São Paulo, terça-feira, 18 de agosto de 2009

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Lula desafia ex-secretária da Receita a mostrar sua agenda

Presidente diz não entender por que Lina não prova que reunião com Dilma aconteceu

Para petista, episódio será esclarecido hoje, durante depoimento da ex-chefe do fisco à CCJ; Lula deveria calar a boca sobre caso, diz Simon


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva desafiou a ex-secretária da Receita Federal Lina Vieira a mostrar sua agenda como forma de provar que se encontrou no final do ano passado a sós com a ministra Dilma Rousseff, na Casa Civil.
Segundo Lina, a ministra teria lhe pedido para concluir rapidamente uma investigação que o fisco fazia nas empresas da família de José Sarney (PMDB-AP). Dilma nega que o encontro tenha ocorrido.
"Qual a razão que essa secretária tinha para dizer que conversou com a Dilma e não mostrar a agenda? Dilma já disse que não tem agenda com ela. Só tem um jeito: abrir a mala em que ela levou a agenda e mostrar a agenda para todo mundo", disse o presidente.
Em entrevista à Folha, a ex-secretária da Receita deu detalhes da roupa de Dilma e do cafezinho que foi oferecido a ela, mas disse que não sabia precisar a data do encontro. Afirmou que não conseguiu encontrar as agendas nas quais estariam anotados o compromisso porque seus pertences estão embalados para a mudança para o Rio Grande do Norte. Lina Vieira ficou no cargo 11 meses.
O depoimento da ex-secretária está marcado para as 9h de hoje na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado. Lina chegou ontem pela manhã a Brasília e passou o dia confinada no hotel, reunida com pessoas próximas.
Ao ser questionado sobre a reunião, Lula estava em solenidade com o presidente do México, Felipe Calderón, e acompanhado de Dilma. Ele afirmou que seria "mais simples e mais fácil" se Lina mandasse a agenda para Brasília, evitando "gastar dinheiro, pagar passagem e ir ao Congresso".
Para ele, é de uma "pobreza muito grande" o tema estar na pauta da política brasileira, já que há assuntos mais importantes para serem discutidos, citando as relações com o México e a economia.
"Toda vez, neste país, que se começa a fazer Carnaval com coisas que não dão samba, as coisas vão ficando cada vez mais desacreditadas na opinião pública", disse Lula.
O presidente desconversou se houve ou não o encontro entre as duas. Deixou com Lina a responsabilidade de provar a realização da reunião. "Como eu não sei da vida das duas e não tenho propensão a ser mexeriqueiro, se as duas se encontraram, é só ver a agenda, e não precisa fazer um cenário de crise entre duas pessoas que conversaram, desnecessariamente", afirmou Lula.
A Folha fez ao Palácio do Planalto dois requerimentos para ter acesso aos dados. Em um, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência negou-se a fornecer a lista das placas dos automóveis que estiveram no Planalto em dezembro passado. No caso da agenda de Dilma, a reportagem quis saber se encontros fora da lista divulgada no site da Casa Civil ficam registrados em alguma outra planilha. O Planalto respondeu dizendo que a agenda cumprida da ministra é a mesma que está na internet.
Segundo Lula, amanhã [hoje] o assunto deverá ser esclarecido com o depoimento de Lina à CCJ do Senado. "Vocês amanhã [hoje] terão oportunidade de ver a agenda, a data, o horário, se elas se encontraram ou não, ou poderão não ver nada."

Reação
Ontem, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) reagiu às declarações do presidente.
"O Lula poderia calar a boca, está falando demais. Faz uns 15 dias que ele está sendo o maior adversário da Dilma. Foi ele quem mandou ela falar com o Sarney para que não renunciasse à Presidência do Senado e, se teve a conversa, foi ele quem mandou a Dilma pedir para a Lina parar a investigação", discursou o senador peemedebista no plenário do Senado.
Depois de responder sobre a eventual reunião entre Lina e Dilma, Lula almoçou no Itamaraty ao lado de Sarney.
(SIMONE IGLESIAS, ANDREZA MATAIS E ADRIANO CEOLIN)


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