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Sarney se defende, ataca jornal e dá recados
No plenário, senador acusa "O Estado de S. Paulo" de usar prática nazista contra ele e cita episódios envolvendo colegas tucanos
Publicação foi proibida pela Justiça de divulgar operação da PF que envolve filho de Sarney; Simon e Cristovam defendem jornal em discurso
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente do Senado, José
Sarney (PMDB-AP), foi ontem
ao plenário da Casa se defender
de novas acusações, mandou
recados para senadores da oposição e atacou o jornal "O Estado de S. Paulo".
O jornal publicou anteontem
reportagem afirmando que
uma empreiteira pagou para a
família Sarney dois imóveis em
área nobre de São Paulo.
"É com grande tristeza que
eu vejo o "Estado" hoje, depois
de uma decadência financeira
que o levou a terceirizar a sua
administração, terceirizar a sua
redação e terceirizar também a
sua consciência e a sua respeitabilidade", disse em discurso
improvisado de 14 minutos.
Sarney nega irregularidades
e afirma que um dos imóveis foi
comprado por ele em 1977, para
hospedar seus filhos, à época
estudantes universitários. Diz
que o outro foi adquirido por
um de seus filhos, o deputado
federal Zequinha Sarney (PV-MA). O deputado alega que está
pagando o imóvel parcelado à
empreiteira Aracati, dona do
apartamento, e mostrou declaração de seu Imposto de Renda.
A empresa Holdenn Construções também repudiou, em
nota, as acusações de favorecimento e afirmou que vendeu o
apartamento a Sarney Filho.
Para Sarney, o "Estado" hoje
é como "um tabloide londrino,
daqueles que buscam escândalos para vender". Comparou-o
também a "um velho de fraque
e de brincos".
A família do senador está no
meio de uma disputa judicial
com o jornal. Graças a uma
ação impetrada pelo empresário Fernando Sarney, o diário
está proibido de publicar reportagens sobre a Operação Boi
Barrica (rebatizada de Faktor),
da Polícia Federal, em que o
empresário foi investigado.
"Ele [o jornal] vem se empenhando numa campanha sistemática contra mim, ou adotando uma prática nazista, que era
aquela que adotavam de acabar
com as pessoas, denegrir a sua
honra, a sua dignidade."
O presidente do Senado disse
que era vítima de um processo
"kafkiano". Saiu do plenário e
não ouviu o discurso do senador Pedro Simon (PMDB-RS),
que defendeu o jornal: "Entendo sua mágoa, entendo seu pronunciamento, entendo o seu
sentimento, mas não posso
aceitar silenciosamente as
agressões feitas ao jornal".
"Estou aqui para me lembrar
do velho "Estadão", na época da
ditadura, na época do arbítrio,
na época da violência. Claro
que o presidente Sarney não se
lembra dessa época, pois estava
lá do lado do governo... A matéria é mentirosa? Tomara Deus
que seja! Mas e as outras matérias, que vêm se repetindo?"
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) também saiu em
defesa do jornal. "O "Estado" jamais esteve dentro do bloco
ideológico do qual eu me sinto
parte, mas não há dúvida que
ele lutou pela democracia. Não
acredito que um jornal daquele
porte, que não deixa de ser um
orgulho para este país, tenha
cometido alguma leviandade."
Fora da tribuna
Sarney preferiu fazer o discurso do plenário, dispensando
a tribuna. Pouco falou do mérito da acusação. Em um dos trechos em que isso ocorreu, disse
que a escritura de um apartamento ainda não foi passada
para Sarney Filho porque o
imóvel ainda não foi quitado.
Listou vários senadores que
pediram investigação contra
ele. Ao dizer que não devia satisfações ao Senado sobre sua
vida particular, lembrou recente denúncia da revista "Época",
de que Álvaro Dias (PSDB-PR)
não declarou R$ 6 milhões de
seu patrimônio à Justiça Eleitoral. "Alvaro Dias é obrigado a
dizer por que ele tem suas economias? Por que ele está construindo algumas casas?"
"Ele só citou como exemplo e
depois me telefonou para dizer
que não era para eu entender
de outra forma", disse Dias.
Sarney citou ainda Sérgio
Guerra (PSDB-PE), que levou
uma filha para os EUA com
despesas pagas pelo Senado,
como revelou a Folha. "Sei das
suas agruras no presente, também sujeito a muitos ataques."
Já o presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), Demóstenes Torres (DEM-GO), foi lembrado como uma
pessoa próxima. "A primeira
pessoa que ele [Demóstenes]
visitou ao ser eleito em Brasília
fui eu, isso me honra muito."
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