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Ministério deu alvarás a doadora de fundação
A KKW, que tem como sócio oculto ex-senador aliado de Sarney, obteve 43 licenças para pesquisar bauxita e manganês
Mineração não está entre as atividades da empresa na Receita; Gilberto Miranda não foi localizado e a pasta diz não haver impedimento
ALAN GRIPP
HUDSON CORRÊA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Principal fonte de recursos
da Fundação José Sarney em
2007, a empresa KKW do Brasil, representante de uma "offshore" (firma no exterior) com
sede em paraíso fiscal, recebeu
do governo federal no ano seguinte (2008) autorização para
busca por jazidas minerais.
As licenças foram dadas por
órgão do Ministério de Minas e
Energia, pasta controlada por
aliados do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
No cadastro da KKW na Receita Federal, a mineração não
consta das atividades desenvolvidas pela empresa. Porém, ela
recebeu 43 alvarás de pesquisa
de bauxita e manganês em Mato Grosso e no Maranhão, berço político da família Sarney.
As licenças abrangem ao menos uma área de 72 mil hectares (o equivalente a cerca de 72
mil campos de futebol).
Como revelou a Folha no último sábado, a KKW tem como
sócio oculto o ex-senador Gilberto Miranda (do antigo PFL),
de quem Sarney foi padrinho
de casamento em 2007.
Apesar de ter capital social
de R$ 80 milhões, a empresa
não tem website nem sede própria. Seus telefones e endereços são os do escritório e da casa de Miranda, em São Paulo.
O ex-senador não foi localizado ontem para comentar as
licenças obtidas do DNPM
(Departamento Nacional de
Produção Mineral), vinculado
ao ministério.
Sexta-feira, depois de negar,
ele admitiu ter ligação com a
KKW. Disse já ter sido dono da
empresa que hoje, segundo ele,
está em nome de suas filhas.
No papel, as cotas da KKW
pertencem a duas "offshores",
artifício que garantiu até aqui o
anonimato dos reais proprietários. A primeira tem como endereço um prédio comercial
em Londres. A segunda é uma
empresa de papel, cujo endereço é uma caixa postal nas Ilhas
Virgens Britânicas, território
considerado internacionalmente como paraíso fiscal.
A empresa obteve alvarás para pesquisar bauxita e manganês. A primeira, usada na produção de alumínio, é matéria-prima para a produção de manufaturados. Já o manganês é
empregado na fabricação de
aço e na produção de medicamentos e fertilizantes. O Brasil
é grande exportador de ambos.
Procurado pela Folha, o
DNPM afirmou não haver impedimento para concessão de
alvará a empresa que não tenha
sede e seja representante no
Brasil de "offshores". O órgão
diz ainda que os 43 alvarás concedidos à KKW pelo diretor-geral do órgão, Miguel Antonio
Cedraz Nery, foram cedidos legalmente a outra empresa.
Gilberto Miranda foi senador duas vezes sem nenhum
voto (como suplente). Mantém
atuação nos bastidores. Em
2007, trabalhou para evitar a
cassação do então presidente
Renan Calheiros (PMDB-AL),
de quem é amigo. Hoje, atua
para manter Sarney no cargo.
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