aliados caso tucano não se mostre competitivo

FHC dá prazo a Serra até início de setembro

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O final de semana de 7 de setembro é a data mais importante deste final de governo, segundo avaliação do próprio presidente Fernando Henrique Cardoso em conversas reservadas.
É quando ficará claro para FHC e políticos se o candidato do governo e o preferido do mercado, o tucano José Serra, terá sucesso no horário eleitoral de rádio e TV a ponto de mostrar chance concreta de passar ao segundo turno presidencial, apurou a Folha.
Para não deixar seu governo e a economia reféns do desempenho de Serra, FHC convidou os quatro principais candidatos para encontros separados amanhã, no Palácio do Planalto. O presidente deseja convencer os três oposicionistas -principalmente Ciro Gomes (PPS), o que mais assusta o mercado- a se comprometer a cumprir na íntegra o acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Não é tarefa fácil, mas FHC tem feito entendimentos de bastidor com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro para criar um fato positivo.

Plano B
Atualmente, Serra é o terceiro colocado nas pesquisas, atrás de Lula e Ciro. A propaganda na TV e no rádio começa depois de amanhã, 20 de agosto. Apesar da promessa de campanha propositiva, os tucanos atacarão Ciro.
Na avaliação do presidente e dos principais comandantes da campanha de Serra, entre a segunda e a terceira semanas do horário eleitoral, os políticos e o mercado financeiro projetarão o cenário definitivo para 6 de outubro, dia do primeiro turno.
Se até 7 de setembro, um sábado, Ciro e Lula continuarem a ser os favoritos, só um milagre evitará a debandada de aliados e nova alta do dólar, crê o presidente.
Nessa hipótese, a Folha apurou que FHC poderá antecipar suas opções no segundo turno, ainda que não as assuma publicamente antes de 6 de outubro. Hoje, elas seriam apenas duas:
1) Deixar claro que, sem Serra, apoiará Lula sob o argumento de que o petista se transformou na alternativa mais confiável. Em conversas reservadas, FHC tem dito que Ciro tem mais a ver com o presidente Jânio Quadros do que com Fernando Collor, ex-presidente que sofreu processo de impeachment em 92 a quem é frequentemente associado.
Ciro seria voluntarista, impetuoso, messiânico e com tendência a se confrontar com o Congresso, a sociedade civil e o empresariado. Já Lula, pensa o presidente, teria um projeto mais orgânico e coerente do que Ciro, além de maior tolerância democrática.
2) Se Ciro moderar sua posição em relação ao acordo com o FMI, ajudando o governo a acalmar o mercado, FHC pode adotar a neutralidade no segundo turno, alegando agir como magistrado.
O ex-governador do Ceará Tasso Jereissati, cacique tucano que lidera dissidência branca em relação a Serra, seria a ponte para trocar o "enquadramento" de Ciro por uma posição não hostil do governo no segundo turno.

TV e FMI
A análise pessimista de FHC não significa que ele tenha jogado a toalha. O presidente atua fortemente pela recuperação de Serra e aparecerá no primeiro programa de TV do tucano. Seu papel incluiu autocríticas e a tentativa de transferir para Serra a simpatia da parcela da opinião pública (cerca de 25%) que aprova sua gestão.
No entanto, FHC já se prepara para o cenário de ter de conviver com crise econômica aguda nos pouco mais de quatro meses que lhe restam e, ao mesmo tempo, evitar que o agravamento das dificuldades manche sua biografia ao final de dez anos de poder (dois como ministro mais influente do governo Itamar e oito na Presidência).
É nesse contexto que deve ser entendida a razão de o presidente convidar os quatro principais candidatos para reuniões com direito a foto e aperto de mão.

Disparada do dólar
FHC havia descartado a idéia do encontro com os presidenciáveis quando o acordo de US$ 30 bilhões com o FMI pareceu ter acalmado o mercado. Mas a nova disparada do dólar o fez rever o plano, preocupando-se mais com o governo do que com a campanha.
Serra era contra os encontros. Avalia que eles podem transmitir a idéia de que o governo já o dá como derrotado. Além de Lula e Ciro, FHC receberá o tucano e Anthony Garotinho (PSB).


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