São Paulo, terça-feira, 18 de agosto de 2009

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Promotoria diz não se "intimidar" pela Igreja Universal

Procurador-geral de Justiça divulga nota após programa da Record atacar promotor que fez denúncia contra Edir Macedo

A Igreja Universal pediu a abertura de uma sindicância contra os promotores que fizeram denúncia e vê elo entre um deles e a TV Globo


FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O procurador-geral de Justiça do Estado de São Paulo, Fernando Grella Vieira, divulgou ontem uma nota em que afirma que o Ministério Público Estadual "em hipótese alguma se deixará intimidar em razão de distorções dos fatos e das insinuações perpetradas por quem quer que seja".
A nota foi motivada pelo programa "Repórter Record", que foi ao ar no domingo e atacou Roberto Porto, um dos quatro promotores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) que fizeram a denúncia contra o bispo Edir Macedo, fundador da Iurd (Igreja Universal do Reino de Deus), e mais nove pessoas. A Justiça abriu ação criminal contra eles.
Já a Universal entrou ontem com pedido de abertura de sindicância contra os promotores responsáveis pela denúncia. "O pedido se baseia em sérias denúncias sobre a conduta de alguns promotores, veiculadas pela imprensa desde ontem", afirmou nota da igreja.
A Record questionou a isenção do promotor e afirmou que Porto foi punido por beneficiar a Globo. Segundo a TV, ele ficou afastado de novembro de 2003 a abril de 2004, por causa da divulgação de uma gravação do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, reclamando do Regime Disciplinar Diferenciado na penitenciária de Presidente Bernardes. A entrevista foi levada ao ar pela TV Globo.
A nota de Fernando Grella Vieira diz que a divulgação foi alvo de uma investigação. "Como nenhuma ilegalidade foi constatada, foi proposto o arquivamento do procedimento, o que foi homologado pelo Tribunal de Justiça, após reexame da matéria pelo desembargador Denser de Sá." A Record disse ainda que a juíza da 9ª Vara Criminal Patrícia Alvares Cruz teve um relacionamento com o promotor Porto. Mas ela não analisou a denúncia e não teve relação com o caso.
"A juíza Patrícia Alvarez Cruz, citada na reportagem, nunca atuou no processo criminal em questão que, conforme já explicado, é presidido pelo juiz dr. Gláucio Roberto Brittes", escreveu Vieira. O procurador-geral disse ainda que a denúncia foi distribuída para a vara da Justiça por sorteio eletrônico, o procedimento padrão nesses casos.

Superfaturamento
A Iurd disse ainda que, desde 2007, tenta comprar espaços na programação da Rede Globo e do SBT, como faz com a Record. Ontem, a igreja encaminhou para a Globo uma proposta de aquisição de espaço comercial de rádio e TV durante as madrugadas. O valor anual seria de R$ 545 milhões.
A Iurd não diz quanto paga para a Record pelo espaço que ocupa na madrugada. Uma das suspeitas levantadas na investigação foi a compra superfaturada de horários na Record, como forma de repassar dinheiro da igreja para a emissora. Cálculos feitos por um otimizador de mídia (software utilizado por agências de publicidade para planejar campanhas) revelam que a madrugada da Record valeria hoje no máximo R$ 60 milhões por ano.
Segundo o mesmo software, nem a madrugada da Globo, com cinco vezes mais audiência, valeria R$ 545 milhões -no máximo, R$ 240 milhões/ano.

Colaborou DANIEL CASTRO, colunista da Folha.



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