São Paulo, terça-feira, 18 de agosto de 2009

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Sarney se defende, ataca jornal e dá recados

No plenário, senador acusa "O Estado de S. Paulo" de usar prática nazista contra ele e cita episódios envolvendo colegas tucanos

Publicação foi proibida pela Justiça de divulgar operação da PF que envolve filho de Sarney; Simon e Cristovam defendem jornal em discurso


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foi ontem ao plenário da Casa se defender de novas acusações, mandou recados para senadores da oposição e atacou o jornal "O Estado de S. Paulo".
O jornal publicou anteontem reportagem afirmando que uma empreiteira pagou para a família Sarney dois imóveis em área nobre de São Paulo.
"É com grande tristeza que eu vejo o "Estado" hoje, depois de uma decadência financeira que o levou a terceirizar a sua administração, terceirizar a sua redação e terceirizar também a sua consciência e a sua respeitabilidade", disse em discurso improvisado de 14 minutos.
Sarney nega irregularidades e afirma que um dos imóveis foi comprado por ele em 1977, para hospedar seus filhos, à época estudantes universitários. Diz que o outro foi adquirido por um de seus filhos, o deputado federal Zequinha Sarney (PV-MA). O deputado alega que está pagando o imóvel parcelado à empreiteira Aracati, dona do apartamento, e mostrou declaração de seu Imposto de Renda.
A empresa Holdenn Construções também repudiou, em nota, as acusações de favorecimento e afirmou que vendeu o apartamento a Sarney Filho.
Para Sarney, o "Estado" hoje é como "um tabloide londrino, daqueles que buscam escândalos para vender". Comparou-o também a "um velho de fraque e de brincos".
A família do senador está no meio de uma disputa judicial com o jornal. Graças a uma ação impetrada pelo empresário Fernando Sarney, o diário está proibido de publicar reportagens sobre a Operação Boi Barrica (rebatizada de Faktor), da Polícia Federal, em que o empresário foi investigado.
"Ele [o jornal] vem se empenhando numa campanha sistemática contra mim, ou adotando uma prática nazista, que era aquela que adotavam de acabar com as pessoas, denegrir a sua honra, a sua dignidade."
O presidente do Senado disse que era vítima de um processo "kafkiano". Saiu do plenário e não ouviu o discurso do senador Pedro Simon (PMDB-RS), que defendeu o jornal: "Entendo sua mágoa, entendo seu pronunciamento, entendo o seu sentimento, mas não posso aceitar silenciosamente as agressões feitas ao jornal".
"Estou aqui para me lembrar do velho "Estadão", na época da ditadura, na época do arbítrio, na época da violência. Claro que o presidente Sarney não se lembra dessa época, pois estava lá do lado do governo... A matéria é mentirosa? Tomara Deus que seja! Mas e as outras matérias, que vêm se repetindo?"
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) também saiu em defesa do jornal. "O "Estado" jamais esteve dentro do bloco ideológico do qual eu me sinto parte, mas não há dúvida que ele lutou pela democracia. Não acredito que um jornal daquele porte, que não deixa de ser um orgulho para este país, tenha cometido alguma leviandade."

Fora da tribuna
Sarney preferiu fazer o discurso do plenário, dispensando a tribuna. Pouco falou do mérito da acusação. Em um dos trechos em que isso ocorreu, disse que a escritura de um apartamento ainda não foi passada para Sarney Filho porque o imóvel ainda não foi quitado.
Listou vários senadores que pediram investigação contra ele. Ao dizer que não devia satisfações ao Senado sobre sua vida particular, lembrou recente denúncia da revista "Época", de que Álvaro Dias (PSDB-PR) não declarou R$ 6 milhões de seu patrimônio à Justiça Eleitoral. "Alvaro Dias é obrigado a dizer por que ele tem suas economias? Por que ele está construindo algumas casas?"
"Ele só citou como exemplo e depois me telefonou para dizer que não era para eu entender de outra forma", disse Dias.
Sarney citou ainda Sérgio Guerra (PSDB-PE), que levou uma filha para os EUA com despesas pagas pelo Senado, como revelou a Folha. "Sei das suas agruras no presente, também sujeito a muitos ataques."
Já o presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), Demóstenes Torres (DEM-GO), foi lembrado como uma pessoa próxima. "A primeira pessoa que ele [Demóstenes] visitou ao ser eleito em Brasília fui eu, isso me honra muito."


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